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A mulher tem direito ao campo, mesmo as que não brilham como Marta
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

A mulher tem direito ao campo, mesmo as que não brilham como Marta

Cronista, ex-jogador de futebol, desenlaça o histórico de machismo no esporte para ressaltar a importância da visibilidade que a seleção feminina vem conquistando com muito esforço
Tipo Crônica
Sessão de fotos - Seleção Feminina Principal - Jogos Olímpicos de Tóquio. Marta (Foto: Sam Robles/CBF)
Foto: Sam Robles/CBF Sessão de fotos - Seleção Feminina Principal - Jogos Olímpicos de Tóquio. Marta

Quando a seleção brasileira feminina de futebol entra em campo na Copa do Mundo, nos Jogos Pan-Americanos ou nas Olimpíadas, locutores, comentaristas e repórteres aplaudem e falam da importância que deve ser dada a prática do futebol pelas mulheres.

Passado o período dessas competições, o futebol feminino volta ao ostracismo e, se está conseguindo ganhar seu lugar de fala — como se diz hoje em dia —, deve-se mais à batalha permanente que as mulheres mantêm para ampliar seu espaço numa sociedade que as discrimina.

Meninos passaram a infância, a adolescência e parte da juventude jogando bola nos campos de várzea. Eu era pequeno, liso e abusado, e, quando a bola chegava, queria sair driblando. "Pega ele", dizia um! "Deixa comigo", dizia outro! "Futebol é pra homem", diziam todos.

Cresci ouvindo essas coisas e, quando me tornei profissional, compreendi como a mídia esportiva associava o futebol ao erotismo através da relação bola-mulher. Do Oiapoque ao Chuí, era comum ouvir que o jogador “comeu a bola” ou “entrou com bola e tudo”.

“Goleiro casado deveria dormir abraçado com as duas: a bola e a mulher”. Nessas expressões eram notórias as tentativas de se julgar a mulher como algo que estivesse à disposição do homem. O preconceito salta aos olhos, colocando-a num plano inferior.

O preconceito foi oficializado através de um decreto-lei 3.199/41 do então presidente Getúlio Vargas, que no seu artigo 54 rezava não ser permitida a prática de esporte "incompatível com a natureza feminina". Vigorou até 1983. Por natureza feminina, entenda-se cuidar da casa e dos filhos.

Evidente que tem atividades esportivas mais afeitas a um ou outro gênero, mas não deixa de ser verdadeiro que as meninas foram proibidas de jogar bola. Com o tempo, as coisas foram mudando e a lei também mudou. Hoje em dia, tem garoto que brinca de boneca e menina que joga bola.

Entender e apoiar essa evolução é fundamental para tornar a vida melhor. Implica em compreender e estimular os papéis da mulher na sociedade atual. Não como refém de leis ou de interesses de grupos reacionários e conservadores que tolhem seus movimentos.

E nem precisa brilhar tanto como Marta. Estreou quarta-feira na Olimpíada de Tóquio e fez dois gols. Sua história de conquistas e superação atingiu o ápice ao ser eleita por seis vezes a melhor do mundo. O sexto título foi em 2018. Lugar de mulher é onde ela quer.

Foto do Sérgio Redes

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