Logo O POVO+
Conjuração Baiana
Foto de Sérgio Falcão
clique para exibir bio do colunista

Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios) foi um movimento de independência que diferia da Conjuração Mineira por não ficar restrito à elite, mas marcado pela participação das camadas populares de Salvador (Bahia), em 1798
Tipo Análise
Bandeira da Conjuração Baiana (1798) (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Bandeira da Conjuração Baiana (1798)

A colonização portuguesa praticada no Brasil era exploratória, tratava-se de um princípio basilar da relação colônia-metrópole. O Brasil colônia era fonte de renda para a Coroa portuguesa e seus aliados.

Salvador foi a primeira capital do Brasil colônia, mas, com a queda da economia açucareira no Nordeste e ascensão da extração de ouro e pedras preciosas nas capitanias de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, em 1763, Rio de Janeiro passa a ser a nova capital para facilitar o controle e transporte da nova fonte de riquezas.

A queda de status da capital baiana refletiu-se, principalmente, na diminuição dos recursos financeiros, dificuldades administrativas, aumento dos impostos e problemas no abastecimento de alimentos.

A produção da cana-de-açúcar teve seu declínio no final do XVII, ganhou novo impulso econômico no final do século XVIII quando o mercado europeu viu-se prejudicado com a Revolução Haitiana.

A Coroa portuguesa controlava, também, o mercado de alimentos na colônia brasileira. Os produtores rurais descumpriam a plantação dos alimentos recomendados, privilegiando a cana-de-açúcar que dava mais lucros. A consequência foi desabastecimento, carestia dos alimentos, saques em armazéns de Salvador e incêndios na região.

O cenário de insatisfação e revolta contra os desmandos, abusos e caos em Salvador foi somado às ideias e influências que aconteciam no mundo. As independências do Haiti, Estados Unidos, Revolução Francesa, Iluminismo e Conjuração Mineira foram ideias que impulsionaram o descontentamento e busca por novas alternativas. Parte da elite, influenciada pelas novas ideias, reunia-se em associações, em destaque a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz. O núcleo das camadas populares era composto por sapateiros, alfaiates, soldados, escravos, ex-escravos, bordadores.

As ideias defendidas pela Conjuração Baiana eram a diminuição dos impostos, abertura dos portos, liberdade comercial, maior remuneração dos soldados, abolição da escravidão, igualdade racial e implantação da república.

Assim como a mineira, a Conjuração Baiana terminou na fase da conspiração. Em 12.08.1798, foi apreendido panfleto do movimento distribuído na saída das igrejas e colado nas paredes da cidade. Alertado, o governador da capitania da Bahia, Fernando José de Portugal e Castro, ordenou investigação. Centenas de pessoas foram denunciadas, 49 foram presas, com a maioria renegando as ideias revolucionárias.

A sentença dos acusados foi pesada para os líderes populares. O aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira, o mestre alfaiate João de Deus Nascimento, e os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas do Amorim Torres foram esforçados, em 8.11.1798, em Salvador. O ourives Luis Pires, quinto condenado, conseguiu fugir. Depois de mortos, os líderes do movimento foram esquartejados e as partes dos corpos expostos em diversos locais de Salvador como forma de aviso aos que aspirassem divergir da Coroa portuguesa.

As penas dos demais sentenciados variavam entre absolvição, prisão, açoites do Pelourinho, degredados.

Segundo o historiador Boris Fausto, recém-falecido e que homenageamos, a severidade das penas demonstra a intenção de dar o exemplo. Coroa portuguesa e elite colonial temiam a influência da insurreição dos escravos em Santo Domingo e Haiti em revoltas de negros e mulatos nas terras brasileiras.

Foto do Sérgio Falcão

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?