Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro
Escritora e jornalista com doutorado em estudos da literatura pela Universidade Federal Fluminense. Ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria de Literatura Infantil com o livro
De todas as crônicas que escrevi nestes cinco anos e sete meses como colunista do Jornal O POVO, sem dúvidas a mais conhecida e reproduzida foi “Sobre os felizes”. Foi um dos dez links mais acessados do jornal naquela semana. Até hoje alguém comenta que recebeu por e-mail, ou em um grupo no Whatsapp em vários lugares diferentes. Acontece sempre de confirmarem se é mesmo meu ou se é um apócrifo, mas eu explico que os apócrifos são coisas que acontecem com gente famosa e morta, como Clarice Lispector. Não cheguei neste ponto: a fama é um engano, a morte é uma certeza, mas eu nunca estive tão viva. Desejo a vida intensamente, todos os minutos.
Além das inúmeras reproduções, soube também que “Sobre os felizes” tem sido a leitura de Natal de muitas famílias, que abre sessões religiosas em diversos tipos de cultos, em grupos de estudo de filosofia e por acaso descobri que o texto foi interpretado com muita veemência em alguns vídeos disponíveis no YouTube.
Quando eu sento para escrever, sei que vou falar com muitas pessoas. Para ser honesta nessa comunicação, parto do princípio da verdade que está na natureza da crônica, este gênero que leio e conheço muito bem na prática semanal. Até aqui foram trezentas crônicas no jornal O POVO. Todas as semanas eu dedico tudo que tenho, por uma hora, para exercer esse ofício, para falar das coisas que passam pelo meu espírito, como disse Montaigne. O efeito que cada texto terá no leitor é sempre um mistério.
No dia em que escrevi “Sobre os felizes”, eu estava profundamente triste, magoada, desapontada. Talvez tenha sido uma das fases mais difíceis da minha vida. Quando eu não esperava, recebi o telefonema de uma pessoa que eu conhecia muito pouco. O nome dela é Galeara. Eu estava grávida e ela gostaria de me visitar com seu marido, Eudes e um casal de amigos muito queridos, Joaquim e Suzana. Foi uma visita feliz de fim de tarde. Conversamos demoradamente ao redor da mesa, tomamos café e dei muitas risadas. Esqueci da tristeza durante o tempo em que estiveram lá. Na despedida fizemos uma foto e a Galeara colocou a mão na minha barriga – onde Camila estava bem guardada. Foi como um beija-flor pousando no galho de uma roseira, um gesto de paz.
Quando eles foram embora eu estava feliz de novo. Fiquei pensando na Galeara, nessa doçura toda, nesse jeito de entregar o coração a quem mal conhece, de amar por inteiro. Sem saber, eles curaram minha dor. Entraram sorrindo, saíram sorrindo e me fizeram sorrir. Isso é ser feliz e eu decidi que queria ser como eles, também. Comecei a pensar nisso: as pessoas mais felizes que conheci são as mais generosas. Resumo dos bastidores: minha crônica mais esperançosa nasceu de uma grande tristeza e fez bem a muita gente. É para isso que escrevo, para fazer o bem.
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Nesse parágrafo final, encerro o meu período como cronista do jornal O POVO agradecendo a cada pessoa que leu minha coluna, que comentou na rua, por e-mail, nas redes sociais ou que guardou no coração as minhas palavras. Não vou parar de escrever, apenas mudar de casa. E o POVO, minha primeira morada como jornalista, está gravado no coração.
Foram trezentos encontros. Trezentos textos de quinhentas palavras. Cento e cinquenta mil palavras que eu resumo agora em uma só: esperança. É dela que vamos tirar forças para superar essa tragédia coletiva, rumo a um novo tempo. A esperança é a mãe da coragem. Avante!
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