Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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A Praça dos Mártires é seu nome oficial, atualmente, mas, creio, a grande maioria das pessoas a conhece como Passeio Público. Ali, no Centro de Fortaleza, de frente à imensidão do mar e sua brisa, sob a sombra de árvores centenárias e bancos convidativos às conversas continua presente, resistindo, apesar dos pesares, e testemunhando a História do Ceará, segundo alguns estudiosos, a primeira praça da cidade.
Dentre seus nomes anteriores constam Campo da Pólvora, Largo da Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital de Caridade, Praça da Misericórdia e, a partir de 3 de abril de 1879, Praça dos Mártires.
Seu nome oficial deve-se a homenagem aos participantes, no Ceará, do movimento revolucionário da Confederação do Equador, fuzilados em 30 de abril de 1825, neste terreno. São eles: comerciante e pecuarista João Andrade Pessoa Anta, tenente-coronel Francisco Miguel Pereira Ibiapina, padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo Mororó, tenente de milícias Luís Inácio de Azevedo e o tenente-coronel Feliciano José da Silva Carapinima.
Com o impulso da economia cearense na segunda metade do século XIX, os hábitos provincianos começam afrancesar, o requinte e novas visões de mundo vão habitando terras alencarinas. A Praça dos Mártires sofreu, em 1864, uma urbanização que inseriu três planos (níveis) na sua estrutura. No mais alto nível ficava a elite, a grã-finagem; no nível intermediário a classe média e, na praça mais baixa as classes populares. Velada e escancaradamente uma Fortaleza apartada.
Em 1890 há uma reforma no espaço para estilo neoclássico, onde os dois níveis inferiores são eliminados. Mas, o apartamento das classes sociais continua. De frente ao mar foi batizada a Avenida Caio Prado, frequentada pela elite; a Carapinima, um pouco miscigenada, e a Mororó acolhendo a arraia miúda. Relatos contam que era implícito a divisão dos espaços, sem a necessidade de vigilância ou ingressos.
A historiografia registra que no final do século XIX ali aconteciam as primeiras partidas de futebol em solo cearense, composto por navegantes dos navios ancorados, ingleses da Companhia de Gás e cearenses da classe alta da cidade.
"De todo modo, o presente traz uma reocupação gradativa da praça, piqueniques com famílias e grupos de amigos, feiras literárias, apresentações artísticas, carnavais e a frequência no restaurante do lugar aos finais de semana."
Em 10 de agosto de 1933, no O POVO, a coluna de Adilia de Albuquerque Morais lamenta o abandono do Passeio Público, vaticinava a sina cearense: “Só rendemos culto á novidade!”. Também no O POVO, em 4 de agosto de 1956, Hélio Goes de Oliveira descreve a degradação do Passeio Público, a prostituição que se instala das 18h20min e 1h00min, com larápios e maconheiros nos degradantes restaurantes vizinhos.
Foi tombada por lei municipal e federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 13 de abril de 1965.
Pelos anos e décadas seguintes seguem relatos na imprensa do crescente esvaziamento do espaço, uma característica que aos poucos vai se assemelhando com as mudanças dos hábitos e públicos do bairro Centro.
A revitalização do Centro pelos poderes públicos, iniciativa privada e formadores de opinião, principalmente, aventada nas décadas de 1970 e 1980 passa a ter maior expressividade a partir dos anos 1990, começa-se a repensar alternativas do espaço urbano naquela região. Consta de 2007 a primeira grande reforma na Praça dos Mártires, conduzida pela Prefeitura de Fortaleza. As obras de restauro incluíram a recuperação dos monumentos, do gradil, dos bancos, das fontes, um novo projeto de iluminação e a recuperação do jardim. O quiosque da praça também foi recuperado e hoje abriga um restaurante. As administrações municipais seguintes, às vezes, com maior ou menor comprometimento com a cultura, vem apoiando uma acanhada manutenção do espaço.
De todo modo, o presente traz uma reocupação gradativa da praça, piqueniques com famílias e grupos de amigos, feiras literárias, apresentações artísticas, carnavais e a frequência no restaurante do lugar aos finais de semana. Aos poucos, a buliçosa e efervescente Praça dos Mártires segue ressignificando-se para as atuais e futuras gerações.
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