Logo O POVO+
"Onde o povo do pequi tão..."
Foto de Tarcísio Matos
clique para exibir bio do colunista

Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

"Onde o povo do pequi tão..."

Tipo Crônica

Particularmente, eu dou o maior valor a pequi, que de acordo com o dicionário de formas alternativa do querido professor Zé Alves, pode ser grafado "piqui". Inigualável, a pequizada (cozido do aromático fruto com bastante cheiro verde, alho e pimenta do reino, tudo mergulhado em caldo de carne) faz o caba comer até o bucho ficar pela goela. Tanto come como istrói.

Na casa do amigo João de Lica Cabatã, faltasse até a divinal farinha, mas pequi - já rolado (tirada a casca volumosa), nem a pau! Pequi guardado em freezer comprado somente para esse fim, saquinhos com 20 unidades, dois pra cada um dos 10 membros da família. Dia sim, dia não posto no feijão, pra não gastar logo a ruma escondida. Pequi é assim: você ama (o do arisco é algo indo e voltando) ou odeia.

Quando chega outubro, estoque quase zerando (começava janeiro com uns 1.800 caroços), dona Lica Cabatã, mãe do amigo João, caririense da gema, da clara e da casca, já grita:

- Onde o povo do piqui tão? Quedê os vendedô de 'piquires'?

Aí um deputado conhecido encomendou (pagando dobrado) uma pequizada a dona Lica, e exagerou no dicumê. 30 dos 60 caroços roera entre meio dia e 14 horas. Por volta das 15, os pequis começaram a fazer efeito reverso. Do quintal de casa, onde animado estava com correligionários, vexado correu em busca do banheiro, gritando "são do mêi, são do mêi que eu tô 'mica'!"

Na pressa com que foi se enfurnar no obrador, deixou o celular na mesa. Que tocou e o assessor parlamentar atendeu, com resposta definitiva.

- Ligue daqui a pouco, ele agora tá cagando!

Meia hora na privada e o homem sai liquidamente suando, tremendo. Sem perder o "élan", eleições se aproximavam, perguntou quem ligara. "Dr. Joãozito", disse o auxiliar. "Pois dê cá o celular, vou retornar agora!" O bem-educado Dr. Joãozito reclamou do "Ligue daqui a pouco, ele agora tá cagando!" respondido pelo assessor, ensinando:

- Quando estiver nessa situação, fale pra Gildinho dizer que você está em reunião.

Bastou melhorar dois dedinhos do empanzinamento e o político tornou ao quintal, para traçar os 30 caroços restantes, com gosto de gás. Os intestinos não suportaram, claro, e de novo parte o deputado para o sanitário. Toca o telefone do parlamentar. O assessor, agora instruído, atende e solene...

- Está em reunião.

- E demora muito? - indaga de Gildinho a pessoa do outro lado da linha.

- Não sei, colega. Mas, do jeito que ele saiu daqui se peidando todo, eu acredito que...

Pegando no grosso

Raimundim do Beiço da Lagoa do Opaia desabafa: não sabe porque os irmãos "têm o rabicho do nome tudo parecido", mas o dele é diferente. Justifica a cisma:

- Dotô, lá em casa é Ivaneudo, Francieudo, Marieudo, Josieuda, Marcieuda, Joaneudo e eu - Raimundim. Beisso?

Ignorante dessas coisas de nome próprio, o único consolo que pude dar ao preclaro colega de igreja é o que aprendi com o Poeta dos Cachorros, Jair Morais:

- Miserável promovido a pobre sofre. Mas vence, nem que seja pelo escore mínimo duma duplicata.

Leia também | Confira mais crônicas de Tarcísio Matos, exclusivas para leitores do Vida&Arte

Foto do Tarcísio Matos

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?