
Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Os Sertões. Euclides da Cunha.
A guerra de Canudos é um dos acontecimentos históricos que mais representam os abismos sociais e tragédias que permeiam os constantes conflitos da sociedade brasileira. O arraial de Canudos possuía aproximadamente 25 mil pessoas, no seu fim, foi dizimado pelas forças militares do Estado brasileiro, parte dos sobreviventes foi degolada e, cerca de 200 mulheres e crianças foram vendidos por oficiais do Exército para “coronéis do sertão” e prostíbulos.
Para entendermos o desdobramento final, cabe conhecermos a trajetória do idealizador do movimento religioso. Antônio Conselheiro nasceu em Quixeramobim, Ceará, em 13 de março de 1830, como Antônio Vicente Mendes Maciel, dentro de uma família de comerciantes. Teve acesso aos estudos e, após a morte do pai, assumiu os negócios da família aos 27 anos, e casando-se com uma prima. Após a falência dos negócios foi professor e exerceu funções jurídicas em Campo Grande e Ipu. Nesta última cidade a esposa foge com sargento da força pública para Sobral.
Passa a vagar pelo sertão nordestino reformando cemitérios e igrejas, em 1865 liga-se por pouco tempo a Joana Imaginária, escultora de imagens em barro e madeira, com quem tem um filho. Em 1876 é preso na Bahia e enviado ao Ceará sob a acusação de ter assassinado mãe e esposa em Quixeramobim, quando inocentado e libertado faz promessa de construir 25 igrejas pelo sertão.
As andanças trouxeram outros nomes para Antônio Conselheiro, também ficou conhecido como “o homem que dava conselhos”, “Antônio dos Mares”, “Peregrino”, “Peregrino “bom Jesus””. Em 1882 é proibido de fazer sermões nas igrejas baianas pelo arcebispo dom Luís Antônio dos Santos, sob a justificativa que não é sacerdote ordenado pela Igreja Católica.
Nas décadas de 1870 e 1880 assolam grandes secas no Nordeste, produzindo milhares de mortes e retirantes que, gradativamente, faz aumentar os seguidores de Antônio Conselheiro que resolve se fixar em 1883 na fazenda Canudos, nas proximidades do rio Vaza-Barris e fundar o arraial de Belo Monte.
"Outros desagravos que estimularam a animosidade contra Conselheiro e Canudos deve-se a ser contrário à cobrança ostensiva dos impostos, permissão do casamento civil, separação entre Igreja e Estado, eleição dos presidentes de província sem a legitimação da Igreja"
O arraial foi crescendo e incomodando as forças da Igreja Católica e latifundiários da região, porque atraía levas crescentes de retirantes, trabalhadores rurais, ex-jagunços e ex-cangaceiros que lá praticavam o cristianismo primitivo, sem pagamento de impostos, sem a posse de qualquer bem e a distribuição dos recursos a partir da necessidade de cada um sob a liderança espiritual de Antônio Conselheiro.
Outros desagravos que estimularam a animosidade contra Conselheiro e Canudos deve-se a ser contrário à cobrança ostensiva dos impostos, permissão do casamento civil, separação entre Igreja e Estado, eleição dos presidentes de província (governadores de estado) sem a legitimação da Igreja. Para completar, Conselheiro considerava a implantação da República no Brasil o reino do anti-Cristo na Terra.
Foram quatro as expedições que culminaram no genocídio de Canudos. Principia quando os homens de Conselheiro, após não receberem as madeiras que haviam antecipado pago, ameaçam buscar o produto na empresa, localizada em Juazeiro (Bahia). O prefeito temendo a invasão da cidade requisita forças públicas, os homens do tenente Pires Ferreira saem de Salvador em 7 de novembro de 1896, após a espera partem à caça dos conselheiristas onde são surpreendidos e sofrem baixas.
A segunda investida acontece em janeiro de 1897 sob o comando do major Febrônio de Brito e seus 250 homens, desconhecedores dos terrenos da região sofre pesadas baixas.
Cresce a pressão no Rio de Janeiro, capital da República, cuja Presidência era exercida pelo primeiro presidente civil, Prudente de Morais. Criou-se uma narrativa pela Igreja e Imprensa que Antônio Conselheiro era monarquista, contestava a república, praticava heresia e depravação com seus seguidores.
A terceira expedição foi liderada pelo coronel Antônio Moreira César, herói do Exército brasileiro e conhecido como “corta-cabeças” por mandar executar, cruelmente, cem pessoas na Revolução Federalista, em Santa Catarina. Em março de 1897, Moreira César segue com 1.300 homens para Bahia. Confiante da sua total superioridade militar e tática vem falecer no combate por desconsiderar a familiaridade da região pelos conselheiristas, seu substituto coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo também vem a falecer no combate e o restante da tropa foge.
A quarta expedição foi organizada pelo ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt, que colocou no comando o general Artur Oscar Andrade Guimarães, tendo duas colunas de quatro mil soldados, cada, comandadas pelos generais João Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget. Além do pesado contingente a expedição contou com metralhadoras e canhões que dizimaram o arraial de Canudos, em definitivo, em 5 de outubro de 1897 quando os últimos quatro conselheiristas foram mortos.
Quanto a Antônio Conselheiro, acredita-se que tenha morrido em 22 de setembro em virtude de disenteria. Após a vitória do Exército, seu corpo foi encontrado, exumado e teve a cabeça cortada.
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