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Primeira-Dama do Brasil: passado, presente, futuro
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Primeira-Dama do Brasil: passado, presente, futuro

Descolando das análises políticas voltadas aos protagonistas nas acirradas disputas nas esferas estaduais e nacional, vamos abordar a história da primeira-dama na República brasileira e as principais postulantes ao cargo do próximo mandato presidencial
Tipo Análise
Rosângela da Silva (Janja) (esq.) e Michelle Bolsonaro (dir.), esposas dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, respectivamente, ganharam destaque na disputa eleitoral presidencial. (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Rosângela da Silva (Janja) (esq.) e Michelle Bolsonaro (dir.), esposas dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, respectivamente, ganharam destaque na disputa eleitoral presidencial.

Tradicionalmente relegadas ao papel decorativo, o perfil e a atuação das primeiras-damas vem se transformando ao longo dos anos no Brasil, a partir do crescente protagonismo feminino e representatividade do percentual eleitoral das mulheres na votação. Reconhecer, inserir e prestigiar o público feminino tornou-se decisivo eleitoralmente, até para os candidatos machistas.

O cargo de primeira-dama não é eletivo e, oficialmente, não existe, mas, paradoxalmente, faz-se presente na esfera executiva do Município, Estado e País. As funções, costumeiramente, associadas às primeiras-damas estão na representação oficial ao lado do mandatário ou substituí-lo quando este não possa fazer-se presente nos eventos, e, conduzindo campanhas e/ou órgãos assistenciais.

O modelo brasileiro de atuação da primeira-dama acompanha a versão norte-americana, criada a partir de Lucy Webb Hayes, esposa do presidente dos Estados Unidos Rutherford B. Hayes (1887-1881). Teoriza-se que o termo “primeira-dama” origina-se da palavra “prima-donna”, figura de maior destaque nas companhias italianas de ópera. Quando o inverso acontece, o marido da mandatária chamar-se-á primeiro-cavalheiro.

Com o advento da República no Brasil, em 1889, Mariana da Fonseca estreou o cargo de primeira-dama. Veja abaixo a relação completa das primeiras no Brasil:

•Mariana da Fonseca (Deodoro da Fonseca): 15.11.1889 - 23.11.1891
•Josina Peixoto (Floriano Peixoto): 23.11.1891 – 15.11.1894
•Adelaide de Morais (Prudente de Morais): 15.11.1894 – 15.11.1898
•Anna Gabriella Campos Salles (Campos Salles): 15.11.1898 – 15.11.1902
•Catita Rodrigues Alves e Marieta Rodrigues Alves (filhas de Rodrigues Alves): 15.11.1902 – 08.12.1904 e 08.12.1904 – 15.11.1906
•Guilhermina Penna (Affonso Penna): 15.11.1906 – 14.06.1909
•Anita Peçanha (Nilo Peçanha): 14.06.1909 – 15.11.1910
•Orsina da Fonseca (Hermes da Fonseca): 15.11.1910 – 30.11.1912
•Nair de Teffé (Hermes da Fonseca): 08.12.1913 – 15.11.1914
•Maria Pereira Gomes (Venceslau Brás): 15.11.1914 – 15.11-1918
•Marieta Rodrigues Alves (filha de Rodrigues Alves): Faleceu antes de assumir segundo mandato
•Francisca Ribeiro (Delfim Moreira): 15.11.1918 – 28.07.1919
•Mary Pessoa (Epitácio Pessoa): 28.07.1919 – 15.11.1922
•Clélia Bernardes (Artur Bernardes): 15.11.1922 – 15.11.1926
•Sophia Pereira de Sousa (Washington Luís): 15.11.1926 – 24.10.1930
•Alice Prestes (Júlio Prestes): Não assumiu
•Junta Militar: 24.10.1930 – 03.11.1930
•Darcy Vargas (Getúlio Vargas): 03.11.1930 – 29.10.1945
•Luzia Linhares (José Linhares): 29.10.1945 – 31.01.1946
•Carmela Dutra (Eurico Gaspar Dutra): 31.01.1946 – 09.10.1947. OBS: 09.10.1947 a 31.01.1951, período que exerceu mandato como viúvo
•Darcy Vargas (Getúlio Vargas): 31.01.1951 – 24.08.1954
•Jandira Café (Café Filho): 24.08.1954 – 08.11.1955
•Graciema da Luz (Carlos Luz): 08.11.1955 – 11.11.1955
•Beatriz Ramos (Nereu Ramos): 11.11.1955 – 31.01.1956
•Sarah Kubitschek (Juscelino Kubitschek): 31.01.1956 - 31.01.1961
•Eloá Quadros (Jânio Quadros): 31.01.1961 – 25.08.1961
•Sylvia Mazzilli (Ranieri Mazzilli): 25.08.1961 – 07.09.1961
•Maria Thereza Goulart (João Goulart): 07.09.1961 – 02.04.1964
•Sylvia Mazzilli (Ranieri Mazzilli): 02.04.1964 – 15.04.1964
•Antonietta Castello Branco (filha de Humberto de Alencar Castello Branco): 15.04.1964 – 15.03.1967
•Yolanda Costa e Silva (Artur Costa e Silva): 15.03.1967 – 31.08.1969
•Mariquita Aleixo (Pedro Aleixo): Não assumiu
•Junta Militar: 31.08.1969 – 30.10.1969
•Scylla Médici (Emílio Garrastazu Médici): 30.10.1969 – 15.03.1974
•Lucy Geisel (Ernesto Geisel): 15.03.1974 – 15.03.1979
•Dulce Figueiredo (João Figueiredo): 15.03.1979 – 15.03.1985
•Risoleta Neves (Tancredo Neves): Não assumiu
•Marly Sarney (José Sarney): 15.03.1985 – 15.03.1990
•Rosane Collor (Fernando Collor): 15.03.1990 – 29.12.1992
•Divorciado (Itamar Franco): 29.12.1992 – 01.01.1995
•Ruth Cardoso (Fernando Henrique Cardoso): 01.01.1995 – 01.01.2003
•Marisa Letícia (Luiz Inácio Lula da Silva): 01.01.2003 – 01.01.2011
•Divorciada (Dilma Rousseff): 01.01.2011 – 31.08.2016
•Marcela Temer (Michel Temer): 31.08.2016 – 01.01.2019
•Michelle Bolsonaro (Jair Bolsonaro): 01.01.2019 – 01.01.2023

