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Vendo o artista e compro o espetáculo
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Carioca de nascimento, mas há décadas radicado no Ceará, Sérgio Rêdes — ou Serginho Amizade, como era conhecido nos campos —, foi jogador de futebol na década de 1970, tendo sido meia de clubes como Ceará, Fortaleza e Botafogo-RJ. Também foi técnico, é educador físico, professor e escritor. É ainda comentarista esportivo da TVC, colunista do O POVO há mais de 20 anos e é ouvidor da Secretaria do Esporte e Juventude do Estado

Vendo o artista e compro o espetáculo

América do Sul ainda é protagonista do futebol. Mas o esporte precisa ser mais bem administrado para os times daqui voltarem a vencer títulos mundiais
Promessas brasileiras, como Estêvão, são vendidas ainda na adolescência para o futebol europeu (Foto: Francois Nel / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
Foto: Francois Nel / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP Promessas brasileiras, como Estêvão, são vendidas ainda na adolescência para o futebol europeu

Não sou muito de estatísticas, porém é inegável que os dados expostos nos meios de comunicação nos oferecem argumentos para analisar um fato. Uma pergunta toma conta do universo do futebol. Quem é melhor de bola? Os europeus ou os sul-americanos? Claro que os sul-americanos.

Recorte do site do Uol: a lista dos países com mais jogadores nesse Mundial de Clubes. Em primeiro lugar o Brasil, com 141 jogadores, em segundo a Argentina, com 103. Uma análise precipitada pode sinalizar que somos o país do futebol, mas não devemos esquecer os argentinos.

Li um artigo da enciclopédia Wikipedia: a lista dos clubes campeões mundiais reconhecidos pela Fifa no período entre 1960 e 1999. Placar: América do Sul 21 x 18 Europa. Do ano de 2005 para cá foi que desandou. Ganhamos três títulos enquanto os europeus ganharam 18 títulos.

O placar hoje sinaliza 36 títulos europeus contra 24 sul-americanos. O que houve? A tragédia da final da Liga dos Campeões de 1985, entre Juventus e Liverpool, em Bruxelas (Bélgica), onde morreram 39 pessoas e 600 ficaram feridos, sinalizava que era necessário diminuir a violência dentro e fora dos estádios e, para isso, era necessário tomar medidas drásticas.

Perceberam que tinham de melhorar a qualidade do espetáculo e valorizar o torcedor. Formaram as ligas e melhoraram os gramados e os estádios. Entenderam que futebol deve ser jogado com talento e criatividade. Daí a contratação de jovens promessas de países sul-americanos e africanos.

Na certeza de que o futebol bem administrado era uma porta aberta para o “business”, dirigentes de clubes e ligas fizeram do mercado sua estrela-guia. Prato feito para os patrocinadores, que unem o útil ao agradável e veem no time do seu coração publicidade para seus produtos.

Com quatro clubes classificado às oitavas de final, o futebol brasileiro vai tentar retomar um título que não consegue há 13 anos. Ainda engatinhando no processo civilizatório, um ou outro clube querem romper essa relação promíscua que envolve federações, empresários, investidores e CBF.

Somos bons de bola e ruins da bola (cabeça). Nesses oito milhões de quilômetros quadrados, um garoto começa a aparecer e imediatamente um clube do exterior o contrata. Depois, a gente paga para vê-lo na televisão. Estamos na contramão da história. Vende-se o artista e depois compra-se o espetáculo.

Foto do Sérgio Rêdes

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