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O goleiro
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

O goleiro

Jogadores de linha são sempre perdoados. Gol perdido, passe errado, furada de zagueiro, firula desnecessária. O goleiro, nunca. Um frango marca sua carreira para sempre
Tipo Crônica
Goleiro Ederson em treino da seleção brasileira no Grand Hamad Stadium, em Doha, no Catar (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)
Foto: Lucas Figueiredo/CBF Goleiro Ederson em treino da seleção brasileira no Grand Hamad Stadium, em Doha, no Catar

Vez por outra, corro atrás de publicações que tratam das histórias sobre as origens do futebol. Tinha, e nem sei onde anda mais, a apostila imaginária do falecido professor de futebol Célio Cidade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lembro do capítulo dedicado ao goleiro.

Segundo o autor, o futebol é jogado com 11 jogadores porque as escolas e as universidades inglesas só tinham dez alunos em cada classe. No fundo da sala, atento a qualquer desatenção dos alunos, e, pronto para reprimir, um bedel com uma palmatória na mão.

As classes se enfrentavam e o bedel era escalado como goleiro. Amparados por uma regra que permitia o uso das mãos e dos pés, valia segurar, agarrar o adversário e até derrubá-lo no chão. O bedel sofria quando os lances aconteciam nas proximidades da meta que defendia.

Ao longo da história, analisando qualquer literatura sobre os sistemas táticos, percebe-se que o goleiro não conta. Os exemplos são muitos: WM; 4-3-3; 4-2-4; 5-4-1; 3-4-3; 4-1-4-1; 3-5-2 e por aí vai. Cabe ao goleiro não deixar a bola entrar na sua meta, daí o poder de pegá-la com as mãos.

No Brasil, o preconceito era grande. Dizia-se que onde o goleiro pisava não nascia grama e que ou era maluco ou homossexual. Jogadores de linha são sempre perdoados. Gol perdido, passe errado, furada de zagueiro, firula desnecessária. O goleiro, nunca. Um frango marca sua carreira para sempre.

O desprezo começava quando criança. Uma regra das peladas de rua indicava que duas pessoas tiravam um par ou ímpar. O vencedor escolhia o primeiro, o perdedor o segundo e assim sucessivamente, até sobrarem os dois últimos considerados ruins de bola e que seriam os goleiros.

Outra regra da pelada rezava que no caso de ninguém querer ser goleiro, a solução sugerida era de que todos os jogadores revezariam na meta. A troca de goleiro era combinada entre o vencedor e o perdedor do par ou ímpar. Aconteceria quando saísse um gol para qualquer lado.

Hoje em dia, todo goleiro tem que saber jogar com o pé. É uma exigência do futebol moderno. Os europeus fazem bem. O Brasil engatinha. O melhor brasileiro que vi foi o Felipe Alves. Quando os zagueiros abriam para os lados e ele, de posse da bola, fazia a linha de três, os corações tricolores ficavam em polvorosa.

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