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Queijos premiados do Sertão Central do Ceará
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Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Vanessa Moreira gastronomia

Queijos premiados do Sertão Central do Ceará

Tipo Opinião
Queijos premiados do Sertão Central do Ceará (Foto: Vanessa Moreira)
Foto: Vanessa Moreira Queijos premiados do Sertão Central do Ceará

No Sertão Central do Ceará, a Caatinga — bioma muitas vezes associado à escassez — revela possibilidades surpreendentes. Com manejo cuidadoso, conhecimento técnico e afeto pelo território, produtores vêm transformando o leite em queijos de altíssima qualidade. Não é fácil, mas é possível. Assim, tem acontecido a sucessão rural, a continuidade de famílias no campo que associam tradição e inovação.

Fui recebida na Fazenda Barrocas por Karlus Holanda Martins, que está à frente do Queijo do Tonho, ao lado de mulheres importantes para o processo. Ele apostou na maturação artesanal em um território onde predominava o coalho fresco. A ausência de referências locais não impediu o processo. Hoje, a produção é reconhecida nacionalmente, com medalhas em concursos por queijos como Conselheiro, Barrocas, Casca do Sertão e Sargento Holanda, expressões de um terroir catingueiro e sertanejo.

Também fui recebida com generosidade por Marcelo Oliveira e Ana Cláudia Guimarães, da Queijaria Dona Vita, a primeira do Ceará a obter o Selo Arte — certificação nacional que permite a comercialização interestadual de produtos artesanais de origem animal, como queijos de leite cru.

A tradição leiteira vem dos avós, que criavam gado mesmo em tempos de estiagem, alimentando os animais com macambira e pasto nativo. A queijaria surgiu em 2019 e hoje processa 500 litros de leite por dia, todos de produção própria, com manejo em pasto irrigado. Seus queijos de leite cru — Caçula, Raclette (medalha de ouro no Mundial do Queijo Brasil 2022), Vitta e Terra da Luz (medalha de bronze) — são maturados entre 60 e 150 dias.

Muitas vezes, olhamos para os queijos da França sem conhecer a potência dos queijos feitos aqui, com saberes locais, técnica apurada e compromisso com o território. O que é feito no sertão também é digno de prêmio, memória e qualidade.

Foto do Vanessa Moreira

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