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Pagu eterna
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Pagu eterna

Pagu ultrapassou modelos, conceitos e campos de atuação que restringiam as mulheres no começo do século XX, tornando-se referência feminista além do seu tempo. O conhecimento e a compreensão da sua trajetória são fundamentais para todos os gêneros refletirem as condições femininas limitadoras do passado e do presente
Tipo Análise
Pagu (Patrícia Rehder Galvão), jornalista, militante política, escritora, desenhista, poetisa, caricaturista, atriz, diretora de teatro e símbolo feminista. (Foto: Reprodução Wikimedia Commons)
Foto: Reprodução Wikimedia Commons Pagu (Patrícia Rehder Galvão), jornalista, militante política, escritora, desenhista, poetisa, caricaturista, atriz, diretora de teatro e símbolo feminista.

Pagu nasceu Patrícia Rehder Galvão, em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista (São Paulo). Na família abastada e tradicional era conhecida por Zazá, desde jovem contrariava o conservadorismo da época e escandalizava os padrões que colocavam a mulher em condições de subserviência. Pagu era o avesso do que a sociedade patriarcal brasileira do começo do século XX considerava o papel feminino, distinguia-se por beber, fumar, falar palavrões, usar cabelos curtos, roupas transparentes e colantes, e, se permitir ter vários romances e trabalhar.

A família muda-se para a capital paulista nos primeiros anos de vida de Pagu. Aos 14 anos engravida e aborta do cineasta e casado Olympio Guilherme. O primeiro emprego foi aos 15, usando o pseudônimo Patsy assinava coluna criticando o governo e as injustiças sociais no Brás Jornal. Após formar-se na Escola Normal passa a integrar e ser musa do movimento modernista, aproximando-se do casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Vem dessa época a criação do apelido definitivo. O poeta Raul Bopp pensava que a bela moça chamava-se Patrícia Goulart e dedica-lhe o poema “Coco de Pagu”, o apelido vinha das primeiras sílabas do nome equivocado. De todo modo, o nome ficou, inclusive a musa declamando o poema, em 1929, no Teatro Municipal de São Paulo e, no ano seguinte, virando música.

Pagu mantinha uma relação extraconjungal com Oswald de Andrade desde 1928, quando este ainda mantinha-se casado com Tarsila. A separação do casal, em 1929, foi para Oswald viver com Pagu e tornando-se o grande escândalo na época. Em 1930, grávida, Pagu casa-se com Oswald no civil e religioso. Lembremos que, na época, a sociedade considerava que uma mulher casar grávida era motivo de vergonha, desgraça e perdição. Um mês antes do casamento o casal resolve fazer uma cerimônia além do convencional no Cemitério da Consolação. Um prato cheio para a imprensa, futricas e censuras nas conversas e casas paulistas.

O filho do casal Rudá de Andrade, nasceu em 25 de setembro de 1930. O envolvimento do casal nas causas sociais e políticas os levam a filiar-se no clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB). Fundam o jornal O Homem do Povo, que sobrevive por oito edições, Pagu além de escrever era ilustradora e cartunista.

A primeira das 23 prisões acontece em Santos (SP), em 1931, quando Pagu ajudava na organização da greve dos estivadores do porto. Sob o pseudônimo de Mara Lobo, exigência do PCB, publica, em 1933, o romance Parque Industrial, considerado um dos primeiros romances proletários da literatura brasileira.

Para fugir da perseguição do governo Vargas viaja como jornalista contratada de vários jornais brasileiros para China, Estados Unidos, Japão e França. O filho fica com o pai. Por conta de documentos falsos é presa na França e deportada ao Brasil, em 1935, graças à intervenção do embaixador brasileiro Souza Dantas. No retorno, devido às constantes traições de Oswald decide desquitar-se, sai de casa com o filho para morar sozinha.

Pagu foi presa na perseguição desencadeada a partir do fracasso da Intentona Comunista, foram cinco anos de privação e tortura. Ao sair da prisão com graves sequelas físicas e emocionais, em 1940, pede para não mais ser chamada de Pagu, desfilia-se do PCB e adere ao trotskismo. Volta ao jornalismo, trabalha por dez anos como correspondente da France Press no Brasil e integra a redação do semanário Vanguarda Socialista. Geraldo Ferraz, um dos colegas do semanário vira seu marido. Da relação nasce seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 18 de junho de 1941. Seu segundo romance, A Famosa Revista, é lançado em 1945.

Fracassa na candidatura a deputada estadual nas eleições de 1950. A partir de 1953 a família passa a residir em Santos, a vivência na Escola de Arte Dramática de São Paulo e sua ligação com o teatro de vanguarda a transformaram em atriz, diretora e animadora cultural na cidade santista.

Dentre as atividades, também abrangia coluna no jornal A Tribuna (Santos), tradução de grandes autores e escrita de contos policiais para a revista Detective, dos Diários Associados, usando o pseudônimo de King Shelter.

O câncer no pulmão foi descoberto em 1960, com o marido viaja a Paris para cirurgia e tratamento quimioterápico. Fragilizada pela doença e pelo tratamento desenvolve depressão profunda, o marido interferiu na tentativa de suicídio. O tratamento mostrou-se ineficaz, após dois anos regressa ao Brasil. Falece um mês após seu retorno, em 12 de dezembro de 1962.

Para finalizar, uma das suas reflexões que considero primorosa e poderosa:

Sonhe, tenha pesadelos se for necessário, mas sonhe”.

Foto do Sérgio Falcão

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