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Lugar de mulher é onde ela quer
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

Lugar de mulher é onde ela quer

No jogo de domingo passado, 37 mil mulheres e crianças estiveram no Castelão para assistir a Ceará x Novorizontino
Tipo Crônica
FORTALEZA, CEARÁ, 28-05-2023: Jogo pela Série B, do Campeonato Brasileiro. Ceará x Novorizontino, com derrota alvinegra, de 0x3. Público composto inteiramente de mulheres, crianças e pessoas PCD.  (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA, CEARÁ, 28-05-2023: Jogo pela Série B, do Campeonato Brasileiro. Ceará x Novorizontino, com derrota alvinegra, de 0x3. Público composto inteiramente de mulheres, crianças e pessoas PCD. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

Cresci nos campos de várzea e quando a bola chegava aos meus pés, tentava driblar quem aparecesse na minha frente. Dono de algumas habilidades, era convidado para jogar com os mais velhos e nenhum deles gostava de tomar a bola entre as pernas ou um lençol.

Reagiam com faltas e palavrões! Reclamava e ouvia a resposta: "Futebol é para homem". Depois que virei profissional, entendi melhor esse machismo. Certa vez, fomos jogar em Juazeiro e levamos uma hora de ônibus cantando "Homem com H", do Antonio Barros, lá de Campina Grande.

A seu modo, a mídia esportiva sempre estimulou o machismo associando o erotismo da relação bola-mulher e as expressões “comeu a bola; entrou com bola e tudo; controlou a bola no peito e a deixou escorrer pelo corpo” fizeram a cabeça de muita gente.

Analisando esses ditos, fica claro a condição da mulher como objeto a ser utilizado e, se olharmos pelo lado afetivo, percebe-se que as palavras, ao invés de ressaltarem as condições de uma mulher como musa inspiradora, a colocam num plano inferior.

Uma parcela significativa das mulheres tentou jogar futebol. Na década de 1940, algumas equipes se formaram no eixo Rio, São Paulo e Minas. Chegou ao ponto de um cidadão chamado José Fuzeira escrever uma carta para o presidente Getúlio Vargas, da qual extraio algumas linhas absurdas.

"Venho solicitar a atenção de V.Exª. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Não levam em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento sem alterar o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas”.

O preconceito que reinava na sociedade deu forças para que o presidente Vargas, em 1941, regulasse o comportamento das mulheres através de um decreto-lei, que rezava no seu artigo 54 que não seria permitido a prática de esportes incompatíveis com a natureza da mulher.

Passados mais de 80 anos desse decreto, pleno de hipocrisia e preconceito, os pré-julgamentos vêm caindo por terra. O que tem de menino brincando de boneca e menina jogando futebol é um assombro. O interesse das mulheres pelo futebol vai aumentando dia a dia.

No jogo de domingo passado, o Ceará enfrentou o Novorizontino. A Justiça Desportiva decidiu que só podiam entrar mulheres, crianças e pessoas com deficiência. Trinta e sete mil mulheres e crianças estiveram presentes. O Ceará perdeu de 3 a 0. O lugar de uma mulher é aonde ela quer.

Foto do Sérgio Redes

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