
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Padre Cícero sempre esteve presente na minha família. Fazia parte dos sonhos visitar Juazeiro do Norte, que era uma terra distante, mas abençoada por aquele que eles consideravam milagroso. Na fé de meus avós e tios, a imagem do sacerdote de batina preta, chapéu panamá e cajado na mão direita, se sobressaia em meio à representação de santos reconhecidos pela Igreja Católica. Ele era chamado de “meu padrim”. Como se, na ausência do pai maior, fosse ele o representante de todos os que não tinham o de comer todos os dias.
Por mais que, na igreja, o padre se recusasse a benzer a imagem do "santo de Juazeiro", lá estavam meus parentes dando um jeito para que a gravura fosse abençoada. Podia ser escondido debaixo da representação de outros santos reconhecidos ou ainda colocando o Padre Cícero no bolso da saia para que recebesse um pouquinho da energia distribuída pelo sacerdote.
Cada um sabia contar histórias dos milagres de Padre Cícero, mas narravam com mais fervor e detalhes a história da beata Maria de Araújo, aquela que, segundo os romeiros, transformou a hóstia recebida pelo padre em sangue. Diziam que foi um alvoroço. Falavam também da beata Mocinha, que tomava conta de Padre Cicero, às vezes até confundindo uma com a outra.
Também era comum contar a história do Tostão de Chuva. Era tempo de seca e um senhor levou para o santo um tostão para comprar chuva. Ele devolveu o dinheiro e disse que só precisava de um centavo. O homem não gostou, mas quando voltou para casa, caiu um temporal tão grande deixando os rios cheios e a terra arrasada. O homem entendeu que chuva não se compra, como ensinou o sacerdote.
Agora que a Igreja Católica reconhece e aceita tocar para frente o processo de beatificação de Padre Cícero, eu lembro de meus parentes que permaneceram acreditando na força que ele tinha mesmo não sendo reconhecida pela instituição. Lembro de monsenhor Murilo que celebrava as missas em homenagem ao Padre Cícero, praticamente sozinho entre seus pares, mas coberto pela energia dos romeiros que nunca deixaram de acreditar.
O monsenhor arranjava um jeito de manter a fé dos que vinham de longe. Dava viva ao Padre Cícero, após as celebrações se despedia, pedindo para que eles acenassem os chapéus de palha numa imagem bonita demais. Monsenhor Murilo se equilibrava num fio para não desrespeitar as regras da Igreja, pois nunca poderia ir além de uma homenagem a um homem comum, e, ao mesmo tempo, para manter viva as romarias para um homem que não era considerado santo.
A fé dos romeiros aperfeiçoou o humano que há no Padre Cícero. É deles o mérito da abertura desse processo de beatificação.
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