Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
O visita inesperada chegava na porta de casa de alpendre, localizada no ponto mais alto da comunidade, em hora inconveniente. Quando mamãe estava cuidando dos afazeres domésticos entre o almoço no fogão, a limpeza da casa, o olhar nos filhos mais novos que brincavam no terreiro e à espera dos mais velhos que iam a pé para a escola na sede do município.
A "visita", formada por uma comitiva de candidatos a vereador acompanhada do postulante a prefeito, chegava como se fosse de casa, cumprimentando com aperto de mão quem estava por ali. Puxando uma conversa boba. Pedia um água, que era servida em copo de alumínio com o líquido retirado do pote. Aquilo deixava minha mãe nervosa, pois meu pai não estava em casa. E era ele quem indicava o caminho político a ser seguido.
O incômodo, porém, jamais impediu que ela fosse sincera e dissesse ali na cara deles que já tinha um escolhido. O voto era do afilhado-sobrinho que não poderia faltar, mesmo que já o desperdiçasse há mais de três eleições. A sinceridade dela logo afastava a visita que partia para outras casas em peregrinação em busca do voto para as eleições.
Relembro o modelo do passado de pedir voto, para afirmar que esse mesmo padrão continua a estabelecendo vínculo com o eleitor nas eleições para prefeito em 2020. Nem mesmo uma pandemia causada pelo coronavírus, que se espalhou pelo Brasil, foi capaz de mudar o modelo.
O eleitor quer a visita para as conversas de pé de orelha com o candidato, acha importante o aperto de mão, os comícios, as reuniões que tiram a monotonia dos dias. Contrair a Covid-19, uma doença traiçoeira, parece não ter muito importância para quem já enfrenta a violência, a dengue, chikungunha e a falta de assistência médica no dia a dia. Muitos até enxergam e sabem que é necessário o distanciamento, mas não é uma opção. Para viver, dependem da renda que vem das transações do comércio nas feiras nas pequenas cidades e dos aplicativos nos grandes centros. A precarização dos dias chegou até nós.
O candidato, por sua vez, se aproxima dos eleitores, se intrinca no meio deles, para ser visto e para se mostrar igual a eles. É algo que pode ser conquistado ao longo dos anos, mas é regra durante a campanha. Se a Justiça Eleitoral permite as carreatas, as pequenas reuniões e até comícios, qual o candidato que terá coragem de abdicar desses atos de campanha? Quem tem a máquina nas mãos usa. Porém, esse padrão precisa ser mudado em nome da saúde pública.
A Justiça Eleitoral e o Ministério Público têm hoje uma responsabilidade imensurável de zelar pela saúde dos eleitores. Ainda é tempo de chamar as coligações e os candidatos para firmar pacto como o objetivo de minimizar o dano causado pela pandemia que ainda está por aqui. No Ceará, já ocorreram algumas decisões para impedir aglomerações durante a campanha como em Quixadá, Choró, Banabuiú e Ibaretama na 6ª Zona Eleitoral e Tauá na 10ª. É uma atitude necessária e de responsabilidade pública. Se não for assim, a Covid-19 virá mais forte nos últimos meses deste 2020 já tão sofrido.
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