
Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco
Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco
Julho é um convite para pensar em viajar, descansar o corpo e alimentar a alma — embora nem todo mundo esteja de férias. Para quem deseja conhecer o Ceará para além das praias e dos cartões-postais, uma boa ideia é embarcar numa expedição gastronômica longe da cidade grande, para estar em comunidades, ouvir histórias e conhecer receitas que guardam memórias e modos de vida.
No litoral leste do estado, no município de Aracati, o Quilombo do Cumbe tem uma paisagem que une manguezais, mar e dunas. A comunidade, certificada como quilombola pela Fundação Cultural Palmares, tem no turismo comunitário uma forma de resistência, geração de renda e fortalecimento cultural. No site que apresenta as possibilidades de passeio, está explícito que será uma troca:
“É com imenso prazer e muita alegria que recebemos os nossos visitantes para compartilhar um pouco das nossas histórias, nosso modo de viver e nossa terra.”
Entre as experiências oferecidas, está o “Comer no Mato”: um passeio de barco com pescadores e marisqueiras da comunidade, que nos faz ver como é o ofício de quem domina as redes e a vara de pescar, assim como o de quem cata ostra, caranguejo, sururu e búzios. O Rio Jaguaribe parece maior ainda quando se está no meio dele. Parece mais farto, ao vermos tamanha diversidade. Em uma ilha, o barco atraca e se come tudo o que foi apurado na brasa, acompanhado de baião e farofa. Tudo simples e inesquecível.
Outro programa é a subida às dunas para ver o pôr do sol, conhecer frutas da terra como murici e azeitona do-mato e saber mais da história da comunidade.
Uma pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco ajudou a qualificar o eixo gastronômico da comunidade: foram mapeados ingredientes locais, receitas tradicionais e novos pratos criados pelas próprias cozinheiras do Cumbe. O resultado: a certeza de uma culinária que respeita a natureza, celebra o território e resiste com afeto.
Expedições assim nos lembram que a cozinha é parte viva da cultura. Em cada prato, há uma história de quem domina uma nobre técnica para alimentar o mundo. Em cada ingrediente, um vínculo com a terra e a água. E em cada partilha, uma chance de preservar com alegria o que é nosso.
Mais informações em https://quilombodocumbe.wixsite.com/quilombodocumbe
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