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Tenentismo: 100 anos do movimento político-militar
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Tenentismo: 100 anos do movimento político-militar

Movimento político-militar influente no Brasil, principalmente, nos anos 1920 e 1930. Representado pela baixa oficialidade, destacadamente tenentes e capitães, de caráter moralizador, salvacionista e contrário às oligarquias da República Velha
Tipo Análise
Líderes da Coluna Prestes, em 19 de março de 1927. São eles: 1. Djalma S. Dutra; 2. Antônio Siqueira Campos; 3. Luiz Carlos Prestes; 4. Miguel Costa; 5. Juarez Távora; 6. João Alberto L. de Barros; 7. Oswaldo Cordeiro de Farias; 8. Ítalo Landucci; 9. Rufino Corrêa; 10. Sady V. Machado; 11. Manoel de Lyra; 12. Nelson de Souza; 13. Ary S. Freire; 14. Paulo Kruger da Cunha Cruz; 15. João Pedro; 16. Emigdio Miranda; 17. Athanagildo França e 18. José D. Pinheiro Machado. (Foto: Wikimedia Commons)
Foto: Wikimedia Commons Líderes da Coluna Prestes, em 19 de março de 1927. São eles: 1. Djalma S. Dutra; 2. Antônio Siqueira Campos; 3. Luiz Carlos Prestes; 4. Miguel Costa; 5. Juarez Távora; 6. João Alberto L. de Barros; 7. Oswaldo Cordeiro de Farias; 8. Ítalo Landucci; 9. Rufino Corrêa; 10. Sady V. Machado; 11. Manoel de Lyra; 12. Nelson de Souza; 13. Ary S. Freire; 14. Paulo Kruger da Cunha Cruz; 15. João Pedro; 16. Emigdio Miranda; 17. Athanagildo França e 18. José D. Pinheiro Machado.

A República brasileira origina-se pela aliança dos militares com setores civis na deposição da Monarquia, apesar de inicialmente ocuparem à Presidência da República com Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, gradativamente, os militares perderam o protagonismo durante a República Velha (1889-1930) com o domínio das oligarquias estaduais apoiadas na Política do Café com Leite.

Durante a Presidência de Epitácio Pessoa (1919-1922) a animosidade militar nasce quando o presidente escolhe civis para ocupar as pastas militares e recusa o aumento dos soldos. O desgaste seguinte surge durante a campanha eleitoral à Presidência da República de 1922, ao candidato governista Artur Bernardes foi atribuída a autoria das “Cartas Falsas”, textos críticos e difamatórios ao meio militar. Apesar de comprovada a falsidade da autoria, o estrago estava feito e criou a cisão do futuro presidente com o meio militar.

Ao fim da apuração eleitoral, Nilo Peçanha, candidato oposicionista e apoiado pelos militares, lança manifesto não reconhecendo a derrota. Defendido por oficiais de alta patente, mas, que, ao final, mantiveram-se fiéis ao governo. Em Pernambuco, eclodiu revolta contestatória às eleições, Hermes da Fonseca – marechal do Exército, ex-presidente da República (1910-1914) e presidente do Clube Militar – acabou preso e destituído do comando do Clube Militar por defender que as Forças Armadas não deveriam apoiar o governo na defesa da legalidade.

A baixa oficialidade decide organizar um levante armado em resposta aos abusos do governo federal e soltar Hermes da Fonseca da prisão. Em 4 de julho de 1922, dar-se a ocupação da Vila Militar da Capital da República, não sendo bem-sucedida porque as forças legalistas enfrentaram os poucos e desorganizados revoltosos. No dia seguinte conseguiram dominar a Escola Militar do Realengo e o Forte de Copacabana, bombardeando alvo militares do Rio de Janeiro e sendo severamente rechaçados.

O ministro da Guerra Pandiá Calógeras negocia a rendição da maior parte dos revoltosos, porém, um pequeno grupo, acrescido do simpatizante civil Otávio Correia decide resistir e caminhar ao encontro das forças de segurança legalistas nas ruas de Copacabana. O grupo foi massacrado, apenas dois sobreviveram, feridos gravemente Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi o estopim para reacender e expandir, definitivamente, a politização do meio militar.

