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Tales M. de Sá Cavalcante: É a lei
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Reitor do FB Uni, diretor-geral da Organização Educacional Farias Brito e presidente da Academia Cearense de Letras. Além dessa, é membro de cinco academias. Entre as suas produções literárias, destacam-se os textos mensalmente publicados no O POVO e as coletâneas de seus artigos, discursos, opiniões e entrevistas

Tales M. de Sá Cavalcante: É a lei

No último julgamento da 1ª Turma do STF, não torci por A, B ou C. Mas ressalto a ministra Cármen Lúcia por destacar o brilho de Victor Hugo no livro "História de um crime", que analisa um golpe de Estado ocorrido há quase 170 anos
Autora de diversas obras jurídicas, Cármen Lúcia é ainda membro honorário do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Autora de diversas obras jurídicas, Cármen Lúcia é ainda membro honorário do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB).

O jogo era decisivo. Para o Ceará sagrar-se campeão, bastava-lhe o empate. O Ferroviário precisava ganhar, mas o que víamos no Castelão nos dava a impressão contrária. Os jogadores do Vovô, aguerridos em busca do gol, e os do Ferrim, tranquilos, a contentar-se com os toques de bola.

No intervalo, encontrei um amigo, como eu, torcedor do Ferroviário, que logo disse: "Viu aí o que é um time cadenciado?" Insatisfeito com a atuação de minha equipe preferida, lembrei que o amigo era apaixonado pelo Ferrim. É perfeitamente aceitável a paixão nos esportes, com as devidas exceções, como considerar inocente, por ser do seu time, um goleiro que assassinou a própria namorada por motivo torpe.

Entre seres humanos, a paixão é por demais evidenciada na seguinte menção atribuída à historiadora Déa Fenelon: "O amor é o movimento permanente do coração, e a paixão é o movimento violento da alma."

Já a paixão por um(a) político(a) ou um partido político, a meu juízo, é fora de propósito, razão pela qual, no último julgamento da 1ª Turma do STF, não torci por A, B ou C. Mas ressalto o êxito da ministra Cármen Lúcia, em especial, ao destacar o brilho de Victor Hugo no livro História de um crime, que analisa um golpe de Estado ocorrido há quase 170 anos.

O escritor francês estabeleceu o seguinte diálogo entre alguém da Armada e uma autoridade:

- "Você acredita nisso?

- Sem dúvida. Nós somos a minoria e seríamos a maioria. Nós somos uma porção da Assembleia e agiríamos como se fôssemos a Assembleia inteira. Nós, que condenamos a usurpação, seríamos os usurpadores. Nós, os defensores da Constituição, afrontaríamos a Constituição. Nós, os homens da lei, violaríamos a lei. Um golpe de Estado."

O outro responde: - "Sim, mas um golpe de Estado para o bem."

Ele diz: - "O mal feito para o bem continua sendo mal."

- "Mesmo quando ele tem sucesso?"

Ele diz: - "Principalmente quando ele tem sucesso."

- "Por quê?"

- "Porque então ele se torna um exemplo e vai se repetir."

O outro ainda redarguiu: - "Mas a razão de Estado existe."

Ele diz: - "Não, o que existe é a lei, é o Estado de Direito."

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