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O anjo das pernas tortas
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

O anjo das pernas tortas

Garrincha segura a taça diante de multidão admirada (Foto: )
Foto: Garrincha segura a taça diante de multidão admirada

Fazia tempo que não conversava com o Mestre. Do outro lado da linha, me diz que o Brasil está mesmo de cabeça para baixo. "Qual foi a última?", pergunto. A resposta veio de bate-pronto: os leitores do UOL Esporte escalaram a seleção brasileira de todos os tempos sem o Garrincha.

Consulto o link e aparece a lista: Taffarel; Carlos Alberto, Oscar, Mauro Ramos e Roberto Carlos; Falcão, Zico e Ronaldinho Gaúcho; Pelé, Romário e Ronaldo. Garrincha barrado! Bicampeão do mundo em 1958 e 1962. Aliás, em 1962, no Chile, carregou o país nas costas.

Penso que a maioria dos votantes não viu Garrincha jogar. Mas se selecionaram o Mauro Ramos e o Pelé, também deveriam tê-lo visto, pois todos eles foram bicampeões do mundo em 1962. Enfim! Ele ficou de fora e acho que merecia estar nessa seleção.

A conquista do bicampeonato permitiu o antropólogo Roberto da Mata escrever que “o futebol concedeu uma visão mais positiva e generosa de nós mesmos num plano realmente nacional e popular, como nenhum livro, filme, peça teatral, lei ou religião jamais realizou”.

E Garrincha avesso às disciplinas e regulamentos e com seu jeito simplório, divertido e espontâneo, foi peça fundamental nesse resgate do amor próprio. Enfrentava seleções de outros países como se estivesse batendo uma pelada nos campos do seu município.

Vi diversas vezes! O Maracanã lotado. A bola chegava aos pés de Garrincha. Os torcedores se levantavam e ficavam estáticos. Seu marcador ficava parado na sua frente. Garrincha fingia que ia. Não ia. Fingia outra vez. Seu marcador ia e voltava como se fosse uma marionete.

De repente um balanço no corpo e a saída rápida pela direita. Com o tempo, seus marcadores fizeram fila. Passava por quantos ali estivessem. Às vezes voltava com a bola como se quisesse dizer: "Ei! Vocês aí! Tudo em fila de novo". Foi assim que Garrincha virou a alegria do seu povo.

Tem gente que diz que ele não se adaptaria ao futebol jogado hoje em dia e por isso não o selecionaram. Sei não! Concordo com o Mestre: o país está de cabeça para baixo e o pior, não há nenhum Garrincha. Como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade: "Precisa-se de um novo que nos alimente o sonho".

Foto do Sérgio Redes

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