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O Ceará tem história e café
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Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Vanessa Moreira gastronomia

O Ceará tem história e café

Tipo Opinião
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Foto: Pascal / Pexels "O enema de café não tem nenhuma indicação médica reconhecida para prevenção ou tratamento de qualquer doença", enfatiza especialista

O café é um dos rituais mais presentes no cotidiano cearense. Está na mesa de casa, nas confeitarias, nos restaurantes, nos carrinhos de tapioca e no balcão da maioria dos comércios — sempre à mão, em uma garrafa térmica pronta para acolher quem chega. O grão que movia as elites do século XIX se tornou companhia diária, servido do jeito mais simples ao mais sofisticado.

Mas nem todo café que bebemos é igual. Cresce, nos últimos anos, o interesse por cafés especiais: bebidas que revelam aromas, notas sensoriais e a história de quem cultiva, colhe e torra. É nesse contexto que o Ceará volta a olhar para sua própria produção.

O Maciço de Baturité, com seus 800 a 1.000 metros de altitude e sombra abundante, cultiva café há mais de dois séculos. Hoje, agricultores familiares resistem às pressões do clima e da especulação imobiliária, mantendo cultivos que se integram à Mata Atlântica e preservam uma identidade territorial. Ali, a variedade Típica — cultivar histórica — segue viva nas mãos de quem insiste em permanecer na terra.

Esses cafés carregam singularidades sensoriais, mas, sobretudo, contam histórias: famílias que aperfeiçoam técnicas, guardam saberes e passam o ofício adiante. O fortalecimento dessa cadeia tem ganhado novos capítulos. A criação da Ecoarcafé — Associação dos Cafeicultores Agroecológicos da Serra de Baturité — aponta para um futuro de mais profissionalização, valorização do território e busca pela certificação de origem.

De 5 a 7 de dezembro, o Ceará esteve na Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte — o maior evento do setor no País. Um stand coletivo apresentou cafés que traduzem o nosso terroir e a diversidade produtiva do Ceará: Arvoredo, Ojuara, Parque das Trilhas, Sítio São Roque, Uchoa e Uritu. E o reconhecimento já começa a chegar: o Café Parque das Trilhas, de Guaramiranga, ficou entre os 50 melhores cafés do evento.

Para que esse movimento se fortaleça, é preciso incentivo: pesquisa aplicada, formação técnica, infraestrutura de beneficiamento e políticas de valorização da produção local. Temos grãos de qualidade, história e ambiente propício. Falta ampliar caminhos para que essa riqueza alcance novos mercados e, antes de tudo, seja reconhecida pelo próprio cearense.

Nesse sentido, a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, em parceria com a Embrapa e o Sebrae, desenvolve pesquisa para qualificar a produção, fortalecer a Ecoarcafé e impulsionar o café cearense a prosperar. Porque o Ceará tem história e tem café, merecendo colher, com orgulho, tudo o que plantou.

 

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