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Barão do Rio Branco: boemia e quase unanimidade
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Barão do Rio Branco: boemia e quase unanimidade

Em tempos de guerra Rússia x Ucrânia, o mundo espera acreditar que a diplomacia seja efetiva nas negociações de paz contra os ímpetos beligerantes e a sempre desnecessária perda de vidas. Vamos resgatar a singular história do patrono da diplomacia brasileira, cuja trajetória perpassa o colapso do Império e ascensão da República no Brasil
Tipo Análise
José Maria da Silva Paranhos Júnior Barão do Rio Branco, um guardião designado (Foto: Ministro das Relações Exteriores)
Foto: Ministro das Relações Exteriores José Maria da Silva Paranhos Júnior Barão do Rio Branco, um guardião designado

José Maria da Silva Paranhos Júnior ou Juca Paranhos, é mais conhecido do grande público como Barão do Rio Branco. Sua imagem faz parte do imaginário brasileiro como referencial da diplomacia brasileira. Para ter uma noção da amplidão das homenagens que extrapolaram o tempo, vamos destacar as principais. A data do seu nascimento, 20 de abril, é o Dia do Diplomata. O Instituto Rio Branco, órgão formativo dos novos diplomatas do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), foi inaugurado em 1945 como parte das comemorações do centenário de nascimento do Barão. Dentre outras homenagens ao seu legado, logradouros, escolas, faculdades espalhadas pelo Brasil e a capital do Estado do Acre levam seu nome. Cédula (Cr$ 1000) e moeda (R$ 0,50) trazem sua imagem.

A carreira de Juca Paranhos teve na figura paterna o condutor do destino, profissional. De origem humilde, o Visconde do Rio Branco ascendeu no Império através da carreira militar e política. Via no destino do filho a consolidação dos esforços da família de firmar-se na alta sociedade.

Formado em Direito pelas Faculdades de São Paulo e Recife, ocupou interinamente a cadeira de Corografia e História do Brasil no Colégio Pedro II, nomeado promotor na comarca de Nova Friburgo (RJ) e, sem sequer pisar na província, eleito em 1869 deputado geral pelo Partido Conservador representando Mato Grosso (somente nas eleições do segundo mandato conhece a região).

Os primeiros contatos com a diplomacia acontecem, em 1869, ao ser nomeado secretário particular do pai na missão diplomática relativa ao término da Guerra do Paraguai. Nos anos seguintes participou das negociações de paz entre os aliados (Brasil, Argentina, Uruguai) e o Paraguai para consolidar o fim do conflito.

Na Corte, a vida boêmia não passara despercebida. Frequentava o Alcazar Lyrique du Père Arnaud, uma das mais famosas e polêmicas casas de espetáculos do Rio, envolvendo-se com a cantora e atriz belga Marie Philomène Stevens. Os pais de Paranhos Júnior desejavam o filho casado com uma pessoa de família rica e nobre. À contragosto da família, a relação prosperou. Filhos foram cinco, o casamento tardio em 1889 veio após 17 anos de relacionamento.

A definitiva inserção na diplomacia começou a deslanchar quando nomeado, em 1876, cônsul-geral do Brasil em Liverpool (ING). Cidade portuária, recebia a maior parte das exportações brasileiras, as funções consistiam em fiscalizar e cobrar impostos dos navios que chegavam e partiam com destino ao Brasil.

Representou o País na Exposição Universal de São Petersburgo (RUS), tinha o objetivo de promover o café brasileiro. Por sua atuação, em 1884, recebeu o título de conselheiro de sua Majestade. Com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, recebeu o título de Barão do Rio Branco em deferência do imperador ao filho do autor da Lei do Ventre Livre.

