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7x7 com gosto de... empate em 7 a 7!
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

7x7 com gosto de... empate em 7 a 7!

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Lembram de Nonatim, guarda-valas do time da localidade de Pirangi, em Quixadá? Primo do lateral direito Potengi? Nonatim responsável-mor pelo vexame que foi levar seu time a amargar o placar de 9x1 para um adversário ainda no primeiro tempo de jogo, graças à medicação "Calmocitan" que tomou antes da refrega, pra debelar uma ansiedade? E que ficou grogue, arquejando sob os três paus? Rapazote comedor de panelada?

Pois bem. Seis meses após o traumatizante escore, o time de Nonatim, já à época do desastre contando com o lateral Potengi - namorado da amiga Claudinha, preparava-se para voltar às quatro linhas do gramado com o firme propósito de reverter a má fama de timeco, sobretudo da pecha "caldobilançativa" do nervoso arqueiro Nonatim. Difícil campeonato à frente teriam, responsabilidade "monstra" a de apagar a nódoa dos 9x1.

Onzena escalada pelo técnico, ninguém menos que Potengi, o jogo era num domingo ensolarado, começo de tarde. O adversário, a bem armada esquadra do Alto do Putiú, na localidade de Café Campestre, distante uma légua dali. Ir a pé, nem pensar! Daí contrataram uma Rural, que fazia frete no mercado, para transporte das mercadorias. (Precavido, Potengi convidou atletas profissionais pra evitar nova lapada, e armou uma com Nonatim, crente que seria o goleiro.)

Na beira da estrada se encontra a delegação, bem uns 15. "A Rural véa" apontou na curva, lotada, até a tampa de gente e bichos e coisas da feira. A hora avançada, porém, não permitia fossem feitas duas viagens. "Vai todo mundo logo é na ruma!", gritou o roupeiro. Ponta direita no colo do chofer, alas sentados em espinhaço de bacurim, Nonatim dormindo no sobressalente...

- Vai acabar dando o prego, essa geringonça! - comentou a senhora nervosa.

- Deixa! Se quebrar, nós empurra! - respondeu Galego, com o ombro no virabrequim.

A um quilômetro de Café Campestre, Rural subindo o Alto do Putiú, não deu outra: pifou! O jeito foi o plantel descer e empurrá-la até o beiço do campo, com os passageiros originários lá dentro, devidamente abancados. Suor escorrendo, xingamentos troando, gente rolando ladeira abaixo, risadagem nervosa ante a possibilidade d'alguém despencar. Alegria quando o half esquerdo Mateia, enfim, gritou:

- Caaaaalma! Caaaaalma! Cheguemo, meus queridos atletas do drama!

Equipe em campo às exatas 14h, moçada banida do cansaço da empurração. E apenas um objetivo em mente: evitar Nonatim correr pro gol, ele que fora escalado por Potengi, na surdina, pra ser agora o distribuidor de dindin com os jogadores. A lembrança do 9x1 assombrava demais. E não é que deu certo?!? Chicão, o novo goal-keeper, reflexos duma jaguatirica, jogou muito, pegou quase todas, e ainda ganhou medalha e dinheirinho.

O time, graças a Deus, livrou-se do pesadelo d'outrora com um volumoso e oportuno empate em 7x7. "Mas não perdemo!", comemorou Chicão. Jogo pesado, bicho garantido. E assim nasceu a lenda da "Rural do Alto do Putiú", em que heróis comunitários provaram que, com união e tutano nas canelas, vexames viram histórias "épicas e epicêntricas".

Um misto pra estação lunar...

Manel saiu cedo da fazenda, na Pitombeira, em direção ao centro da cidade. Foi pedir a dona Fransquinha uma ajuda para transportar a mãe - morta há pouco - ao cemitério.

- Fico encabulado, mas, como tamo sem dinheiro pra pagar um misto e trazer mãe pra ser enterrada aqui... - lamenta-se o moço.

- Quanto é isso? - perguntou Fransquinha, na boa.

- Uns três mil reais...

- Três mil?!? Peraí, Manel!!! Tu vai levar tua mãe direto pro céu, é?...

 

Foto do Tarcísio Matos

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