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Tributária é cavalo encilhado para Lula
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Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.

Tributária é cavalo encilhado para Lula

Para que o impulso da tributária, esse "agora vai" subentendido na tramitação aos trancos e barrancos por duas Casas tão distintas, atingisse o restante da pauta econômica, seria preciso que o governo deixasse de alvejar o ministro da Fazenda em praça pública.
Tipo Análise
Comissão do Senado discute a reforma tributária (Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado Comissão do Senado discute a reforma tributária

 

Sinalização dada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que deverá ser confirmada pelo plenário da Casa, ao aprovar uma reforma tributária complexa, cujos detalhes ficarão para um futuro algo remoto, com mais exceções do que todos gostariam, é a mesma que a Câmara já indicava no primeiro semestre: independentemente da fome por cargos e emendas, o Congresso é majoritariamente inclinado a dar apoio à agenda econômica do governo.

Do governo, não. De Fernando Haddad. As recentes manifestações do presidente Lula e a revelação dos bastidores de como a meta fiscal passou a ser bombardeada por setores relevantes do Executivo, a começar pela Casa Civil, evidenciam que, hoje, o ministro da Fazenda brande sozinho a cartilha da responsabilidade fiscal e está isolado na percepção de que o sucesso do governo dependerá muito do desempenho da economia, indissociáveis a primeira e o segundo.

Isso não se dá exatamente por vocação liberal ou republicanismo dos parlamentares. Em parte, o apoio a projetos como a tributária advém da percepção, que acabou se massificando, de que "o momento chegou". É bom para Haddad que o timing coincida com o seu. Outra explicação para esse alinhamento entre as expectativas da Fazenda e uma dose de boa vontade da Câmara e do Senado é a pressão que o mercado e demais setores da economia exercem ali dentro. Isso funciona no marco fiscal e na reforma tributária, mas enfrenta um obstáculo quando os projetos dizem respeito a aumento de arrecadação - algo que deixa de interessar a esses mesmos segmentos.

Essa é uma das muitas razões por que Lula errou feio ao desautorizar seu ministro em público, duas vezes em uma semana, e em enfatizar que, para ele, o que interessa é gastar. A ênfase na necessidade de arrecadar mais, tecla em que Haddad vem batendo, passa a ser vista apenas como licença para abrir a torneira da gastança com fins eleitorais. E aí o crucial apoio do Congresso, trunfo do primeiro ano de governo, em que aprovar qualquer coisa é mais fácil, vai se dilapidando.

Se a tributária for concluída mesmo em 2023, terá sido mais por esse alinhamento cósmico raro, em que os agentes econômicos e políticos chegam à mesma conclusão, do que pela articulação política coordenada do governo Lula. Sim, Haddad, Alexandre Padilha, Simone Tebet trabalharam pela matéria. Mas ela foi mais impulsionada por Arthur Lira e Rodrigo Pacheco que a partir do Executivo.

Para que o impulso da tributária, esse "agora vai" subentendido na tramitação aos trancos e barrancos por duas Casas tão distintas, atingisse o restante da pauta econômica, seria preciso que o governo deixasse de alvejar o ministro da Fazenda em praça pública.

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