O tenentismo caracterizou-se pelo discurso salvacionista, defesa das instituições republicanas e liberalismo, contrário às oligarquias, modernização e industrialização do País, reforma do ensino público, obrigatoriedade do ensino médio e moralização da política.

O capitalismo internacional vivia uma crise nos anos 1920 que refletia no Brasil, cuja economia se baseava na agricultura, com destaque à produção cafeeira. A oscilação das commodities brasileiras no mercado internacional fez socializar negativamente a crise econômica com toda sociedade. Abalando o sistema de poder que sustentava a República Velha e incentivando o surgimento de movimentos contrários ao status quo das oligarquias e seus privilégios.

Dois anos depois, o tenentismo ressurge em São Paulo de forma organizada e planejada. Em 5 de julho acontece a Revolta Paulista de 1924, as forças do general Isidoro Dias Lopes ocupam os principais pontos da capital paulista e a sede do governo. Embora sem comunicação, o movimento em São Paulo serviu para inspirar outras revoltas no País: Levante de Mato Grosso (12/7), Levante de Sergipe (13/7), Levante do Amazonas (23/7), Levante do Pará (26/7), Levante do Rio Grande do Sul (29/10).

A Revolta Paulista defendia as seguintes ideias: voto secreto, combate à corrupção administrativa e à fraude eleitoral, liberdade de imprensa e pensamento, restabelecimento do equilíbrio entre os três poderes, ampliação da autonomia do Poder Judiciário, moralização do Poder Legislativo e centralização do Estado.

No final de julho as forças legalistas expulsam os revoltosos de São Paulo que se refugiam em Foz do Iguaçu (Paraná), posteriormente, unem forças com os militares gaúchos revoltosos do capitão Luís Carlos Prestes. A Coluna Prestes nasce da decisão de manter o ideal revolucionário percorrendo o País, enfrentando as forças do governo e buscando inspirar a revolução. O general Isidoro decide refugiar-se na Argentina sob a alegação de articular o movimento no exterior.

A Coluna Prestes percorre, de 1925 a 1927, cerca de 25.000 km em doze estados, tendo na liderança Prestes e Miguel Costa. Não conseguindo a adesão da população, em 1927, os remanescentes da Coluna resolvem se auto exilarem-se no Paraguai e Bolívia.

Luís Carlos Prestes acaba por converter-se ao comunismo, a maioria dos integrantes do tenentismo adere a Aliança Liberal, em 1929, composta pelos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba contrários a candidatura de Júlio Prestes, escolhido pelo presidente Washington Luís para garantir a perpetuação das oligarquias da República Velha no poder. Getúlio Vargas soube angariar à Revolução de 1930 o prestígio e a atuação do tenentismo ao seu projeto de governo e poder.

Vitoriosos na Revolução de 1930, os membros do movimento tenentista, exceto em Minas Gerais, assumem como interventores em todos os estados brasileiros durante o governo provisório. O movimento revolucionário de 30 passou, paulatinamente, como estratégia de governo, aliar-se às antigas oligarquias ou compor com os novos grupos políticos, como por exemplo, Flores da Cunha no Rio Grande do Sul e Benedito Valadares em Minas Gerais.

Defensores do estatismo, autoritarismo como instrumento de mudança e elitismo, o movimento tenentista foi perdendo espaço e relevância por não criarem partido próprio que defendesse seus ideais. Seus integrantes foram cooptados por outros partidos e movimentos extremistas, como comunismo e integralismo.

Com a redemocratização do País no fim do Estado Novo, em 1945, nas eleições presidenciais seguintes, destacados representantes tentaram reavivar o sopro dos ideais tenentistas. Nas eleições presidenciais de 1945 e 1950, Eduardo Gomes, e, em 1955, Juarez Távora. Todos derrotados.

O último feito do tenentismo acontece no Golpe Militar de 1964, dentre as principais lideranças militares encontram-se representantes do movimento tenentista, como Cordeiro de Farias, Castelo Branco, Juracy Magalhães, Juarez Távora, Eduardo Gomes, Ernesto Geisel e Garrastazu Médici.

Foto do Sérgio Falcão

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