A projeção nacional e internacional do Barão do Rio Branco está associada a três disputas territoriais do Brasil. São eles:

Questão de Palmas

Brasil e Argentina disputavam a posse da região oeste dos Estados do Paraná e Santa Catarina. Com o falecimento do Barão Aguiar de Andrade, o presidente Floriano Peixoto destaca Barão do Rio Branco, em 1893, na defesa dos interesses brasileiros. Cercado de um exército de especialistas conseguiu recuperar documentos e mapas na Espanha e França que embasassem a defesa brasileira, a ser decidida com a arbitragem do presidente norte-americano Grover Cleveland.

A defesa brasileira foi reunida em seis volumes entregue em fevereiro de 1894. Barão do Rio Branco permanece em Washington até a sentença final no ano seguinte, contratando o consultor jurídico norte-americano John Bassett Moore para abrir espaço e acesso a membros da arbitragem americana.

A vitória brasileira no laudo arbitral de 5 de fevereiro de 1895 transforma o Barão do Rio Branco em herói nacional. A jovem República vivia graves crises, econômica, Revolta da Armada, Revolução Federalista. O sucesso brasileiro na disputa era consenso entre os adversários internos.

Questão do Amapá

As fronteiras do Amapá e Guiana Francesa colocaram Brasil e França na disputa, em 1898, sob a arbitragem suíça do presidente Walter Hauser. A defesa brasileira foi apresentada em sete volumes, constando mapas e documentos pesquisados na Inglaterra, França e Espanha. Dentre as estratégias brasileiras contratou-se o naturalista suíço Emílio Goeldi, estabelecido no Pará, para assessorar os conselheiros suíços, tirando dúvidas e repassando impressões negativas.

Em dezembro de 1900 a sentença arbitral favorece o Brasil, Rio Branco é nomeado no final do mês ministro plenipotenciário na cidade de Berlim (ALE). Regressa ao Brasil em 1902 após aceitar convite do presidente Rodrigues Alves para assumir como ministro das Relações Exteriores.

Questão do Acre

A região pertencia a Bolívia, havia intenção de arrendá-la à companhia de capital norte-americano e britânico. Porém, vivia-se o ciclo da borracha e brasileiros ocupavam vastos seringais naquele local. Os conflitos entre bolivianos e brasileiros desembocaram na disputa territorial.

A disputa foi resolvida na assinatura do Tratado de Petrópolis, em 1903, entre o Brasil e a Bolívia. Pelo acordo o Brasil ficaria com o Acre mediante ceder parte do território do Mato Grosso, pagamento de dois milhões de libras esterlinas e construção da ferrovia Madeira-Mamoré.

O Brasil também disputava a região do Acre com o Peru, efetivamente resolvida cinco anos após o Tratado de Petrópolis. Secretamente, o Barão do Rio Branco costurou um tratado militar com o Equador que não havendo solução diplomática ambos países atacariam o Peru.

O gasto com a questão do Acre recebeu intensa e dura crítica no meio político e imprensa, Rio Branco teve seu poder ameaçado. Na imprensa, se defendia assinando artigos com pseudônimos, entre eles: Nemo, Kent, Ferdinand Hex, Bernardo de Faria, J. Penn, Brasilicus, J. Reporter.

Derrotas no campo diplomático houveram, como a questão da Guiana Inglesa arbitrada pelo rei da Itália Vittorio Emanuele, contra o Brasil.

O Barão do Rio Branco lançou as bases da nova política internacional brasileira, voltada ao pan-americanismo. Articulou, em 1905, que o Brasil fosse o primeiro país sul-americano a criar uma embaixada em Washington, percebendo a crescente relevância norte-americana no cenário internacional. Habilidoso negociador, foi responsável por anexar pacificamente ao Brasil mais de 900 mil quilômetros quadrados.

Com a saúde debilitada por problemas renais falece, no Rio de Janeiro, a 10 de fevereiro de 1912, aos 66 anos. Foi ministro das Relações Exteriores nos governos Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914).

A morte acontece uma semana antes do Carnaval, o então presidente Hermes da Fonseca informa que a festa seria adiada para abril. Apesar da desistência de alguns blocos carnavalescos por respeito ao Barão, a população celebra a festa. Repetindo-a em abril.

Foto do Sérgio Falcão

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