
Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro
Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro
Mamãe (Terezinha Moreira Vale de nascimento), pense numa criatura cheia de nove horas! Conhecidas se tornaram as "enroladas da colega", a "Dona Menina" de que papai chamava, a mais amorosa e criativa genitora que tive em quase sete décadas de vida. Entre as arrumações hilárias, o primeiro grappete que tomamos, ainda meninos em São Gerardo: líquido botado em garrafas de coca-cola, crush, guaraná Wilson, mirinda. Tudo na mesa.
Era "quissuque" de groselha com laranja espremida, sem passar no coador - ainda com a "célula" da fruta (os gominhos do sumo) o que bebíamos. A tampa dos vasilhames, pedaços generosos de sabugo. E ainda fazia, com a boca, aquela zoadinha de tampa de cerveja liberada por abridor, retorquindo zangada quem reclamasse do excesso de açúcar mascavo no fundo da garrafa:
- E é pra ser feliz!!!
Comida de pobre é "grolado"
Outra: o nhoque de Dona Terezinha (o verdadeiro é massa à base de batata e farinha de trigo, cortada em pedaços pequenos). O da "colega", um preparado de goma de tapioca, algo tostado - e uma coisinha de mel de cana, que mais tarde soubemos tratar-se de um "engrolado batizado". Quando me serviram o primeiro nhoque de verdade, já rapaz, lasquei a vaia em quem o trouxe à mesa. E disparei, me abrindo da estranheza do prato:
- Nhoque! Marrapaz! Fresque não! Vou trazer mamãe aqui pra ensinar a vocês o que é um nhoque de gabarito!
Vexame grande demais eu passei, quase morro de vergonha. Pedi satisfações à mamãe:
- Colega! Por que a senhora falou que aquilo, um engrolado, era nhoque?
- Achei o nome bonito...
Na mesma panela, "pra não gastar o gás", mamãe colocava pedaços de carne de gado, carneiro, porco, peixe, linguiça e até panelada. Mais: quando a latinha amarela de Detefon secava, enchia de farinha de talco; e lá estava papai, feito besta, espremendo a vasilha de veneno de eliminar formigas, perfumando-as. Ainda essa: no aniversário de dona Hosana, minha professora do primeiro ano forte na Sociedade Beneficente de Porangabussu, o presente que pediu entregasse à mestra simpática: um faqueiro, ao menos foi o que a colega falou que era. Presente muito bem embrulhado. Dia seguinte, a verdade:
- Tarcisinho, aluno meu! Amei a rapadura de coco que você me deu de presente!
Quando resfriados, mamãe aproveitava a exata hora da merenda das 9 horas para dissolver o Redoxon num copo d'água água cheio e fazer a gente beber de gute-gute "pra curar a mamacoa". A cada um dos 10 meninos, dois biscoitos champagne. Ademais, a colega adicionava açúcar e dois pinguinhos de limão nos copos. Misturava tudo e mandava ver:
- Bora! Engulam e ganhem a lapa do mundo!
Creiam: somente há pouco, eu - terceiro filho, decrescentemente - soube que sou sete dias mais novo que o que consta da certidão de nascimento. Sempre comemorei aniversário em 1º de julho, mas... Com a palavra, minha irmã De Jesus, que conversou com mamãe isso, ipsis litteris:
- Como o teu irmão mais velho é de 31 de julho e o segundo do dia 1º julho...
- Não acredito que a senhora fez cambalacho com a data de nascimento do Tarcísio!
- Foi o jeito! 31 ficava longe, e aí o dia 1º de julho era mais apropriado pra deixar ele!
- E por que não registrar ele no dia em que veio ao mundo: 8 de julho?
- Pra não gastar três vezes mais bolo, refrigerante e vela num mesmo mês!!!
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