
Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Em 9 de julho fez 90 anos do início da revolta (ou levante) paulista que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932 (ou Revolução de 32 ou Guerra Paulista). O conflito colocou no campo de batalha o estado de São Paulo contra 18 estados brasileiros alinhados ao Governo Provisório liderado por Getúlio Vargas, durou 87 dias com a rendição paulista em 2 de outubro.
Foram vários os motivos que levaram à disputa. De 1891 a 1930, São Paulo e Minas Gerais comandavam os destinos do Brasil revezando-se na Presidência da República, através da Política do Café com Leite. A Revolução de 30 demoliu as estruturas da República Velha, mas, principalmente, os paulistas perderam o poder com o novo cenário. Exceto Minas Gerais, quando assumiu o poder, Getúlio Vargas indicou interventores federais em todos os estados. Sentindo-se desprestigiado, São Paulo se opôs a todos os nomes alinhados ao Governo Provisório. Exigiam que o nome fosse civil, paulista e não alinhado à Vargas. O café era o principal produto de exportação, foi criado o Conselho Nacional do Café para gerir a política cafeeira nacional, gerando mais insatisfação aos produtores paulistas.
Outras acusações ou razões do conflito são: Getúlio governava por decretos, havia diminuído a autonomia dos estados, desde a vitória da Revolução de 30 tinha fechado Congresso Nacional, Assembleias Legislativas estaduais e Câmaras Municipais, sem sinalizar quando seriam as eleições para eleger os representantes que formulassem a nova Constituição brasileira.
Foram quatro os interventores federais em São Paulo, substituídos quando cresciam a constante insatisfação paulista, foram eles: Tenente João Alberto Lins de Barros (25 de novembro de 1930 a 24 de julho de 1931); Laudo Ferreira de Camargo (25 de julho de 1931 a 13 de novembro de 1931); coronel Manuel Rabelo (13 de novembro de 1931 a 7 de março de 1932); Pedro de Toledo (7 de março de 1932 até o fim da Revolução de 1932, em 2 de outubro de 1932). Em 23 de maio de 1932, Pedro de Toledo, mudou de lado e foi aclamado governador de São Paulo pelos paulistas.
Em 25 de janeiro (aniversário de São Paulo) de 1932 realiza-se o primeiro grande comício contestatório na Praça da Sé, público estimado em 200 mil pessoas. Dali em diante crescia a mobilização que veio a envolver toda sociedade paulista. O acirramento dos ânimos produziu uma tragédia no comício de 23 de maio, foram mortos naquela noite os estudantes Martins (Martins); Euclides Bueno Miragaia (Miragaia); Dráusio Marcondes de Sousa (Dráusio); Antônio Américo Camargo de Andrade (Camargo); e meses depois Orlando de Oliveira Alvarenga (Alvarenga).
Foi organizada a sociedade secreta M.M.D.C., a partir das iniciais dos estudantes mortos, posteriormente foi acrescido o “A” com a morte de Alvarenga, junto a outros movimentos foi radicalizando e estimulando o rompimento com o Governo Provisório.
Mesmo com Vargas tendo atendido as principais reivindicações paulistas, como convocação das eleições para Assembleia Constituinte e nomeação de interventor paulista, a partir de 9 de julho acontece o conflito. São Paulo contava com o apoio do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, para avançarem à capital federal e deporem Getúlio. Os dois estados se mantiveram fieis ao Governo Provisório, os paulistas somente conseguiram apoio da região sul do estado de Mato Grosso (atualmente Mato Grosso do Sul) que rompeu com o poder estadual e criou o estado do Maracaju.
As fronteiras terrestres paulistas foram cercadas e o acesso ao oceano foi fechado pela Marinha Brasileira. Empréstimos internacionais e compra de armamentos para sustentar a revolta foram impedidos pelo governo federal, desenrolaram-se campanhas de arrecadação junto à população e produção local de armamentos pelas indústrias e centros de pesquisa, como Escola Politécnica do Estado (hoje EPUSP) e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Foi intensa a campanha de alistamento da população paulista, no total, estima-se em cerca de 200 mil e, participação efetiva na revolta entre 45 e 60 mil pessoas. Enquanto isso o poderia militar das forças do Governo Provisório chegava, aproximadamente, em 100 mil combatentes. As forças federais possuíam melhores armamentos e quantidade que as forças paulistas, por exemplo, a proporção era de 5 x 1 quanto ao poderio aéreo.
Uma moeda própria foi criada para superar as dificuldades econômicas, falsificada por apoiadores do Governo Provisório para desestabilizar a revolta. Mas, o movimento foi enfraquecendo devido a crescente ausência de material e suporte financeiro, temia-se a invasão da capital paulista como uma conquista varguista.
Em 2 de outubro São Paulo se rende, dois dias depois foi assinado a rendição. Pelo lado paulista foram cerca de mil mortos, não se conhece o número de mortos do governo federal.
Os principais líderes foram exilados no exterior, general Valdomiro Lima assume como interventor paulista encontrando animosidade nos paulistas. São feitas medidas para arrefecer as hostilidades e boicotes, como o fim da censura na imprensa, concessão de moratória para o pagamento das taxas de mercadorias importadas, libertação dos combatentes presos e atendimento das reivindicações dos cafeicultores.
Os defensores da revolta paulista preferem a narrativa que mesmo derrotados saíram-se vitoriosos nas principais reivindicações, em 1933 foram eleitos os representantes que no ano seguinte promulgaram a nova Constituição, Getúlio Vargas teve os poderes limitados e foi eleito para mandato de quatro anos. Não há inocentes quando se trata dos envolvidos na Revolução Constitucionalista, como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Outra interpretação possível é que tratou-se da disputa da antiga e tradicional oligarquia paulista apeada do poder pelo grupo representado por Getúlio Vargas que passou a ditar a ordem a partir da Revolução de 1930.
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