Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Quando começou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil vivia na ditadura do Estado Novo desde 1937, a fase autoritária de Getúlio Vargas desde que ascendeu ao poder com a Revolução de 1930. Na disputa mundial entre as forças Aliados (liderados por Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética) e as forças do Eixo (Alemanha, Itália, Japão), o Brasil mantinha aparente neutralidade, fazia o jogo de interesses buscando vantagens apesar da preferência dos principais ministros pró-Eixo.
Mesmo antes de entrar na guerra, os Estados Unidos analisavam a necessidade de fortalecer a unidade do continente americano para evitar futuras zonas de influência fascista, criaram a “política da boa vizinhança” para aproximar os países da América Latina ao pensamento norte-americano.
O continente americano era vigiado por submarinos do Eixo quanto ao fornecimento de equipamentos e matéria-prima às forças aliadas, afundando embarcações e colocando em tensão o deslocamento pelo Atlântico. As embarcações brasileiras são afundadas a partir de 28 de janeiro de 1942, quando o Brasil rompe as relações diplomáticas com as forças do Eixo na Terceira Reunião de Consulta dos Chanceleres, realizada no Rio de Janeiro, em virtude do ataque a base norte-americana de Pearl Harbor e alinhamento com os países da América.
Foram afundados, no total, 36 navios mercantes brasileiros, causando 1.691 náufragos e 1.074 mortos. Os corpos inchados aparecendo nas praias brasileiras e a divulgação na imprensa causaram comoção nacional. Os apelos da sociedade pressionaram o governo a declarar em 22 de agosto de 1942 o estado de beligerância e, em 31 de agosto foi declarado estado de guerra contra Alemanha e Itália. O Brasil só veio a declarar guerra ao Japão em 5 de junho de 1945.
O Brasil tinha a economia baseada nas commodities e parcela da população analfabeta. O Exército, obsoleto, baseava as táticas militares na escola francesa. A Segunda Guerra exigia forças equipadas e modernas. O jogo duplo de Vargas passou a negociar com os Estados Unidos a entrada do Brasil na guerra com o treinamento dos militares, fornecimento de equipamentos, empréstimos e apoio para criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
O lado brasileiro forneceria borracha, surgindo daí os soldados da borracha enviados à região Norte, produtos agrícolas e autorização para instalação de bases militares norte-americanas nas regiões Norte e Nordeste. A África era um dos principais locais de combate na guerra e, geograficamente, o Nordeste era a menor distância no que chamaram “Cinturão do Atlântico” para fornecer apoio às tropas.
As vitórias aliadas na África em novembro de 1942 diminuíram a importância estratégica do Nordeste brasileiro e presença militar do Brasil no conflito. Em janeiro de 1943, Vargas reforçou na visita do presidente norte-americano Franklin Roosevelt, em Natal (RN), o interesse de participar do conflito, mediante apoio.
A defasagem militar brasileira e fragilidade econômica do País retardaram a presença brasileira no cenário de conflito. Somente em 9 de agosto de 1943 a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi criada, na época, dizia-se que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Tornou-se símbolo da FEB, representado na imagem da coluna, a cobra fumando.
A vida brasileira mudou com a entrada do País na guerra, racionamento de alimentos, energia elétrica e combustível passaram a fazer parte do dia a dia. Imigrantes da Alemanha, Japão e Itália e seus descendeste passaram a ser vigiados, perseguidos e presos, assim como as associações, jornais, entidades e empresas dirigidas ou de sua propriedade.
A FEB foi composta por 25.445 homens, chamados pracinhas – vinha de praça, soldado raso -, quatro generais e 1.535 oficiais. Para participar do conflito foi criada a Força Aérea Brasileira (FAB), com o lema “Senta a Púa” levou 374 militares, divididos em quatro esquadrilhas. Some-se a presença feminina com 67 enfermeiras na estrutura de apoio aos pracinhas.
O Reino Unido procurou vetar a participação brasileira temendo tornar-se uma força dominante na América do Sul. O Brasil foi o único país sul-americano a participar da Segunda Guerra. O comando da FEB foi dado ao general Mascarenhas de Morais, auxiliado pelos generais Zenóbio da Costa, Osvaldo Cordeiro de Farias e Olímpio Falconière da Cunha. A FAB foi comandada pelo major-aviador Nero Moura.
As tropas brasileiras foram divididas em cinco grupos com destino ao Norte da Itália em datas diferentes de desembarque em Nápoles: 16 de julho; 6 de outubro; 7 de dezembro de 1944 e 22 de fevereiro de 1945.
Incorporado ao V Exército americano, após a chegada receberam o equipamento bélico e treinamento para entrar em combate. Dentre as adaptações iniciais tratou-se de contratar civis italianos para confeccionarem roupas de frio para a tropa, cujo fardamento entregue no Brasil era de brim e lã, e assemelhava-se a farda alemã, sendo diversos pracinhas, por isso, apedrejados em Nápoles.
Fome da população e cidades destruídas marcaram a lembrança dos soldados brasileiros.
Destaco três pontos altos da campanha da FEB: a conquista de Monte Castelo; rendição da divisão 148, refletindo em 14.799 prisioneiros; vitória na sangrenta batalha de Montese. Foram 239 dias de combate a participação da FEB, excluindo os mutilados nos combates e os que morreram em virtude dos ferimentos após o fim da guerra, foram 454 mortes no Exército e cinco pilotos.
Em 8 de maio de 1945 chega ao fim o conflito na Europa da Segunda Guerra Mundial, continuará até agosto no Pacífico. O Brasil recusou o convite do comando aliado de integrar as forças de ocupação da Áustria, o desmonte da FEB já iniciava em solo europeu, após rápidas e intensas festividades no desembarque em território brasileiro os pracinhas foram esquecidos, largados à própria sorte.
Lutar no estrangeiro contra forças autoritárias era um contraditório quando o próprio País mantinha a ditadura de Vargas, com o presidente fragilizado e crescente apoio da população aos militares Getúlio foi apeado do poder no final de 1945.
Em 1960, os restos mortais dos soldados brasileiros enterrados no cemitério de Pistoia (ITA) foram transladados e enterrados no Monumento Nacional dos Mortos na Segunda Guerra Mundial, localizado no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. No País, foram identificados 192 monumentos dedicados à FEB.
O Estado brasileiro, através da Constituinte de 1988, passou a oferecer uma pensão aos veteranos sobreviventes da Segunda Guerra, não diferenciando quem serviu na Europa ou ficou no Brasil, o valor seria referente a pensão deixada por um segundo-tenente.
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