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Padrões estéticos e sexualidade
Zenilce Bruno

Padrões estéticos e sexualidade

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Estamos ainda aprisionados aos rígidos padrões estéticos e isso reflete diretamente no exercício da sexualidade, que é modulado pela experimentação corporal e sentimento de estima, a possibilidade de ser ou não admirado, amado, capaz de buscar satisfação com a integração de corpo e mente.

Há pessoas que "construíram" o reconhecimento de sua estima só pelo desempenho estético, já que muitas ainda aprendem a usar o corpo como mecanismo de sedução.

É por estar nessa constante cobrança corporal, que frequentemente a autoestima é tomada de assalto. O aumento de peso, as espinhas, as rugas, o tamanho dos seios e do pênis, a barriga condenável, transforma o seu estar no mundo num infeliz e constante sentimento de inadequação, rejeição e solidão.

A exigência constante em corresponder aos padrões estéticos sociais tem transformado pessoas em sintomas: paranoia, ansiedade, fobia, bulimia, anorexia.

A sexualidade também adoece, um anoréxico e um deprimido têm inibição de desejo, o bulímico e o ansioso não conseguem criar vínculos estáveis, o paranoico tem constante medo de ser traído.

A baixa estima que persiste no modo de viver e de se relacionar, tem profunda ligação com esta valorização da beleza e do poder.

Óbvio que todos estamos sujeitos à queda de estima diante de situações que envolvem prejuízo na consciência que temos de nossa imagem corporal. Uma doença, uma perda, é quase impossível reagir positivamente a essas situações reais e difíceis.

Espera-se que qualquer pessoa possa sentir-se "inadequada" em determinado momento e que este sentimento incida sobre o comportamento, provocando também disfunções sexuais.

A confiança no direito de ser feliz e vencer os desafios da vida, previnem a depressão e impulsionam para a resolução dos problemas. As relações amorosas também são moduladas pela autoestima. Conheço muitas pessoas que nem bem conhecem outra e já depositam nela todo o seu valor: será que vai me ligar? Será que gostou de mim? E nem mesmo se perguntam: será que gostei? será que eu quero encontrar de novo?

Há virtudes, sentimentos e traços de caráter que devem ser reforçados nas pessoas desde sua pouca idade, para que possam desenvolver todas as suas referências.

Assim, quando estivermos com alguns quilos a mais, isso não atingirá tão forte a nossa autoestima.

Teremos como combater a frustração legitimando outros aspectos que identificamos como importantes para nós e para o grupo que nos rodeia: a inteligência, a determinação, a perspicácia, a criatividade, a capacidade de criar elos, a empatia, a lealdade.

Como diz Ana Canosa, "Não há como conseguir exterminar o fantasma da rejeição de quem tem uma autoestima abalada por medo de celulite". Acredito que não há lipoaspiração melhor do que aquela que retira o excesso de preconceito, de superficialidade e das exigências cruéis.

"Vamos precisar de muito tempo para compreender que a sexualidade não é uma função e sim uma cultura...", diz Guillebard.

Muito mais que o corpo, a sexualidade é o que está inscrito no imaginário. A cultura na qual se modela hoje é o sexual, é aquela do espetacular, que mostra, que expõe, que revela, que se manifesta em eficiência e desempenho.

Daí a necessidade gerada de se parecer o melhor, o potente, competente e até onipotente, mesmo que, lá no íntimo, sintamo-nos frágeis e inseguros.

A sexualidade foi encerrada nessa lógica de performance, de perfeição técnica inquestionável, o que tem exposto os indivíduos a um estado de ansiedade competitiva, avaliativa e comparativa. n

 

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Zenilce Bruno

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