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Tudo pelo social e o povo pelo elevador de serviço
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O ex-jogador Sérgio Redes, ou

Tudo pelo social e o povo pelo elevador de serviço

Do isolamento possível a uma pessoa de renda média, observo da janela do quarto o vai e vem das motocicletas. Lutam contra o tempo. Mais rápido mais dinheiro. É a uberização das relações de trabalho! Da sala, uma interpretação do Fagner ressalta o momento que vivemos.

Incêndio!, de Petrúcio Maia e Belchior: “Estou aqui/ parado olhando o incêndio/ do alto do prédio os rolos de fumaça/ Vejo da janela dos meus olhos/na cidade magoada/ a usina de sonhos tão parada. Entendo o fogo porque sou daqui/ estas paredes porque sou daqui”.

O celular toca. Estranho o número que aparece na tela e, com o coração em sobressalto, dou o alô. Independentemente do tempo, notícia ruim corre rápido. Do outro lado da linha a voz o identifica: "É o Valdir Cabral! Presidente do Conselho Deliberativo do Terra e Mar".

Uma lenda do Mucuripe. Pau para toda obra. Se precisar escalar uma turma para fazer qualquer coisa, comece por ele. O time sempre foi ele e mais dez. Junto com Bráulio, Cajueiro, Cacheado e outros, fizeram com as mãos o campo que com o tempo virou estádio.

Segundo o Geraldo, atual presidente, ele é o único vivo para contar a história. E é com essa autoridade que ele liga para me dizer dos 82 anos do Terra e Mar, que seriam comemorados agora no dia 1º de junho. Com a voz embargada, me diz que a pandemia adiou a festa.

Aconteceu o que eu temia. Tinha a certeza que quando o vírus transpusesse os limites dos bairros de classe média viria a tragédia. E não pensem que é só aqui. O país têm as suas Aldeotas e seus moradores de nariz empinado se reconhecem no ditado “farinha pouca meu pirão primeiro“.

A Organização Mundial de Saúde sugeriu isolamento social. Tudo bem! Não temos ainda nenhuma vacina nem remédio que nos defenda diretamente do vírus, mas o que sugerir para essa turma do andar de baixo, que vive isolada socialmente desde que nasceu?

São as maiores vítimas da pandemia. Da mesma janela que vejo as motos, os vejo passar diariamente em direção a Caixa Econômica na esperança de receber o benefício federal. A maioria vem do Mucuripe e adjacências. Todos juntos. Foi a forma que eles tinham encontrado de sobreviver.

Foto do Sérgio Redes

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