
Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Alfredo da Rocha Vianna Filho (23.04.1897 – 17.02.1973), nasceu no bairro da Piedade, no Rio de Janeiro. É um dos 14 filhos de Raimunda Maria da Conceição, sendo quatro filhos do primeiro casamento com João de Oliveira Torres e dez filhos com Alfredo da Rocha Vianna. O pai de Pixinguinha trabalhava na Repartição Geral dos Correios e Telégrafos, como chefe de seção da usina de eletricidade, e, nas horas vagas, músico amador.
Foi batizado na Igreja de Santana (na Cidade Nova). A infância no bairro do Catumbi foi brincando de arraia (pipa) e jogando bila (bola de gude) na rua. Quanto ao futebol, melhor esquecer a referência, não era muito bom das perdas.
O primeira grande folclore em relação a Pixinguinha foi desvendado muito tempo depois por Jacob do Bandolim, a data correta do nascimento é 4 de maio, e não 23 de abril, como alguns, ainda hoje, acreditam. O segundo grande folclore é a origem do nome Pixinguinha. A versão mais divulgada diz que foi dado por uma avó africana de nascimento que nunca existiu, usando a língua de origem, lhe deu o nome de “Pizindin” (menino bom), virando depois Pixinguinha. A versão aceita como verdadeira informa que havia um surto de varíola no Rio de Janeiro no período que Pixinguinha nasceu, a criança cresceu com cicatrizes da bexiga lhe rendendo os apelidos de Bixiguinha, Pixiguinha, e depois mesclando com o apelido de Pizindim (ou Pizinguim), dado pela prima Eurídice. Pixinguinha veio como variação do que conhecemos, atualmente, como bullying.
A alfabetização foi em casa, pelas mãos do rigoroso professor Bernardes e sua temível palmatória. Os estudos posteriores foram no Liceu de Santa Tereza e, a seguir, na Escola Popular do Colégio São Bento, voltado para a população mais humilde.
A música entrou na vida de Pixinguinha pelas mãos do pai, que recebia frequentemente os amigos músicos na “Pensão Vianna”, lhes alugando, às vezes, os cômodos da casa. Na infância, além do pai, os amigos paternos foram seus professores de música. Começa a destacar-se nas festas e bailes nas casas, acompanhando pai e irmãos. O primeiro conjunto que integra é o “Choro Carioca”, do amigo paterno e professor de música Irineu de Almeida.
No Carnaval carioca integra o grupo “Filhas das Jardeineiras”, onde conhece seus grandes amigos e parceiros musicais inseparáveis Ernesto dos Santos (Donga) e João Machado (João da Bahiana). Em 1912, assume como diretor de harmonia no rancho “Paladinos Japoneses”, também participando do “Reinado de Siva” e “Trio Suburbano”. A primeira experiência profissional acontece na Lapa, aos 11 anos. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), definitivamente, não existia... Ganhava seis mil réis, por noite, como flautista do conjunto de Pádua Machado.
A primeira composição foi o chorinho “Lata de Leite”, inspirada na prática do conjunto voltar pra casa no raiar do dia e beber o leite que ficava nas portas das casas por onde passavam. A primeira gravação acontece, em 1915, para a Casa Falhauber, interpretando o tango brasileiro “São João Debaixo d´água” com o conjunto “Choro Carioca”. Foram inúmeros os grupos que Pixinguinha fez parte quando descobriram ser talentoso músico, principiando como flautista, e, após a década de 1940, como saxofonista.
Donga e Pixinguinha, em 1918, foram convidados para montarem um conjunto e se apresentarem na sala de espera do Cine Palais, ambiente frequentado pela elite carioca. Parcela da imprensa da época critica a preferência musical do conjunto, composto pelo samba e chorinho. O preconceito foi esmagado pelo sucesso de público e patrocínio do milionário Arnaldo Guinle que rendeu formação da “Orquestra Típica Oito Batutas” (Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China (voz e violão), Nelson Alves (cavaquinho), Jacob Palmieri (bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, o Zezé (bandolim e ganzá)) com excursão por vários estados brasileiros e seis meses em Paris (França) sob o nome de “Les Batutas” (um dos Oito Batutas não pode viajar). Novamente, na imprensa brasileira, matérias racistas contrárias ao samba, chorinho e a negritude dos músicos como não sendo dignos representantes do Brasil que aspiravam construir.
