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Festas juninas: comidas e santos no Ceará
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Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Vanessa Moreira gastronomia

Festas juninas: comidas e santos no Ceará

Tipo Opinião
Festa do Pau da Bandeira, em Barbalha, tradição que se renova todos os anos (Foto: DADA PETROLE KARIRI/Especial para O Povo)
Foto: DADA PETROLE KARIRI/Especial para O Povo Festa do Pau da Bandeira, em Barbalha, tradição que se renova todos os anos

Junho é mês de festa para Santo Antônio e São João. Tempo de fé e forró para agradecer e celebrar a colheita do milho. Nas cidades, nas serras, nos sertões, as ruas se transformam em palcos, mercados e altares, onde o sagrado e o profano convivem. A festa se canta, se dança e se come.

Em Barbalha, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio se tornou, em 2005, Patrimônio Cultural do Brasil, reconhecido pelo Iphan. Reúne dezenas de milhares de pessoas para acompanhar o carregamento do tronco até o hasteamento em frente à igreja matriz, enquanto cortejos de grupos que mantêm vivas as manifestações culturais da região se apresentam na manhã do primeiro domingo do mês. O centro é ocupado por barracas que vendem bebidas e comidas, porque onde tem gente celebrando, há outro tanto de gente e de estrutura mantendo os rituais.

No calor do Cariri, comer também é participar da festa. O mungunzá salgado, feito com milho e carnes, é encontrado nas casas, hotéis e restaurantes. Na praça, codorna frita é servida em mesas sob as árvores — prato famoso que muitos chamam de avoante. A comida de rua são filhós, pastéis, sanduíches e pipocas coloridas de vermelho e verde, que combinam tradição e praticidade.

Nas casas enfeitadas com bandeirolas, os moradores recebem quem chega com generosidade: mantas de carneiro no churrasco e panelões de feijoada, harmonizados com cachaças, cervejas e drinques, comprovando que festa é fartura.

Em Quixeramobim, no Sertão Central, a devoção a Santo Antônio também mobiliza a cidade. Um momento muito esperado da festa é o tradicional leilão do bolo, que, neste ano, foi arrematado por R$ 50.100 — valor que anima a igreja, confirma a força da fé no santo casamenteiro e faz lembrar que os status sociais não desaparecem no meio da multidão.

Na serra de Aratuba, a comunidade indígena Kanindé se prepara para a IX Tradicional Festa do Mucunzá, marcada para o dia 26 de junho — grafado com "c", como fazem questão de afirmar. Tudo que é bom de comer, feito com milho, é possível encontrar nesta celebração da roça que vingou e dos saberes ancestrais.

Junho é tempo de festa: dependendo de onde você esteja no Ceará, pode estar colhendo milho, debulhando feijão, cozinhando num panelão, sentindo o cheiro da canjica ou escutando forró — mesmo que não queira.

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