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Impactos políticos da fraude no INSS
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Doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atualmente professor e coordenador do Curso de Bacharelado em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde coordena, ainda, o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Partidos Políticos (GEPPOL). Em 2018, foi guest scholar no Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame

Impactos políticos da fraude no INSS

Estima-se que cerca de 9 milhões de pessoas tenham sido afetadas - um número expressivo, o que torna o episódio especialmente danoso em um contexto já marcado pela queda de aprovação do governo, conforme as pesquisas de opinião pública
Possibilidade de Carlos Lupi deixar o governo após escândalo no INSS (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Possibilidade de Carlos Lupi deixar o governo após escândalo no INSS

Nos últimos dias, veio à tona uma operação da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF) que revelou um esquema de descontos associativos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. As entidades teriam cobrado, de forma irregular, mais de R$ 6 bilhões. Trata-se de um escândalo de grandes proporções em uma área especialmente sensível, com impactos imediatos e potencialmente duradouros para o governo Lula.

O caso atinge diretamente um dos segmentos mais estratégicos do eleitorado: aposentados e pensionistas. Estima-se que cerca de 9 milhões de pessoas tenham sido afetadas - um número expressivo, o que torna o episódio especialmente danoso em um contexto já marcado pela queda de aprovação do governo, conforme as pesquisas de opinião pública. Como era de se esperar, a oposição tem explorado intensamente o escândalo, rotulando-o como o "roubo das aposentadorias" e utilizando-o como munição em um cenário, consideravelmente, próximo à disputa eleitoral de 2026.

Embora o esquema tenha se iniciado em gestões anteriores, o fato de o atual governo ter demorado mais de dois anos para identificá-lo e reagir amplia o desgaste. As críticas à lentidão da resposta do Executivo ganharam força e culminaram na queda do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), após intensa pressão política. A saída de Lupi resultou no rompimento do PDT com o governo, fragilizando ainda mais a já precária coalizão governista que visa garantir apoio legislativo no Congresso Nacional.

A oposição agora articula a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o caso. A instauração da CPMI impõe ao governo o ônus de se mobilizar politicamente para influenciar seus rumos, ao mesmo tempo em que mantém o tema em evidência e retroalimenta o ciclo de desgaste promovido pela oposição.

O episódio reforça uma constante do atual governo: a dificuldade de lidar com crises. Ainda que a gravidade do caso do INSS seja incomparavelmente maior, a chamada "crise do PIX" ocorrida meses atrás já havia exposto a vulnerabilidade do governo na construção e na gestão de narrativas políticas. No contexto atual, cada escândalo funciona como um catalisador de descontentamentos, ampliando o potencial de mobilizador da oposição, em um contexto que já assume contornos pré-eleitorais.

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