Na História republicana brasileira temos algumas curiosas referências às primeiras-damas: Ruth Cardoso (Fernando Henrique Cardoso) foi a mais velha a ocupar o cargo e a primeira com título universitário; Darcy Vargas (Getúlio Vargas) foi a que ficou por mais tempo no cargo (18 anos); Graciema Luz (Carlos Luz) foi quem ocupou o cargo por menos tempo (três dias); Michelle Bolsonaro (Jair Bolsonaro) inovou ao discursar (em libras) na posse presidencial; Três filhas de presidentes assumiram como primeiras-damas por eles serem viúvos: Catita e Marieta Alves (Rodrigues Alves) e Antonietta Castello Branco (Humberto de Alencar Castello Branco); Três esposas de presidentes que não tomaram posse são consideradas primeiras-damas: Alice Prestes (Júlio Prestes); Mariquita Aleixo (Pedro Aleixo), Risoleta Neves (Tancredo Neves).

A frase (machista) – “Atrás de um grande homem existe uma grande mulher” – funcionava como uma medonha homenagem e destaque enviesado ao papel da primeira-dama, “atualizada” na Presidência de Michel Temer para “bela, recatada e ‘do lar’”, depreciando a então primeira-dama do Brasil Marcela Temer.

No próximo domingo, 2 de outubro, acontece a celebração da democracia no Brasil com as eleições para deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente. Neste momento, segundo as pesquisas eleitorais, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva são os favoritos na disputa presidencial. Pela primeira vez nas eleições presidenciais, as respectivas esposas dos candidatos favoritos assumiram protagonismo na campanha eleitoral.

No passado, em menor escala, as esposas participavam, simplesmente, como companhias em eventos, comícios e propaganda eleitoral atestando qualidades familiares aos candidatos, e, até, assegurando-lhes a heterossexualidade junto aos eleitores. Não faz muito tempo que, na política brasileira, candidato solteiro gerava desconfiança quanto à sua sexualidade e/ou juventude e inexperiência ao sequer prover o núcleo familiar segundo os preceitos do conservadorismo cristão. No presente, não é possível precisar o poder decisivo da participação das esposas (ou maridos) dos políticos na definição ou reversão dos votos, mas, a atuação ou ausência delas (ou deles) vem tornando-se decisório no jogo eleitoral.

O acirramento da atual disputa presidencial, a menor popularidade entre as eleitoras e a possibilidade de ser favorecido dentre as evangélicas fez Bolsonaro determinar o destaque da esposa Michelle Bolsonaro na campanha. Do outro lado, Rosângela da Silva (Janja, como prefere ser chamada), casada recentemente com o viúvo Lula, vem se destacando desde antes do período eleitoral.

Vamos conhecer um pouco da trajetória das postulantes à recondução ou nova ocupante do cargo de primeira-dama do Brasil.

Michelle Bolsonaro
Nascida na Ceilândia (DF), em 22.03.1982, tem origem humilde com raízes no Ceará. Intérprete de libras, Michelle conheceu Jair Bolsonaro, em 2006, quando secretária na sala da liderança do PP (Partido Progressistas), após início do relacionamento sendo levada a trabalhar no seu gabinete. Casam-se no civil com separação de bens em 2007 e no religioso em 2013. Tem seu nome envolvido no “escândalo da rachadinha” por ter recebido R$ 89 mil de Fabrício Queiroz, não explicados devidamente. A atuação de Michelle no presente mandato foi ínfima, se destacando por fantasiar-se de Branca de Neve na distribuição de presentes para crianças no Palácio do Planalto e comemorar indicação de evangélicos aos cargos públicos.

Rosângela da Silva, Janja
Nascida em União da Vitória (PR), em 27.08.1966, é filiada ao PT (Partido dos Trabalhadores) desde 1983. Conhece Lula desde os anos 1990 por conta das “caravanas da cidadania” que o petista promovia percorrendo o País. Socióloga, graduada e pós-graduada pela UFPR, Janja fez carreira ligada a projetos de desenvolvimento sustentável e inclusão social. Trabalhou na Usina Hidrelétrica de Barra Grande, Eletrobrás e Itaipu Binacional, aposentando-se em 2020. O relacionamento com o ex-presidente foi exposto quando Lula esteve preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR). Ao ser questionada como seria seu papel como primeira-dama, Janja comenta apenas que pretende ressignificar o conceito do cargo.

 

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