Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.
Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.
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A CPMI do 8 de Janeiro não completou nem dois meses, e sua evolução errática já demonstra que ninguém mais tem interesse em sua continuidade ou acredita que ela produzirá algo mais relevante que as investigações a respeito da tentativa de golpe perpetrada por radicais bolsonaristas nos primeiros dias do governo Lula.
Encalacrados numa falta completa de plano de voo, deputados e senadores proporcionaram um espetáculo triste ao País, que não se prestou nem ao papel de “flor do recesso”, aquela categoria de notícia de menor importância, mas que, ainda assim, ajuda a preencher espaço em sites, páginas de jornais e emissoras de TV no período de falta de grandes fatos políticos pelo intervalo das sessões no Congresso e no Supremo Tribunal Federal.
Criada pela insistência da oposição, que, sabe-se lá por que, achou que seria possível fazer uma tal inversão de narrativa para responsabilizar o governo Lula pela baderna promovida pelos apoiadores de Jair Bolsonaro, a CPMI não mostrou ser capaz de encontrar um caminho próprio de apuração que não só a diferencie das linhas já seguidas pela Polícia Federal ou pelo STF, mas também justifique os gastos e as horas despendidos em depoimentos inócuos e sessões de bate-boca degradantes.
Seria necessário que a cúpula da comissão fizesse uma daquelas paradas técnicas para se organizar politicamente e definir aonde quer chegar. Repetir quebras de sigilos já obtidas e analisadas pela PF e pelo STF é chover no molhado.
E depois do que Mauro Cid encenou nesta terça-feira, ou a comissão demanda ao Supremo que delimite o que está garantido pelos habeas corpus preventivos ou acabou a possibilidade de extrair qualquer linha aproveitável dessas oitivas.
"Ou se faz um relançamento dessa comissão ou o melhor será que ela caminhe logo para um término sem prorrogação"
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A sorte do país é que a agenda econômica se desgarrou do show de horrores dessa legislatura, tomada como refém do pior da polarização política e que expõe o desespero dos extremistas bolsonaristas diante da rápida perda de relevância política de seu líder máximo, que, depois de ficar inelegível, já perdeu uma queda de braço de ascendência sobre o conjunto da oposição para o pupilo Tarcísio de Freitas.
Neste início de fragmentação do espólio bolsonarista, o rol de bizarrices só tende a aumentar, como mostra um breve extrato da semana logo após a histórica aprovação da reforma tributária na Câmara: Eduardo Bolsonaro comparando de forma inadmissível professores a traficantes de drogas, quebra-pau em grupo de WhatsApp da bancada do PL, a onipresente Carla Zambelli exposta tramando contra Alexandre de Moraes pelo hacker da Vaza-Jato (os roteiristas do Brasil estão de parabéns) e outras excrescências.
Na falta de saber o que procurar, a CPMI do 8 de Janeiro corre sério risco de ser capturada por esse elenco que foi eleito para radicalizar e se vê perdido diante do avanço do governo Lula, com a ajuda da ala pragmática do Centrão de Arthur Lira, sobre as pautas econômicas.
Ou se faz um relançamento dessa comissão, com um afinamento maior entre o presidente, deputado Arthur Maia, e a relatora, Eliziane Gama, ambos ainda perdidos em seus papéis, ou o melhor será que ela caminhe logo para um término sem prorrogação.
Assim, a imprensa e a sociedade não se distraem das frentes que têm mostrado resultados: a tomada de contas pela Justiça contra Bolsonaro e os que tramaram contra a democracia (estrada em que a CPMI deveria correr, mas não consegue entrar) e o ajuste econômico do país que pode levar à retomada de um crescimento robusto e de longo prazo e à redução das muitas camadas de desigualdades (sociais, econômicas, tributárias, educacionais, infinitas) que ainda grassam no Brasil.
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