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Revolução de 1817: Nordeste republicano
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Revolução de 1817: Nordeste republicano

Revolução de 1817, Revolução dos Padres ou Revolução Pernambucana são os nomes pelo qual é conhecido o movimento republicano e iluminista que confrontou o absolutismo da Corte portuguesa no começo do século XIX, recém-transferida ao Brasil. A contestação do movimento nordestino exemplifica o espírito libertário que permeia a História do Brasil
Tipo Análise
Bandeira da Revolução de 1817, Revolução Pernambucana ou Revolução dos Padres. Foi modelo à atual bandeira de Pernambuco. (Foto: Acervo público)
Foto: Acervo público Bandeira da Revolução de 1817, Revolução Pernambucana ou Revolução dos Padres. Foi modelo à atual bandeira de Pernambuco.

A fuga da família real portuguesa de Portugal em decorrência da invasão das tropas napoleônicas, em 1808, sobre seu território trouxe benefícios e ônus com sua transferência e permanência em terras brasileiras. Nesta coluna vamos buscar reflexão sob o prisma do impacto dessas mudanças em terras nordestinas.

No começo do século XIX eclodiam pela América do Sul diversos movimentos de independência dos países coloniais em relação às metrópoles europeias, sob inspiração das ideias iluministas, da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos. A colônia brasileira cultivava insatisfação em relação à metrópole de longo tempo, a Inconfidência Mineira foi desses movimentos disruptivos, mas, o avançar contestatório e separatista cresce em proporção e ações reais quando a vinda da Corte se reflete no aumento dos impostos e crescente domínio dos portugueses na administração pública. Pernambuco era uma das mais ricas províncias, viu-se desprestigiada com a migração dos recursos e domínio do Rio de Janeiro. Para completar, uma grande seca atingiu a região em 1816 afetando a produção de algodão e açúcar, acentuando a fome e a miséria na região, cujos produtos já vinham sofrendo concorrência do algodão dos Estados Unidos e açúcar da Jamaica.

A Sociedade Secreta Areópago de Itambé, primeira loja maçônica do Brasil, e, o Seminário de Olinda, foram os centros divulgadores e congregadores das ideias iluministas em terras pernambucanas.

A revolução inicia em 6 de março de 1817 no Recife, liderado por Domingos José Martins e pelo padre João Ribeiro, com apoio de Domingos Teotônio Jorge, Vigário Tenório, José Luís Mendonça, Frei Caneca, Antônio Carlos de Andrada, dentre outros. Após a rendição do governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, os revoltosos instalam o governo provisório e proclamam a República.

Dentre os atos do movimento encontra-se a convocação de Assembleia Constituinte, com representantes eleitos pelas comarcas. Outras medidas foram: separação entre os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo; liberdade de culto, mantendo o catolicismo como religião oficial; liberdade de imprensa; eliminação de alguns impostos. Quanto à escravidão, defendida pelos iluministas europeus, manteve-se presente na Revolução Pernambucana por ser formada por donos de engenho e fazendas que sustentavam-se pela mão de obra escrava.

Como estratégia de ampliação, garantia e consolidação foram enviados representantes às demais províncias para adesão ao movimento local. Ao contrário das demais províncias a acolhida foi positiva na Paraíba e Rio Grande do Norte (as três estrelas da bandeira do movimento representam as três províncias).

A repressão foi impiedosa, oito mil homens das tropas portuguesas invadiram Pernambuco e a força naval enviada do Rio de Janeiro bloqueou o porto de Recife. A rendição veio após 75 dias da Revolução de 1817 em 20 de maio. Trezentos revoltosos morreram em combate, cem foram degredados, catorze foram executados por enforcamento ou fuzilamento com seus corpos esquartejados e expostos nas vias públicas.

Alagoas, até então comarca de Pernambuco, cujos proprietários rurais mantiveram-se fiéis à Corte, foi recompensada com a autonomia.

A Confederação do Equador, de 1824, é o desdobramento da Revolução de 1817, com a participação de diversos integrantes do primeiro movimento. Para saber mais sobre a Confederação do Equador, convido o(a) leitor(a) à leitura da coluna Confederação do Equador: Nordeste independente, publicada em 28.09.21.

Revolução de 1817 no Ceará

A participação do Ceará na Revolução de 1817 restringiu-se à região do Cariri, especificamente na cidade do Crato e na vila de Jardim, sob a liderança e atuação da tradicional família Alencar. A República do Crato foi deflagrada, em 3 de maio daquele ano, pelo diácono José Martiniano de Alencar com apoio da mãe Bárbara de Alencar, dos irmãos Tristão Gonçalves de Alencar, João Gonçalves de Alencar e Carlos José de Alencar e do tio Leonel de Alencar.

A experiência republicana em terras cearenses durou oito dias, sem conseguir arregimentar novas lideranças em outras regiões e o engajamento da população, foram presos pelo capitão-mor José Pereira Filgueiras. A família Alencar foi presa e teve os bens confiscados, foram transportados para Fortaleza, posteriormente Recife e, finalmente, Salvador.

Bárbara de Alencar é considerada por muitos a primeira presa política do Brasil por sua atuação nos movimentos de 1817 e 1824. Em 22 de dezembro de 2014, através da lei 13.056, seu nome foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que localiza-se no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes.

Para conhecer mais sobre Bárbara de Alencar sugiro a leitura do livro “Bárbara de Alencar”, das Edições Demócrito Rocha.

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