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Carta a 2021
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

Carta a 2021

Fortaleza, 31 de dezembro de 2020
Tipo Crônica
Bênção na Praça de São Pedro, no Vaticano
 (Foto: VATICAN MEDIA / AFP)
Foto: VATICAN MEDIA / AFP Bênção na Praça de São Pedro, no Vaticano


Caro, 2021


Estou escrevendo esta carta, que não é coisa comum por esses dias, para dar notícias de 2020, na esperança de que você não se assuste com os acontecimentos que passamos em um ano tão atípico e chegue suave, de mansinho, sem muito alarde para acalmar os nossos corações.


Queria que essas linhas ajudassem a trazer uma nova era, mas preciso contar sobre os aperreios de 2020. Tivemos um ano muito estranho. Fomos ao fundo do poço, derretemos por dentro com medo de um vírus que chegou por aqui e decidiu ficar. Foram meses de dor com a ida de muitos e melancolia causada pelo isolamento. Olhando para o início do ano, parece inacreditável o que passamos. Cidades paradas, ruas desertas, pobreza chegando a olhos vistos. Mas se 2020 foi de dor, também viu desabrochar beleza. Não quero aqui glaumorizar o sofrimento, mas apenas lhe contar de coisas boas encontradas em meio ao caótico, no intuito de lhe ajudar a trazer um pouco de alívio.


Sabe 2021, em meio à pandemia, encontramos pessoas mais fortes do que a gente. E foi bom contar com elas. Foi essencial ver gente saindo às janelas, soltando a voz com seus instrumentos, distribuindo músicas num momento em que não sabíamos direito o que estávamos enfrentando. Foi reconfortante contar, no nosso Ceará, com um gestor que soube liderar a comunidade. Imagino daqui a pressão sofrida, às noites sem dormir, tendo que tomar decisões ruins até deixar o sistema de saúde mais ajustado. Ouvindo a ciência. Essa coisa tão banal, mas tão difícil por esses dias.


Fiquei impressionada pela força do papa Francisco rezando solitário em Roma. Que ser humano grande aquele. Parecia que carregava as dores do mundo nas costas. Era um idoso, com saúde vulnerável, do grupo de risco, mas que demonstra ali, naquela reza solitária, o que era amor.


Foi reconfortante ficar sabendo que um médico liderou uma equipe para construção, de um capacete, chamado Elmo, que vai salvar vidas. A notícia me fez lembrar dos sons das ambulâncias que levavam e traziam enfermos de Covid-19 para o hospital perto de casa. A reunião de profissionais no Coletivo Rebento, me fez acreditar que ainda é possível contar com médicos que vieram para cá para serem, essencialmente, médicos. E fiquei encantada especialmente por aqueles que trabalharam muito pela vacina em tempo recorde. Que coisa mais extraordinária. Isso é iluminado.


Sabe 2021, este ano que agora está findando foi quando conhecemos o pior e o melhor as pessoas. Enquanto algumas demonstraram a mais absoluta falta de caráter, sem receio de demonstrar egoísmo, outras cresceram na dor e a transformaram em solidariedade. Foram tantos. Alguns mais ativos, outros mais calmos e quietos, sempre dispostos a ouvir e responder as angústias. Foram com abraços imaginários que recebi os parabéns em setembro. Fazia tempo que não me sentia tão acolhida. mesmo sem poder ficar próximo dos amigos.


Se, como diz o especialista, você será a continuação de 2020, quero que, pelo menos, multiplique essa gente que sabe distribuir amor, que tire essa energia esquisita que tomou conta da gente e está difícil ir embora por inteiro.


Para terminar, quero desejar boas vindas. Que você seja o ano da vacina, para que possamos abraçar sem medo todos aqueles que amamos, os que nos ajudaram e nos seguraram até aqui. 

Abraços,
Tânia Alves


Obs: não esqueça de continuar o inverno. A água da chuva lava a alma do cearense. Precisamos de novo da beleza dela que não aproveitamos, como devíamos, em 2020.


Foto do Tânia Alves

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