Logo O POVO+
Convocações patrióticas, a manipulação da popularidade
Foto de Sérgio Falcão
clique para exibir bio do colunista

Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Convocações patrióticas, a manipulação da popularidade

A condução da vontade popular é elemento de desejo dos governantes, embora eleitos, democraticamente, e com amplos poderes legais, almejam o poder absoluto. O impeachment de Fernando Collor, em 1992, nos proporciona a análise de uma vertente da política brasileira e a mobilização da juventude
Tipo Análise
Manifestação de estudantes no
Foto: Manuel Cunha/O POVO em 26/08/1992 Manifestação de estudantes no "Fora Collor", em Fortaleza

Fernando Collor de Mello foi eleito presidente da República do Brasil em 1989, na primeira eleição direta à Presidência após 21 anos de ditadura militar (1964-1985), sua meteórica projeção nacional e sucesso eleitoral fora construída no combate à corrupção a partir do inexpressivo PRN. O mito do sebastianismo adesivado ao “caçador de marajás” atraía interesses em um Brasil assolado por descontrole inflacionário do Governo Sarney.

O início do seu governo foi marcado com o lançamento do Plano Collor, pacote econômico chamado Brasil Novo que previa demissão de 81 mil funcionários públicos, aumento das tarifas dos serviços públicos, congelamento de preços e salários por 45 dias, troca de moeda, criação de imposto sobre transações financeiras e bloqueio de cadernetas de poupança e aplicações financeiras que ultrapassassem C$ 50 mil.

Outra marca característica do período Collor como presidente foi a tentativa de construir uma imagem de presidente-atleta, aos finais de semana, lá estava promovendo corrida ou passeando de jet ski no lago Paranoá.

Em maio de 1992, a “República das Alagoas” começou a ruir, o irmão do presidente, Pedro Collor de Mello, denuncia Collor via imprensa. Dentre as acusações, enriquecimento ilícito, tráfico de influência e corrupção comandados por Paulo César Farias, PC Farias, tesoureiro da vitoriosa campanha presidencial.

 

"A História brasileira é pródiga em governantes que no pretenso domínio da popularidade tentam arregimentar “corações patrióticos” que o sustentem ou ampliem seus poderes. " Sérgio Falcão, historiador

 

Desemprego, inflação e denúncias de corrupção no Palácio do Planalto foram combustíveis para entidades como, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Central Única do Trabalhadores (CUT), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e União Nacional dos Estudantes (UNE) lançarem o “Movimento pela Ética na Política”.

O escândalo, na época, fez criar em junho no Congresso Nacional a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para analisar as denúncias e ouvir os envolvidos.

O engajamento popular principiou pelos estudantes, a partir de maio. Mas, começa a ganhar força em agosto, caracterizando-se pelo apartidarismo e juventude dos manifestantes.

Em 13 de agosto, com a pressão política aumentando, Fernando Collor faz pronunciamento à Nação, convoca a população que saísse no domingo seguinte de verde-amarelo como demonstração de apoio. A resposta das ruas foi bem diferente do que o presidente desejava, jovens saíram às ruas, mas vestidos de preto e com os rostos pintados. Ali se firmava o movimento dos “caras-pintadas”. Centenas de milhares de pessoas, principalmente, jovens, cobraram o impeachment de Collor.

 

" Getúlio Vargas construiu o “medo comunista” para implantar o Estado Novo, tema da coluna da semana passada. Em 25 de agosto deste ano completou 60 anos da renúncia de Jânio Quadros.<br><br>"

 

A Câmara dos Deputados, em 29 de setembro, aprova o impedimento e, em 29 de dezembro de 1992, Fernando Collor tenta renunciar ante a iminente derrota no Senado Federal que consolidaria seu afastamento. A tentativa de preservar, ao menos, os direitos políticos não foi suficiente, o Senado realizou o julgamento e, além de confirmar o impeachment, por oito anos ficou inelegível.

A História brasileira é pródiga em governantes que no pretenso domínio da popularidade tentam arregimentar “corações patrióticos” que o sustentem ou ampliem seus poderes. Getúlio Vargas construiu o “medo comunista” para implantar o Estado Novo, tema da coluna da semana passada. Em 25 de agosto deste ano completou 60 anos da renúncia de Jânio Quadros, personagem contraditório cujo último ato presidencial, analisa-se, como estratégia de manobra popular que acabou não vingando.

 

Foto do Sérgio Falcão

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?