
O ex-jogador Sérgio Redes, ou
O ex-jogador Sérgio Redes, ou
Fui ao velório do Belmino. Cheguei cedo. Como não tenho o hábito de rezar, tentei afastar a tristeza e cantarolei para mim. "Io che Amo solo te". Um dia descobrimos que éramos fã do cantor italiano Sérgio Endrigo e passamos a chamar um ao outro de Endrigo.
A última vez que o vi tinha sido numa pracinha arborizada, ali na Seis Bocas. Marcamos um encontro que começou na hora do almoço e terminou ao anoitecer. Não íamos passar a tarde toda sem tomar uma e, como estávamos num quiosque da sua jurisdição, volta e meia ele chamava o garçom.
"Ei, macho véio!". E chegavam duas doses de cachaça, acompanhadas de uma pequena jarra com suco de caju. Embalados pela perspectiva de trabalhos conjuntos, começamos a costurar, como se tivéssemos agulha e linha, os pontos falsos do mundo do futebol.
Lamentei o êxodo de jovens jogadores brasileiros. Falei que nós vendíamos o artista para depois comprar o espetáculo. Critiquei as autoridades jurídicas e policiais por encararem quase como normal o que acontecia de violência no futebol dentro e fora dos estádios.
Assinou embaixo e completou dizendo que milhões de pessoas se deslocam dentro dos seus municípios toda semana para assistirem aos jogos e que a insegurança reinante dá um medo geral e, no mundo “business”, afasta a credibilidade do produto futebol.
Perguntei por que parou com a televisão. Sem citar nomes, deixou a entender que, em nome de uma pretensa modernidade preconceituosa, a sua experiência como comunicador, fiel à linguagem e ao jeito de ser nordestino, foi relegado a um segundo plano.
Saí dali em estado de graça e, quando o vi no velório, meu coração ficou apertado. Ao mesmo tempo, lembrava da grandiosidade do seu espírito. Centenas de pessoas reconheceram sua importância através das redes sociais. Parodiando Vinicius de Moraes: “Se todos fossem iguais a você/ que maravilha viver.”
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.