
Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.
Jornalista e comentarista da área política, Vera Magalhães tem passagem por veículos como a Folha de S. Paulo, Veja e o Estado de São Paulo. Atualmente, é âncora do programa Roda Viva, além de colunista do O OPOVO, O Globo e da rádio CBN.
.
A situação da educação brasileira é tão grave que todo mundo respirou aliviado quando o resultado do Pisa de 2022 nos colocou numa situação "estável", ainda que na rabeira do ranking em matemática, ciências e leitura. É desolador ver um país em que as expectativas foram tão rebaixadas, e as saídas vislumbradas diante de duas décadas perdidas são tão pobres e vagas.
Sim, o caos do Ministério da Educação sob Jair Bolsonaro, conjugado com uma pandemia, poderia ter causado resultados ainda mais desoladores. Sim, países mais desenvolvidos que vinham melhor no próprio Pisa parecem ter sofrido mais com a interrupção das aulas na emergência sanitária.
Mas o problema grave é que nós temos muito menos perspectiva de galgar posições nesse ranking e de sair da situação em que os estudantes brasileiros não conseguem responder a questões básicas nas três áreas de aprendizagem do que essas nações que levaram um tombo pandêmico. Aí vemos que o copo nunca chegou a estar meio cheio.
O MEC no primeiro ano de Lula 3 andou aquém da velocidade que tanto nosso atraso de décadas quanto o caos bolsonarista exigiam. Isso se torna ainda mais notável quando se sabe que o ministro Camilo Santana e sua número dois, Izolda Cela, chegaram a Brasília munidos da experiência bem-sucedida de Sobral e do Ceará.
O Pisa radiografa o estado do fim do ensino fundamental. Pois esses alunos, que arrastaram deficiências crônicas de antes mesmo da pandemia, ingressarão num ensino médio em que o governo deixou para mexer na última hora, depois de uma consulta pública que se estendeu demais, cujo resultado nem foi acatado na íntegra. Cabia ao MEC ter ao menos uma diretriz sobre o que pretendia fazer já desde a transição, fazer uma consulta nos primeiros meses e enviar a "reforma da reforma" quanto antes, para que o Congresso e as redes de ensino pudessem discutir a tempo e se preparar para implementar (mais) mudanças.
Na ampliação do ensino de tempo integral, grande bandeira de Lula e, como mostram evidências, medida capaz de mudar a realidade da educação de forma estrutural, se andou a passos de tartaruga.
- A lua de mel "estamos reconstruindo" já acabou, ou deveria ter acabado - disse à coluna Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação.
Ela lembra que a execução dos programas está baixa, e as agendas urgentes e difíceis são deixadas de lado, como a universalização da educação infantil (creche e pré-escola) e a ênfase na melhora da formação de docentes, com o fim do que chama de "farra" do ensino à distância.
Não bastasse essa falta de empuxo do MEC, o Congresso conservador avança com pautas que, se imaginava, morreriam com a derrota de Bolsonaro, como a discussão do Projeto de Lei que regulamenta o homeschooling, que terminará o ano pronto para ser votado no Senado. Especialistas vêm alertando, no Brasil e no mundo, sobre os riscos de aumento de violência contra crianças e jovens, além dos riscos para a formação desses estudantes, inerentes ao ensino domiciliar.
Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, ONG que atua na prevenção e combate à violência sexual contra crianças, aponta aumento nos indicadores de agressões e o fato de esses crimes contra vulneráveis serem praticados, na grande maioria, em casa e por pessoas da família. A escola, diante desse quadro, funciona como "lugar de proteção".
É um cenário desanimador o da educação brasileira. O governo ainda não mostrou um projeto integrado, capaz de galvanizar os esforços de todos - estados, municípios, empresas e sociedade - em torno do objetivo comum de deixar as últimas posições em aprendizagem e almejar uma revolução como a que outros países, como os asiáticos, praticaram. Sem isso, nosso destino será sempre comemorar quando não vier o pior, como no Pisa.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.