Sonho de Tesla à realidade: energia elétrica por laser já é possível
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Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades
Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney
Script usado: Nikola Tesla, Darpa, Energy in air, Shot on 70mm, Depth of Field, Canon EOS camera, extremely detailed textures --ar 16:9 --v 7.0
Imagine uma tecnologia capaz de transmitir eletricidade pelo ar, sem fios, sem cabos e com precisão milimétrica. Agora pense nessa energia viajando por quase nove quilômetros e acionando dispositivos do outro lado do horizonte.
Esse cenário deixou de ser ficção científica graças a um experimento histórico conduzido pela Darpa, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos. Por meio do projeto POWER, foi possível transmitir mais de 800 watts de energia por um feixe de laser óptico, estabelecendo um novo marco mundial em energia sem fio.
O marco tecnológico da Darpa
A conquista da Darpa representa uma virada de chave no campo da energia sem fio. Até então, os limites de transmissão óptica restringiam tanto a distância quanto a potência possível.
O experimento recente superou com folga o recorde anterior de 230 watts a 1,7 km, alcançando a marca de mais de 800 watts enviados com sucesso a uma distância de 8,6 quilômetros.
Segundo Paul Jaffe, gerente do projeto POWER, o teste superou todas as tentativas anteriores conhecidas de transmissão de energia óptica. A demonstração ainda teve um toque de humor e simbolismo: os pesquisadores usaram a própria energia transmitida para estourar pipoca, em alusão ao filme “Real Genius” de 1985, onde um experimento a laser termina com pipoca espalhada por todo o laboratório.
Como funciona a transmissão de energia por laser
Essa tecnologia baseia-se na conversão de eletricidade em luz coerente de alta intensidade, que é direcionada com precisão para um receptor remoto. Esse receptor contém células fotovoltaicas otimizadas para captar a luz do laser e reconvertê-la em energia elétrica utilizável.
Diferente de métodos como indução magnética ou ondas de rádio, o laser possui altíssima direcionalidade, o que garante maior eficiência e alcance. No projeto POWER, sistemas de controle inteligente garantem o rastreamento da posição do receptor, mesmo diante de variações atmosféricas ou movimentações sutis.
A DARPA também estuda a utilização de drones como estações intermediárias para ampliar o alcance e a flexibilidade da tecnologia, criando verdadeiras linhas de energia aérea.
Por que isso muda tudo: aplicações práticas
As aplicações práticas dessa tecnologia são vastas. Em primeiro lugar, permite fornecer energia a campos de batalha ou áreas remotas sem necessidade de infraestrutura física como cabos ou geradores a diesel. Isso reduz riscos logísticos, especialmente em zonas de conflito, onde comboios de combustível são alvos vulneráveis.
Drones podem ser recarregados no ar, eliminando a necessidade de pousos frequentes. Em contextos civis e humanitários, a tecnologia pode abastecer regiões devastadas por desastres naturais, fornecendo energia para hospitais móveis, sistemas de comunicação e operações de resgate.
Eventos temporários, obras de engenharia em locais isolados e zonas agrícolas afastadas também se beneficiariam da mobilidade que essa solução oferece.
Ciência e avanços tecnológicos envolvidos
A viabilização dessa tecnologia dependeu de inovações científicas em diversas frentes. Lasers de estado sólido passaram a operar com maior estabilidade térmica e precisão direcional. Células fotovoltaicas receptoras evoluíram em eficiência, permitindo a conversão direta da luz em eletricidade com perdas mínimas.
Sistemas ópticos adaptativos agora conseguem corrigir distorções causadas pela atmosfera, e algoritmos inteligentes garantem rastreamento dinâmico e correção da trajetória do feixe em tempo real.
Esses avanços demonstram a convergência entre óptica, engenharia de materiais, inteligência artificial e controle de sistemas, viabilizando uma tecnologia que por muito tempo foi considerada impraticável fora dos laboratórios.
