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Ação Integralista Brasileira: fascismo verde-amarelo
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Ação Integralista Brasileira: fascismo verde-amarelo

Nacionalismo exacerbado, radicalismo, conservadorismo e influência religiosa: onde já vimos isso na História do Brasil? A versão mais famosa vem dos anos 1930 e são algumas das características da versão tupiniquim do fascismo europeu representado na versão do integralismo criado por Plínio Salgado
Tipo Análise
Juventude Integralista, década de 1930. (Foto: Wikimedia Commons)
Foto: Wikimedia Commons Juventude Integralista, década de 1930.

O integralismo é um conjunto de teoria e prática que objetiva a ordem social e política de forma integrada, associando tradições políticas, culturais, religiosas e nacionais. Caracteriza-se por movimentos conservadores, ufanistas e xenófobos ligados à direita política.

Surge no final do século XIX, na França, no seio da Igreja Católica, em contraposição ao pensamento liberal da época, pregava que ações políticas e sociais deviam se basear no catolicismo e sem a separação entre Igreja e Estado. O movimento teve maior relevância na Itália, França, Espanha, Romênia, Portugal e Brasil.

Após o Segundo Concílio Vaticano, em 1962, a falta de apoio na hierarquia católica faz com que o integralismo perca relevância. Posteriormente, o apelo ideológico conservador preserva sua presença em pequenos grupos que habitam o tradicionalismo.

O integralismo brasileiro principia pelos movimentos ligados ao catolicismo, destacando-se as figuras de Alberto Torres, Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima e padre Hélder Câmara. Embora caminhassem juntas e confluíssem pensamentos, a vertente política do integralismo brasileiro surge pelas mãos de Plínio Salgado, em 7 de outubro de 1932, no Manifesto de Outubro.

Para entender o surgimento da Ação Integralista Brasileira (A.I.B.) carece compreender o contexto da época, o Brasil e o mundo viviam um período de rompimento dos comportamentos e valores morais, novas estruturas sobrepujavam os conservadores pensamentos e estruturas dominantes impulsionadas pelo caos socioeconômico pós-Primeira Guerra Mundial. Nessa ebulição de acontecimentos floresce o nazismo na Alemanha, comunismo na Rússia, fascismo na Itália e franquismo na Espanha.

O Brasil vivia o ocaso da República Velha com a chegada do grupo político de Getúlio Vargas ao poder via Revolução de 1930, sem uma proposta ideológica abria espaço para as diversas forças que se projetaram vislumbrando o mesmo sucesso dos movimentos similares do exterior.

Plínio Salgado era jornalista, escritor e político ligado ao Partido Republicano Paulista (PRP) até 1930. Deputado estadual paulista, idealizador e maior liderança do integralismo brasileiro, criador da A.I.B., após viajar à Itália, conhecer Benito Mussolini e se deslumbrar com as possibilidades do fascismo italiano.

O símbolo do integralismo brasileiro era a palavra grega sigma que significava a soma dos infinitamente pequenos, união das pessoas e famílias que garantiam a unidade da sociedade. Em junho de 1934 foi autorizado pelo Ministério da Guerra o uniforme dos integralistas que consistia de camisa verde-oliva manga longa abotoada, gravata preta, calça branca ou azul, casquete e sapatos pretos, emblema sigma colocado no braço direito e no casquete. Quando se encontravam o cumprimento era feito com o braço levantado e esticado (modelo nazista) e falava-se anauê (palavra tupi que significa: você é meu irmão).

Pelo fardamento adotado ficaram conhecidos como os “camisas-verdes”, porém, o sarcasmo brasileiro subverteu a identificação para os “galinhas-verdes”. O lema da– Deus, pátria e família, foi recuperado posteriormente por movimentos conservadores brasileiros seguintes.

A A.I.B., gradativamente, construiu uma estrutura filosófica e burocrática rígida e vertical de funcionamento. Por exemplo, a militância da juventude integralista dividia-se em categorias e frases de louvação na faixa etária dos 4 ao 15 anos. Quando batizadas, as crianças eram envoltas na bandeira do Brasil, onde pais e padrinhos falavam juntos: “Ao futuro pliniano, o seu primeiro anauê”. O juramento do novo militante deveria ser feito em frente ao retrato de Plínio Salgado.

Liberalismo, socialismo, capitalismo internacional, judaísmo e maçonaria eram considerados os inimigos do integralismo nacional. O surgimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL) acirra o confronto com a A.I.B., o número de integralistas aumentou em virtude dessa disputa, grande parcela da sociedade foi educada a enxergar o comunismo como inimigo.

Vislumbrando o poder principal nas próximas eleições presidenciais, a A.I.B. converte-se em partido político em março de 1936. Vargas mantinha vigilância sobre os integralistas, fazia uso do movimento de acordo com a transformação do cenário político e seus interesses. A farsa do Plano Cohen que propiciou a ditadura do Estado Novo foi de prévio conhecimento dos integralistas que projetavam beneficiarem-se ao ser adotado como a ideologia do novo regime, inclusive, Plínio Salgado negociava ser ministro da Educação.

Em dezembro de 1937 todos os partidos políticos são extintos e, traídos, os integralistas planejam vingança contra Vargas e ocupação à força do poder. Conhecida como Levante Integralista ou Intentona Integralista, as duas tentativas foram pífias, uma conjunção de desorganização, inexperiência e insignificância.

Em 11 de março de 1938, os integralistas apenas conseguiram ocupar o edifício dos Correios e Telégrafos, a Escola Naval e a rádio Mayrink Veiga. Pela baixa participação e impacto sofreram parcial repressão oficial. Dois meses depois, em 11 de maio, a nova conspiração planejava 70 ações simultâneas e 2.600 participantes. Na data definida, mais uma vez, poucos apareceram. O que foi possível ser feito foi à tomada do Ministério da Marinha, prisão do general Canrobert Pereira da Costa e tentativa de dominar o Palácio da Guanabara, sede do poder e morada do presidente Getúlio Vargas.

No primeiro momento da repressão, 1.500 pessoas foram presas, as condenações atingiram cerca de 300 integralistas em julgamentos limitados por ritos sumários com prazos e testemunhas reduzidas ao mínimo. Plínio Salgado foi exilado em 1939 para Portugal, retornando em 1946 e criando o PRP (Partido da Representação Popular).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda de Getúlio Vargas, em 1945, o integralismo perde relevância no País. Os regimes nazifascistas que haviam inspirado a versão mambembe do fascismo brasileiro foram derrotados, ninguém queria se associar aos perdedores.

Plínio Salgado tenta recuperar a projeção nacional concorrendo à Presidência da República em 1955, fica em último lugar com 714,3 mil votos.

Foto do Sérgio Falcão

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