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Lula enquadra a Petrobras
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Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.

Lula enquadra a Petrobras

Integrantes do governo dizem que a empresa precisa estar mais ‘alinhada com os interesses do país’
Tipo Análise
Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio

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Numa série de reuniões nas últimas semanas, o presidente Lula conseguiu dobrar as resistências da diretoria da Petrobras à ideia de que a empresa deve ser parte de uma visão estratégica de Estado, afinada com as diretrizes do governo, seu maior acionista, para o desenvolvimento do país.

O resultado mais imediato dessa rodada de conversas, que acabou por reduzir a chama em que a batata do presidente da empresa, o ex-senador Jean Paul Prates, era posta para assar, é que deve demorar um pouco até que a companhia anuncie reajustes nos preços dos combustíveis, embora o mercado já aponte descompasso entre os valores praticados aqui e os preços internacionais.

Quem tem acompanhado essas reuniões nota em Prates e nos demais diretores uma disposição maior em aquiescer diante do discurso do governo, que não é novo em relação à maneira com que os governos anteriores de Lula e de Dilma Rousseff enxergavam o papel da Petrobras: gerar empregos, fortalecer a indústria nacional (a expressão “valorização do conteúdo local”, tão em voga naqueles anos, voltou à mesa de negociações com força), investir em refino e em gás e descasar os preços dos combustíveis do valor internacional — o que já foi anunciado meses atrás.

Quando se indaga se essas diretrizes não implicam intervenção do governo na petroleira, uma empresa de economia mista regida por regras de governança próprias, os integrantes do governo dizem que não, mas que a empresa precisa estar mais “alinhada com os interesses do país”.

Em relação aos demais acionistas e ao mercado, a visão da gestão Lula é que eles têm de estar cientes de que a Petrobras não está mais sendo preparada para ser privatizada, como pretendia o ex-ministro Paulo Guedes, nas palavras de seu ex-assessor Adolfo Sachsida. O discurso é que a Petrobras será uma empresa rentável, “perene” (nova máxima nessas mesas de negociação), que investe em refino, dialoga com o exterior e com investidores interessados no longo prazo.

Quando se argumenta com o risco de perda de valor da companhia e até de desabastecimento, caso a decisão de vender combustível internamente abaixo do preço internacional leve a uma defasagem muito grande, a resposta colhida é que o governo não será irresponsável e que, mesmo com o anúncio do fim da política de paridade internacional, a empresa tem ganhado valor nos últimos meses.

Na Petrobras, Lula vem praticando o que pretendia fazer no saneamento e na Eletrobras, mas até aqui não pôde em razão de as decisões concernentes às duas áreas terem sido chanceladas pelo Congresso: reafirmar a visão mais estatista da condução econômica, um tanto diferente da que Fernando Haddad vem procurando imprimir nas decisões da Fazenda, sobretudo as concernentes à política fiscal.

São decisões que representam um “lado B” em relação às manifestações otimistas que bancos internacionais e agências de risco têm emitido sobre o Brasil. Todas enaltecem justamente o lado “pragmático” de um governo que não é liberal, mas vinha anunciando medidas no sentido do pragmatismo, tanto ao se mostrar fiscalmente comprometido quanto ao entender que as reformas liberalizantes levadas a cabo nos últimos anos — além das citadas acima, as reformas da Previdência, a trabalhista e a autonomia do Banco Central — são fatos consumados.

Nas áreas em que ainda pode fazer prevalecer sua visão de desenvolvimento, Lula fará. Prates começou a entender como a banda toca e, depois de ser acusado por setores do governo e do PT de ter sido cooptado pela visão dos acionistas privados da Petrobras, parece disposto a rezar pela cartilha do presidente. Dançar conforme a música para não dançar, em resumo.

 

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