Em 1926, Pixinguinha em parceria com o cenógrafo Jaime Silva e o ator, diretor De Chocolat produzem a “Revista Tudo Preto”, espetáculo encenado pela Companhia Negra de Revista, onde todos os integrantes eram negros. Foi um sucesso de púbico, a ousadia rendeu, como sempre, reação preconceituosa da imprensa da época. Pixinguinha casa-se com a estrela do espetáculo, Albertina Nunes Pereira, que tinha nome artístico de Jandira Aimoré, na intimidade chamada por Betí.
O ano 1926 traz outro registro importante. Pixinguinha conhece o escritor Mário de Andrade que vinha fazendo pesquisas para o livro “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, conta-lhe como eram as festas na casa da Tia Ciata, onde a História registra como o local de nascimento do samba. O encontro e informações renderam homenagem na versão final do livro, com o personagem Olelê Rui Barbosa - “um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão”.
A gravadora RCA Victor instalou-se, em 1929, no Rio de Janeiro. Para escolher o arranjador musical realizou um concurso, o vencedor foi Pixinguinha com a música “Carinhoso”, composta em 1916. Seu talento e familiaridade com o samba foi o grande diferencial na melhor compreensão do gênero refletindo-se nos inúmeros sucessos, incluindo músicas e composições com Carmen Miranda. Mesmo renomado músico e compositor, Pixinguinha aceita conselho de amigos e ingressa, em 1933, no Instituto Musical de Música para aperfeiçoar os estudos de teoria musical.
O prefeito do Rio de Janeiro Pedro Ernesto nomeia Pixinguinha como fiscal do Serviço de Limpeza Urbana, em 1934, na intenção de torná-lo maestro da banda da Guarda Municipal. Depois o transfere para Secretaria de Viação e Obras Públicas e, finalmente, como professor da rede municipal. O projeto não deslancha, Pixinguinha se decepciona com a falta de empenho dos músicos. No ano seguinte, o casal Betí e Pixinguinha resolver adotar um menino e dar o nome de Alfredo da Rocha Vianna Neto.
A cantora Heloísa Helena desejava participar do espetáculo beneficente em 10.10.1936, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que a primeira-dama do Brasil Darcy Vargas estava organizando, daí pediu ao compositor João de Barro para colocar letra na música “Carinhoso”. A primeira tentativa, não aprovada por Pixinguinha, foi do compositor Bernoit Certain. A versão de Barro agradou a todos, foi gravada por Orlando Silva em 1937 e foi sucesso instantâneo. Em 2021, a BBC Brasil afirma que é a terceira canção mais regravada da MPB, segundo levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), com 411 versões.
A primeira metade da década de 1940 foi trágica para Pixinguinha, entregue ao álcool, perdia trabalhos e estava ameaçado de perder a casa própria que vinha pagando desde 1939. A salvação da falência veio na parceria com Benedito Lacerda que negocia adiantamento com a editora Irmãos Vitale pelos 20 discos que lançarão juntos, no acordo incluía seu nome na autoria de todas as músicas.
Quando presidente do Brasil, Jânio Quadros (o breve) nomeia Pixinguinha ao Conselho Nacional da Cultura, como representante da cultura popular. Não foi pra frente, o mandatário logo pediu para sair.
Em 1958, Pixinguinha sofre a primeira crise cardíaca. Betí converte-se à igreja evangélica, Pixinguinha a acompanha e até afasta-se da boemia, mas dura pouco. Em 25.06.1963 é internado no Hospital Getúlio Vargas com edema pulmonar, no dia seguinte é transferido ao Instituto de Cardiologia Aloisio de Castro. São 50 dias internados por problemas cardíacas e que renderam dezenas de composições.
Em maio de 1972, Betí é internada por complicações no coração, Pixinguinha, também, pouco depois. Para não preocupá-la, na visita hospitalar dominical trocava a roupa de paciente pelo terno para encontrá-la. Betí falece em 7 de junho.
Pixinguinha passa a morar com o filho, em 17.02.1973, os dois vão ao batizado do filho do amigo Euclides Souza Lima na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Infarto fulminante vitima Pixinguinha quando assinava o livro da igreja.
O músico Hamilton de Holanda foi o grande articulador da criação do Dia Nacional do Choro, contando com o apoio e a proposição, em 1998, do senador Artur da Távola e relatoria de Marina Silva. A lei foi sancionado, em 04.09.2000, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso tornando o dia 23 de abril (data equivocada do nascimento de Pixinguinha) o Dia Nacional do Choro.
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