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As armas de cada um nos últimos dez dias
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Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.

As armas de cada um nos últimos dez dias

Ao optar por não ir ao debate do SBT, Lula deixa de aproveitar a boa maré de sua candidatura
Tipo Análise
MARINA E LULA se reconciliaram após anos de rompimento (Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP)
Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP MARINA E LULA se reconciliaram após anos de rompimento

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A campanha no primeiro turno ingressa em sua reta final com a iminência de dois debates e o cálculo por parte das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro a respeito dos perigos de atacar sem retaguarda ou fechar a retranca cedo demais e correr o risco de levar um gol no contra-ataque.

Lula está, neste momento, com sua prancheta na segunda tática. A decisão de não ir ao debate do SBT faz parte dessa estratégia de recuar o time depois de alguns gols nos últimos dias, que lhe deram certa margem no placar. Mas não é, de forma alguma, desprovida de muitos riscos.

O petista e seu estado-maior avaliam o debate marcado para o próximo fim de semana na emissora de Silvio Santos, que vem a ser sogro do ministro das Comunicações, Fábio Faria, como um jogo no estádio do adversário.

Trata-se de uma avaliação que peca pelo excesso de cautela. O debate se dará num pool de veículos que inclui jornal, portal de internet e rádios, o que impede de saída que haja qualquer “pegadinha” no horizonte.

Deixar Bolsonaro sem marcação no momento em que, ao presidente, só resta ir para o tudo ou nada é uma decisão bastante controversa. Qualquer ataque ficará, por óbvio, sem resposta. Será imediatamente amplificado nas ruidosas redes bolsonaristas e, nos dias seguintes, nos derradeiros programas do horário eleitoral.

A chance que Lula terá de responder cara a cara será apenas quase uma semana depois, e os estragos poderão ser grandes até lá.

Além disso, já ficou claro que Ciro Gomes tem intensificado cada vez mais as críticas não ao bolsonarismo, mas a Lula e ao PT, o que faz com que sejam dois os candidatos no ataque contra o líder nas pesquisas.

 

"A chance que Lula terá de responder cara a cara será apenas quase uma semana depois, e os estragos poderão ser grandes até lá"

 

Ao optar por não debater no SBT, Lula deixa também de aproveitar a boa maré de sua candidatura, que obteve nesta semana apoios ecumênicos que vão de Henrique Meirelles a Luciana Genro, causaram boa primeira impressão no mercado financeiro e também ajudaram a neutralizar o estrago no eleitorado evangélico, graças à presença de Marina Silva a seu lado.

Enquanto isso, Bolsonaro enfrentou uma maré adversa, representada pela revelação da compra de uma grande quantidade de imóveis em parte com dinheiro vivo, o que lhe tira a tranquilidade para evocar o tema da corrupção, pela retirada de recursos de programas sociais (muitos dos quais criados pelo próprio Lula) e pela esterilidade da grande mobilização do 7 de Setembro enquanto efeito nas pesquisas.

Da parte de Bolsonaro, não resta muito a fazer a não ser ir para o ataque, posição em que o presidente — que já confidenciou que preferiria ter sido jogador de futebol a ingressar no Exército — vem jogando ao longo de toda a vida. Não bastasse a lista de reveses acima e a distância que o petista abriu sobre ele em nichos específicos do eleitorado, como as mulheres, os jovens e os mais pobres, ele regressa de um giro aleatório pelo exterior que trouxe mais ruído, gafes e questionamentos internacionais que dividendos.

O problema é que Bolsonaro, quando acuado, não costuma dosar a agressividade. Agora mesmo, na ONU, assessores chegaram a temer que ele fosse optar pela versão “proibidona” do discurso, que continha os indefectíveis ataques à Justiça Eleitoral, que ele já ensaiou retomar quando de sua campanha durante a estada em Londres para os funerais da rainha Elizabeth II.

Já ficou evidente que esse figurino cai bem entre os fanáticos como os que encheram as ruas de uma Londres enlutada de verde, amarelo, vulgaridade e vergonha ilimitada. Mas é tiro e queda para assustar o eleitorado indeciso, aquele que está temporariamente com nomes da anêmica terceira via ou o contingente de ex-bolsonaristas traumatizados com sua condução do governo.

Foto do Vera Magalhães

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