Painéis solares espaciais: a próxima fronteira
A demonstração da DARPA reacende um sonho antigo da engenharia aeroespacial: captar energia solar diretamente no espaço e transmiti-la para a Terra. No ambiente espacial, a energia solar pode ser coletada de forma contínua, sem obstruções atmosféricas ou variações sazonais.
Com a tecnologia de transmissão por laser, essa energia pode ser enviada com precisão a receptores em solo terrestre. Japão, China e agências europeias já exploram versões experimentais desse conceito. O sucesso da DARPA coloca os Estados Unidos na dianteira de uma possível revolução energética orbital.
Caso se torne viável em larga escala, essa tecnologia poderá substituir parcialmente redes convencionais, levando energia limpa a qualquer parte do planeta.
Desafios e limitações atuais
Apesar do avanço tecnológico, ainda existem limitações importantes. A exigência de linha de visada direta entre o emissor e o receptor impede o uso em áreas com muitos obstáculos físicos. Condições atmosféricas adversas, como neblina ou chuva intensa, reduzem a eficiência da transmissão.
Os equipamentos envolvidos ainda têm custo elevado, embora as tendências de mercado apontem para reduções com o tempo. Além disso, será necessária uma estrutura regulatória internacional para garantir uso seguro, ético e cooperativo da tecnologia, especialmente em zonas de sobreposição territorial ou espaço aéreo compartilhado.
Comparativo com outras formas de energia sem fio
Foto: Arquivo pessoal
Comparativo com outras formas de energia sem fio
Segurança e regulação da nova tecnologia
O uso de lasers de alta potência exige protocolos de segurança rigorosos. O sistema desenvolvido pela DARPA inclui sensores de presença, desligamento automático em caso de interferência, redundância operacional e rastreamento constante.
Ainda assim, a adoção global da tecnologia dependerá de regulações específicas, especialmente no uso aéreo e orbital. Organizações como a União Internacional de Telecomunicações e a Organização de Aviação Civil Internacional já discutem padrões para evitar riscos a aeronaves e satélites.
A construção de um marco legal claro, transparente e cooperativo é essencial para garantir que essa inovação seja aplicada com responsabilidade.
Impacto social, ambiental e geopolítico
A capacidade de transmitir energia remotamente pode melhorar o acesso à eletricidade em comunidades isoladas e reduzir a dependência de combustíveis fósseis em operações críticas. Isso representa um ganho ambiental considerável.
Do ponto de vista geopolítico, a tecnologia confere vantagens estratégicas a quem dominá-la. Por isso, é fundamental que a sua evolução ocorra com inclusão social, governança internacional e políticas de acesso equitativo.
Modelos de negócio como fornecimento móvel de energia sob demanda poderão emergir, transformando o conceito de energia em serviço e não mais em infraestrutura fixa.
Tesla e a visão antecipada da energia sem fio
Nikola Tesla já visualizava a transmissão de energia sem fios no final do século XIX. Seus experimentos com a Torre Wardenclyffe tinham como objetivo usar o planeta e a atmosfera como meios condutores de eletricidade.
Embora Tesla trabalhasse com campos magnéticos e ressonância e a DARPA utilize feixes ópticos, ambos compartilham a visão de tornar a energia acessível, limpa e independente de infraestrutura física.
A realização da DARPA representa, com novas ferramentas tecnológicas, a materialização do ideal de Tesla: uma sociedade movida por energia livre de barreiras físicas, distribuída de forma inteligente e sustentável.
Conclusão: um futuro iluminado pela energia óptica
O avanço liderado pela DARPA redefine o conceito de distribuição de energia. Ao substituir fios por feixes de luz, a agência apresenta um novo modelo de fornecimento elétrico, mais flexível, preciso e adaptável a contextos extremos.
A pipoca estourada com laser foi apenas o símbolo de uma conquista histórica. A verdadeira revolução está na possibilidade de abastecer aviões em voo, alimentar hospitais móveis em áreas remotas e enviar energia limpa do espaço para a Terra.
Se conduzida com ética e visão estratégica, essa inovação poderá transformar completamente nossa matriz energética e democratizar o acesso à eletricidade em escala global.
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