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Para um amor que permanece vivo
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Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..

Para um amor que permanece vivo

Falar de uma mãe que partiu é recordar a fé e o aprendizado de uma vida toda. Esta carta é sobre este sentimento
Dona Ritinha Belchior no jardim  (Foto: Tânia Alves)
Foto: Tânia Alves Dona Ritinha Belchior no jardim

Mamãe, antes de mais nada, peço a sua bênção.


Estou reescrevendo essas linhas como uma necessidade, agora que você se foi. Falar com a senhora, abraçar, beijar, gargalhar juntas, sempre foi fácil. Porque coração de mãe é muito mais do que juntar em caixa de papelão doces caseiros, queijo, frutas e feijão para enviar aos filhos que estão longe morando sozinhos. É junto aos mantimentos mandar carta ensinando como cozinhar os alimentos e recomendar que não se pode colocar colher suja dentro do doce. E lá nas despedidas da carta escrever sobre saudades, amor e fé. Não foi assim que a senhora fez a vida toda?


Tenho lembrado muito da senhora por esses dias. Recordo especialmente das idas para as missas aos domingos. A senhora ia de branco com a fita vermelha do Apostolado da Oração sob a gola da blusa. Essa mesma fita que fizemos questão da senhora usar para sempre como símbolo de sua fé.


As lembranças me devolveram a vontade de rezar, coisa que tenho feito pouco nestes tempos de pandemia. Foi a senhora, com seus gestos espontâneos, que me ensinou a ter fé e a respeitar a crença dos outros. Aprendi com a senhora as orações que ensinei ao meu filho. Aprendi a não caçoar dos outros por causa de defeitos, da falta de beleza ou de deficiências.


Foi por meio de seus gestos que entendi que era errado aperrear os doidos quando eles passavam correndo na rua. Sabia que a senhora, às vezes, sentia medo deles, mas jamais foi capaz de negar uma conversa ou um copo d’água quando eles apareciam no alpendre de casa em busca de abrigo.

Foi com a senhora que aprendi a ser solidária e receber os garis da cidade em casa em Ceia de Natal. Isto deixava a senhora tão feliz. Ou ainda, quando jovem, comprar uma rede somente para emprestar para aqueles que, ao morrer, sequer tinham um caixão ou mesmo um pedaço de pano para ser levado ao túmulo. Como admiro essa sua atitude.

Dona Ritinha gostava de flores
Dona Ritinha gostava de flores (Foto: Tânia Alves)


Com a senhora aprendi como encontrar a Estrela d´Alva no Céu e até enxergar São Jorge na Lua. Tem coisa mais importante do que isso na vida? Por isso, hoje quero agradecer por você ter me recebido por aqui. Sou muito privilegiada por isso. E dizer que a senhora sempre foi e sempre será muito importante em minha vida. Obrigada, mamãe. Te amo infinitamente.


Obs: carta escrita em 22 de agosto de 2014 e reeditada em 12 Outubro de 2021, após a sua morte.

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