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Driblar e driblar: a arte do brasileiro que tem sumido dos campos nacionais
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

Driblar e driblar: a arte do brasileiro que tem sumido dos campos nacionais

Tipo Crônica
Ronaldinho Gaúcho marcou pela criativaidade nos dribles (Foto: Jose Luis Roca/AFP)
Foto: Jose Luis Roca/AFP Ronaldinho Gaúcho marcou pela criativaidade nos dribles

Antigo que sou, ligo a vitrolinha e ouço Feitio de Oração, obra-prima de Noel Rosa, nas vozes de João Nogueira e Luiz Melodia: "Batuque é um privilégio/ Ninguém aprende samba no colégio/ Sambar é chorar de alegria/ É sorrir de nostalgia/ Dentro da melodia".

Impossível falar de samba e não pensar na semelhança entre um passista e um jogador que dribla. O drible também não se aprende na escola e o jogador que gosta de driblar vive em contradição com essas teorias "científicas" que tentam sistematizar os movimentos, engessando o jogo.

Ritual é conhecido. Depois de cada jogo, a entrevista do "professor". Sentado numa mesa comprida e tendo por trás de si o nome dos patrocinadores da competição, o técnico recorta do jogo os momentos que lhe interessam.

E tome passe, chute, controle da bola, condução da bola, retomada da bola, manobras ofensivas, manobras defensivas, posse de bola, intensidade, força física, recomposição e por aí vai. Com uma boa oratória, é possível se sustentar no cargo mesmo perdendo.

Nem uma palavra sobre o drible. Vejam bem, caros leitores, a habilidade na condução da bola e a sinuosidade do corpo em movimento iludindo o adversário, que sempre foram a marca registrada do jogador brasileiro, ficaram relegadas a um segundo plano.

E pensar que a história gloriosa do nosso futebol está ligada ao drible. Vou citar Garrincha e Pelé de passagem, mas vejam o estrago que Ronaldo Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Romário, Rivellino, Jairzinho, Zico, e muitos outros faziam nas defesas adversárias.

A goleada que tomamos da Alemanha na Copa de 2014 criou um fascínio pelo futebol europeu. Estamos exportando nossos melhores jovens e repatriarmos veteranos em final de carreira. Copiamos medidas que são ruins para a gente. Essa de cortar a grama rente e molhar o campo prejudica o drible.

Dizem que os brasileiros precisam estudar futebol. O que dizer então do Bruno Henrique, melhor jogador de 2019, e Michael, a revelação, que até os 20 e poucos anos jogavam na várzea. Parodiando Noel poderia dizer: "Driblar é um privilégio/ Finta não se aprende no colégio".

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