As roupas não se alinham ao tempo que são recebidas: "Estamos nus"
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É jornalista e designer de moda formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Integrou a equipe das Revistas e do Núcleo de Cultura e Entretenimento (caderno Vida&Arte). É repórter da assessoria de comunicação do O POVO. Escreve para a Supernovas aos domingos. Aborda moda e beleza em relação ao corpo e memória, saúde e bem-estar.
Na última quarta-feira, o café desceu frio e mais amargo do que de costume, mesmo gostando dele sem açúcar, nenhum tipo. Como os tempos dos tempos sem gosto para gosto: foi amargo. "O país passa pela maior crise sanitária de sua história", escutei, ao menos, não a seco. Que tempos! Não pedi para ser testemunha, mas, infelizmente, estou. Estamos - e estamos é nus. Explico. Mas, antes, esqueça qualquer impressão fútil ou feminina que tenha associado a este "dilema". Também não vamos evocar corpo e pudor. Estar nu tem sido diferente, ao menos para mim, que relata. A sensação é misto talvez de fragilidade e impotência. A mesma com que me deparei em meados de 2019. À época, os ânimos estavam à flor. Suspeitava-se de nova guerra mundial. Lembra-se? Eu sim. Como se fosse hoje, quis dizer exatamente essa sensação do que é estar nu. Não apenas lembrar como a moda empresta-se do utilitarismo militarismo como um só estilo. A intenção era maior, como agora, sem ter - de propósito - o que dizer que está na moda ou super cool. Vi todos os looks do Grammy e nenhum me despertou "esse é desejável". O que é desejável se não a vacina, no momento? As roupas não se alinham ao tempo que são recebidas - não a mim, no momento. Em circunstâncias diferentes, estamos em guerra, mas contra o vírus, que insiste entre nós, brasileiros, principalmente. Estamos nus. Com roupas, mas nus. Com medidas de segurança adotadas (salve exceções), mas nus. Com marcas se reinventando no online e aquecendo o mercado desta forma, mas nus. Com distrações para nos fazer "anestesiar" este momento, mas nus. Você entende? Registramos na última semana a maior quantidade de óbitos desde o início da pandemia que completou - já - um ano sem um plano firme apresentado pelo governo federal. Eu, há dias, trancada. Eu, há dias, assistindo. Eu, há dias, sem querer nem acreditar. Meio à deriva. Marcas também. Eu, você (que se importa), nós. Estamos nus. Só consigo pensar. Só consigo sentir. Estamos nus. E não é nem será a última vez por alguma coisa. Também não tem nada a ver com roupa, repito. Tem tudo a ver com "roupa". Que outra me serve agora se não a própria pele, novamente? Estamos nus. É essa a sensação que não deixo de ir embora só para te dizer bonitezas. Mesclo. Vou mesclando. Quando não dá, não dá. Hoje, sinto-me nua. Continuo nua. Conte e nua. Nua.
Ao longo dos anos, me achei no vermelho. Primeiro, ele nasceu da proibição. “Tira esse batom que ele é coisa de ****”. Já me falaram. Já me apontaram o dedo e me “devoraram” sem que eu quisesse ou permitisse só por estar de vermelho, nos lábios, não posso? É duro ter de se provar ao outro, quando não se quer provar nada a ninguém, apenas “libertar”, viver intensamente a forma que encontrou ser mulher.
Se estou de vermelho, na boca ou nas unhas, pode apostar: é o meu humor falando. “Estou me sentindo” e isso é ótimo. Cresço quando me assumo. Cresço quando vejo outras mulheres tendo essa brecha também. Foi como a Natura resolveu celebrar para o Dia das Mulheres, com a coleção Natura Una #MeuVermelho.
O que me deixou feliz pois não vi nem existe um só vermelho. Sou todos, em versões variadas. Tenho fortalezas, como minhas fraquezas, nesse contraponto. Insisto em ficar de pé ou corro, corro como os lobos, que foi a indicação - bravo! - de leitura enviada junto com os itens. (Surpresa!).
Natura é avantgarde. Nós, mulheres, idem. E o mais interessante é como podemos potencializar isso com a autodescoberta, seja ela pela moda, seja ela pela beleza. Somos nós ou quem descobrimos que somos, naquele hoje. Hoje.
Quando bati o olho no efeito marmorizado dos batons, vi que era exatamente sobre isso. A transformação que é ser mulher, todos os dias. Outra coisa que fiz foi tatear a palette de sombras, que é multifuncional. Cobri logo as pálpebras de vermelho. Por que não? Também fiz o risco de delineador vermelho - vermelho! Achei o máximo.
Reconhecer-se é o máximo. Não vou cansar dessa boa ideia que é vestir-se de si. Sou #MeuVermelho. “Sua verdade”, a cor do esmalte que me define. Choque. Viva.
CLÁSSICO DOS CLÁSSICOS - Quer estampa mais reveladora do que essa? Traz logo o logo de cara, sem cerimônias, repetidas vezes. Foi só o que se viu nesta última rodada de apresentações internacionais fora o fator galáctico de espaço sideral invadindo o humor dos looks. Vamos fugir? Aceita-se monograma. Esse da imagem é Piccadilly.
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