Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Para não cansar o(a, x) fraterno(a, x) leitor(a, x), tentarei sintetizar a trajetória de vida daquele que foi considerado um dos brasileiros mais inteligentes da sua época e marcado na História por sua atuação singular na sociedade brasileira e internacional. Perdoem, caso não consiga, o personagem não pode ser desmerecido no limite da escrita. Em passado recente, entre nós, haviam brasileiros terraplanistas que propagavam famigeradas aberrações anticiência, torna-se premente resgatar a memória de que nesta terra valorizamos a inteligência e os feitos em prol do bem comum.
Jurista, advogado, político, escritor, diplomata, tradutor e jornalista. Ruy Barbosa de Oliveira foi muitos em um só. Nascido em Salvador (Bahia), em 5 de novembro de 1849, desde criança chamava atenção pela aprendizado rápido e inteligência aguçada. Quando atingiu idade para entrar na Faculdade, em 1866, muda-se para Recife (Pernambuco) para cursar Direito. O ano anterior foi sabático estudando alemão por concluir a formação preparatória antes do tempo. Os dois anos finais do curso faz na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, mudando com seu colega de curso Castro Alves à capital paulista.
Nesta época, começa a destacar-se pelos discursos, engajado à causa abolicionismo funda com Luís Gama o periódico Radical Paulistano. Formado bacharel em 1870 passa advogar na Bahia, no escritório do influente político Manuel de Sousa Dantas e amigo paterno. Ingressa no jornalismo no Diário da Bahia, propriedade do mesmo padrinho político que o levará, também, à política.
Em 1876, casa-se com Maria Augusta Viana Bandeira, cinco filhos nascem da união e, no futuro, vão seguir carreira na diplomacia brasileira. No ano seguinte elege-se deputado à Assembleia da Bahia, e, em 1878, à Assembleia da Corte. Em 1881, destaca-se na promoção da Reforma Geral do Ensino, onde, por sua atuação, recebe do imperador D. Pedro II o cargo de conselheiro.
Apesar de cortejado para compor o ministério imperial, recusa pela divergência por ser defensor do federalismo. Sua adesão à causa republicana foi pouco antes da deflagração da República, onde foi ministro da Fazenda e Justiça no governo Deodoro da Fonseca. Podemos sintetizar sua rápida passagem como ministro em dois acontecimentos. A ordem de queimar os livros de matrícula dos escravos, existentes nos cartórios das comarcas, e registros de posse e movimentação patrimonial. Alega-se que essa ordem visava apagar o registro da escravidão e eliminar as informações que servissem para possíveis indenizações aos antigos escravocratas. Sua gestão na Fazenda foi marcada pela crise do encilhamento, gravíssima crise econômica quando se emitia descontroladamente a produção de dinheiro sem lastro, gerando especulação financeira e alta inflação.
Nos primeiros anos da República, Ruy foi coautor da primeira Constituição republicana. Também foi autor da primeira brasileira republicana, uma cópia descarada da bandeira dos Estados Unidos, felizmente, só adotada por quatro dias e substituída pela atual imagem.
Quando Floriano Peixoto ascendeu ao poder, Ruy Barbosa foi crítico mordaz, defendendo a convocação de novas eleições. Acusado de participar da Revolta da Armada teve que exilar-se, seguidamente, em Buenos Aires, Lisboa, Paris e Londres. Longe do País, mantinha crítica ao governo através da imprensa, incluindo discordância na intervenção militar em Canudos (Bahia). No governo Prudente de Morais retorna ao Brasil.
Em 1890, elege-se senador pela Bahia, por cinco mandatos consecutivos. Entre renúncias, desilusões com a política e retornos, se manteve sempre nos holofotes da política nacional. Conta-se que em visita oficial em Paris encontrara-se com Dom Pedro II, mostrando-se arrependido de ter aderido à República.
Concorre à Presidência do Brasil em quatro eleições e perde todas. Em 1894, fica em quarto lugar. Em 1905, candidata-se, mas desiste para apoiar Afonso Pena. Em 1910, apoiado na campanha civilista concorre com Hermes da Fonseca. Derrotado, protesta no Senado Federal contra as fraudes eleitorais. A terceira tentativa foi em 1914, perdendo para Venceslau Brás. Em 1919, concorre pela quarta e última vez à Presidência, perdendo, desta vez, para Epitácio Pessoa.
O Barão do Rio Branco, ministro brasileiro das Relações Exteriores, cunhou para Ruy Barbosa o epíteto “Águia de Haia” para descrever seu destacado papel na delegação que representou o País na II Conferência da Paz, em Haia (Holanda), em 1907, ao defender o princípio da igualdade dos Estados. No final da Conferência foi honrado com a inclusão do nome entre os “Sete Sábios de Haia”. Os demais eram: o Barão Marshall, Nelidoff, Choate, Kapos Meye, Léon Bourgeois e o Conde Tornielli. Em 1921, foi eleito juiz da Corte Internacional de Justiça, como o mais votado.
Quando principia a Primeira Guerra Mundial, Ruy Barbosa foi defensor da entrada do Brasil no conflito junto aos aliados. Articulado, influente, participa de manifestações e comícios pelo Brasil contra as agressões que os navios da marinha mercante vinham sofrendo. Seus discursos e teses repercutiram internacionalmente e influenciaram a política internacional brasileira. Em 1917, a lei de neutralidade brasileira é revogada e o Brasil torna-se o único país da América do Sul a participar do conflito.
Contrário à intervenção federal na Bahia, recusa o convite de representar o Brasil na Conferência de Versalhes, que ia definir os termos da paz entre os países participantes da Grande Guerra.
Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, e seu presidente entre 1908 a 1919, após a morte de Machado de Assis. Dentre suas bandeiras de luta e posicionamentos políticos, já citado, a defesa do federalismo e abolicionismo, mas, também, a promoção dos direitos e garantias individuais, liberdade religiosa, reforma eleitoral, eleição direta, contrário ao alistamento militar obrigatório e opositor do comunismo que considerava “a invasão do ódio entre as classes” e ameaça à liberdade cristã.
Em 1922, veio a sofrer edema pulmonar, no ano seguinte, é acometido de paralisia bulbar. Falece em Petrópolis (Rio de Janeiro), em 1 de março de 1923. Foi enterrado no mausoléu da família no cemitério São João Batista, Rio de Janeiro. Na lápide foi inscrita a frase que Ruy criou para esta finalidade: “Estremeceu a Justiça, viveu no Trabalho; e não perdeu o Ideal”.
No centenário de nascimento de Ruy Barbosa, 1949, seus restos mortais são transladados para Salvador e abrigados no recém-inaugurado Fórum Ruy Barbosa. No mesmo ano, o então presidente Eurico Gaspar Dutra sanciona lei declarando o dia do nascimento do político como o Dia da Festa Nacional. Outra homenagem neste centenário foi colação de grau de todas as turmas de Direito no Brasil a serem realizadas no dia 5 de novembro.
Em 1970, a lei federal 5.579 instituiu o dia do nascimento de Ruy Barbosa como Dia da Cultura e da Ciência. Em 2018, teve seu nome inscrito no Livro de Aço dos heróis brasileiros no Panteão da Pátria e da Liberdade.
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