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Sua casa não vai virar Pague Menos, mas você vai
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Graduada em Administração (UFC), especialista em Neuromarketing (Unifor) e gestora de marketing há mais de 10 anos, atuando em empresas multinacionais e nacionais, tais como Unilever e DeVry Brasil, dentre outras

Sua casa não vai virar Pague Menos, mas você vai

O mercado de farmácias está ficando mais especializado e voltado para quem de fato já atua nele. E a concentração do varejo farmacêutico em poucos grandes investidores trará muitas vantagens competitivas, como diluir o investimento em tecnologia e inovação, ganhar força de negociação com fornecedores, aumentar a lembrança e fidelização de consumidores
Tipo Análise
FATURAMENTO combinado será superior a R$ 10 bi ao ano (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FATURAMENTO combinado será superior a R$ 10 bi ao ano

Observo curiosa os movimentos do varejo farmacêutico, porque este é um canal de venda que inova e nos surpreende constantemente.

Quando trabalhei na Unilever, acompanhei de perto o crescimento das vendas de produtos de higiene e beleza nas redes farmacêuticas, superando os tradicionais supermercados e distribuidores. Em seguida, vieram as lojas conceito, trazendo experiências sensoriais para a jornada de compra.

Mais recentemente, vivemos a explosão do número de lojas das grandes redes, eternizada pelo meme "tenho medo de ir trabalhar e, quando voltar, minha casa ter virado uma Pague Menos". E atualmente estamos na pandemia, com muitas pessoas evitando circular nas lojas físicas e passando a comprar online.

Um movimento do varejo farmacêutico aqueceu o mercado financeiro nesta semana: Ultrapar confirmou negociação de venda da Extrafarma para Pague Menos por R$ 700 milhões. Esta aquisição ainda será analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e, se confirmada, posicionará a rede cearense como a segunda maior varejista de drogarias do País.

Muito se especulou sobre a Pague Menos haver pago abaixo do valor de mercado pela Extrafarma e se a compra trará bons resultados financeiros para Ultrapar e Pague Menos. A questão que sugiro analisar é: a capacidade de competir no varejo farmacêutico nos próximos anos.

O varejo farmacêutico deve passar por uma redução de investimento em novas lojas físicas. A alta abertura de unidades no período pré-pandêmico deve ter gerado altos custos e baixo retorno dada a migração das compras presenciais para e-commerce. A Pague Menos, por exemplo, reduziu em 89% o investimento em novas lojas em 2020 versus 2019.

Além disso, com a aquisição da Extrafarma, a Pague Menos incorpora as 405 lojas daquela a um custo inferior ao de abrir a mesma quantidade de novas unidades (R$ 1,5 milhão versus R$ 2 milhões por loja respectivamente, segundo o Bradesco BBI).

O crescimento do e-commerce vem acompanhado de alto investimento em tecnologia e inteligência de dados para melhorar a tomada de decisões de negócio.

Os dados dos consumidores e seus hábitos de consumo permitem que as redes farmacêuticas melhorem o portfólio de produtos, evitem a ruptura de estoque, ofereçam uma experiência de compra mais fluida e, principalmente, façam ofertas customizadas, reduzindo preço dos produtos que interessam a determinado público no momento que ele vai às compras.

É interessante perceber que a Pague Manos já aumentou em 142% seu investimento em tecnologia em 2020 e vem acelerando o desenvolvimento de startups através do Ninna Hub.

Outra tendência interessante deste mercado é a oferta de serviços de saúde e bem-estar nas farmácias, movimento já maduro nos Estados Unidos. A Pague Menos já está surfando nessa tendência ao oferecer testes de Covid-19, check-ups laboratoriais e testes genéticos para recém-nascidos em suas lojas.

Em 2021, o grupo promete desenvolver uma solução de integração com planos de saúde privados, para que utilizem suas unidades do Clinic Farma como postos avançados de acompanhamento e monitoramento de doenças de pacientes crônicos. Além de um piloto com a Secretaria de Saúde do Ceará, no qual pacientes com hipertensão são encaminhados ao Clinic Farma.

O varejo farmacêutico está se tornando uma operação cada vez mais especializada. Os grupos que não estão focados neste mercado não conseguirão ser competitivos e acabarão vendendo suas operações para os players especializados, como acontece agora entre Ultrapar, grupo de petróleo e gás, e a Pague Menos, voltada para o varejo farmacêutico.

Essa concentração em poucos grandes players trará muitas vantagens competitivas, como diluir o investimento em tecnologia e inovação, ganhar força de negociação com fornecedores, aumentar a lembrança e fidelização de consumidores, dentre tantos outros.

Certamente veremos muito mais da Pague Menos nos próximos anos e não me refiro ao número de lojas.

Foto do Themisa Pimentel

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