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A cura pela mão de tabefe
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

A cura pela mão de tabefe

Tipo Crônica

Centro-Sul cearense. Seu Nicolau sentiu umas mazelas e foi bater no hospital; com ele, a mulher Judite Helena. Ele, muito simpático, falador, agora cabisbaixo - coceira e murrinha no corpo sugerem coisa mais grave. Ela, do meio das brenhas, gente muito boa, é tímida e demais ciumenta, sempre que rolam expansões de gentileza do marido, sabedor da impertinência dela. E já na entrada do nosocômio público, o começo da "imbuança": Nicolau recepcionado por enfermeira bem dada, desinteressadamente amorosa.

- Bom dia, amadinho!

- Bom dia, anjinho de três asas! - respondeu o enfermo, sem querer.

O velho paciente - garganta subitamente entupida de medo - olha pra mulher que já se enfeza, com cara de "fresque não senão eu lhe sangro!" Nicolau é convidado a se abancar na cadeira dos doentes mais comprometidos. Casal não troca uma palavra, sinal de que o conflito se estabeleceu no "anjinho de três asas". De volta a doce enfermeira, para os primeiros procedimentos, enquanto o médico chega.

- E aí, bebê delícia? O que meu biscoitinho tem?

Desnecessário dizer do Lampião que se assenhorou de dona Eliane Judite. Que simplesmente abre a bolsa de palha que traz a tiracolo e mostra o cabo da peixeira enferrujada, cheia de dente - de tanto rolar tronco de carnaubeira, em sinal de perigo iminente. O marido decifra a reação como ultimato e tenta disfarçar.

- Tenho dez braças de terra, um gadim, uma forrageira, essa mulher decente aí...

- Não, amor das nuvens. Quero saber o que meu jumentinho não vacinado sente?

Dona Judite pra cima do marido, que ainda tem fôlego de responder, correndo em busca de casa:

- Sinto que um milagre acabou aconteceu, dotôra! Bastou a senhora me chamar de "jumentinho vacinado" e eu comecei a sentir o cheiro duma mão de tabefe!!!

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Bodejado 2

- O mascarado do feijão

Recebi a seguinte mensagem, que enviei para a minha lista de transmissão:

"Peço encarecidamente a quem encontrar um menino usando máscara de pano branco, por nome Kelvin Kauan, entrar em contato comigo, a mãe dele. O bichim faz dois dias que sumiu de casa e é um amor de menino, não bole com ninguém, não mexe com o que não é dele".

De primeiro ele era muito ingriziado com o povo da rua, mas tá um amor de cristão. Vai ser difícil saber quem ele é, no meio de tantos mascarados no mundo. Mas tem um jeito infalível de descobrir se Kauan é meu Kauan: mostre um prato de feijão com toicim pra ele. Se ele, ao vir a pratada do mulatinho, der um grito: "Agora eu me arrombo, mãe!!!", ligue pra mim! Que Deus abençoe quem me ajudar a encontrar esse meu bruguelo. Mirta".

Bodejado 3

- Mutuca sem glúten

Essa é do Poeta dos Cachorros, uma mensagem bastante instigante, por sinal.

"Inspirado no Café Ordec (Ordec é Cedro ao contrário) e no também Café Ojuara (Araújo de trás pra frente). Com base na fábrica de confecções Azeret (Tereza de lá pra cá) e na belíssima grife Rebualf (Flauber ao contrário). E tomando por medida, ainda, a marca de tijolim Lebasi (Isabel de revestrés) e no picolé Labreda (Aderbal invertido), estou pensando na marca de cuscuz que vendo na Rodoviária, e que já é sucesso. No meu quintal, onde planto o milho para fazer o delicioso prato, tem muita mutuca. Penso em denominá-lo: Acutum.

Cuscuz Acutum, o que acha?"

Foto do Tarcísio Matos

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