A agressão sofrida pela torcedora do Grêmio e seu filho no jogo contra o Internacional, no Beira-Rio, ocupou o noticiário do País. O vídeo me impressionou: enquanto a mãe é agredida, o menino chora e tenta de toda maneira recuperar sua camisa.

Pensar que nossa sociedade sempre estimulou a violência. Foi a forma encontrada pelos donos do poder para manter a desigualdade social sob controle. Por isso criou-se o instinto e a necessidade de luta. E tome violência! Filha direta das injustiças.

Os exemplos estão por aí. Basta abrir o noticiário. Na contra mão da violência, o futebol, com sua alegria e despreocupação, é a alegria do povo. A imensa maioria de pobres e ricos se encanta com ele e detestam ou amam seus ídolos à medida que se sentem correspondidos ou não.

Só que numa sociedade violenta e desigual como a nossa, o pavio imaginário está sempre pronto para ser aceso. Vivi essa violência dentro de um campo de futebol quando a torcida do Fortaleza derrubou o alambrado do Estádio Presidente Vargas num jogo de futebol.

Faz 47 anos. O Louro, lateral-direito do Fortaleza, deu um pontapé num jogador do Calouros do Ar. O juiz não viu o lance direito e me expulsou. A torcida desceu e começou a pressionar. O alambrado desabou e a torcida invadiu. Do outro lado, a Polícia também entrou.

Entrou para acabar com o conflito, só que dando tiro pro alto e baixando o cacete. E nós, com a autoridade de jogadores que tínhamos procurado proteger os torcedores. Gente caída no chão, pessoas desmaiando, crianças chorando. Parecia o fim do mundo.

O que levou aqueles torcedores a derrubarem o alambrado e a invadirem o campo não deve ter sido a expulsão de um jogador. O que levou a Polícia a dar tiro para o alto e baixar o cacete não deve ter sido por ódio aos torcedores, e sim, manter a "ordem e progresso".

Algumas vezes sonhei com o episódio relatado acima. Nunca foi legal. Sempre acordava assustado. O corajoso garoto com a camisa do Grêmio, que tentou de todas as maneiras recuperar sua camisa, vai se lembrar a vida inteira da covardia que fizeram com ele.