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Zenilce Bruno: Construção da sexualidade
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Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros

Zenilce Bruno comportamento

Zenilce Bruno: Construção da sexualidade

Zenilce Bruno, psicóloga, sexóloga e pedagoga (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Zenilce Bruno, psicóloga, sexóloga e pedagoga

Pensar a educação sexual visualizando a inteireza da pessoa é remeter a questão à anterioridade do nascimento, quando o casal opta ou não pela criança. Somos seres do desejo, e desejar ter ou não um filho marca profundamente as relações entre o pai, a mãe e a criança, sendo ou não seus pais biológicos. O bebê desejado, bem-vindo ao mundo, certamente é tocado, cuidado e amado sem barreiras. Nessa atitude amorosa primal estrutura-se a dimensão primeira da sexualidade, numa relação epidérmica e experiencial, anterior à palavra não conceitual. Aqui os gestos falam mais alto e podem alicerçar no indivíduo o gosto futuro pela vida amorosa. O cuidado é a expressão concreta do amor, é um estado no qual algo ou alguém tem importância. Essa dimensão registra para a criança sua condição de "ser desejável". Poderá a criança malcuidada, mal-amada, maltocada, sentir-se desejável? Além disso, a vivência prazerosa e expressiva da sexualidade dos pais ou dos adultos que cuidam dele é a mais autêntica e eficiente educação sexual.

Entretanto, a grande maioria pertence a uma geração que silenciou a própria sexualidade como forma de negá-la, de reprimi-la, o que dificultou o desenvolvimento de atitudes livres e transparentes frente à própria vivência do sexo. O saldo disso é a inquietação e insegurança face à sexualidade vivida e questionada pelos filhos. A escola precisa continuar o trabalho de educação sexual repensando dimensões esquecidas, visões distorcidas ou negadas da sexualidade sem, contudo, substituir a família, porque a criança não chega à escola com o corpo transparente, em estado de nudez, mas já com diversas inscrições acerca do sexo. A interação família-escola torna-se fundamental, para que ela não se torne alvo da duplicidade de discursos e de atitudes em seu processo educacional.

A sexualidade é uma energia que nos impulsiona à busca do prazer, mas um prazer plural, que jamais se esgota na genitalidade. Ela é muito mais. É invenção do espírito humano e, como tal, não obedece a modelos rígidos. Nunca poderia dizer, através de qualquer discurso, que uma boa vivência da sexualidade seria de uma determinada forma. Não, ela é boa na medida em que faz crescer as pessoas.

A tarefa de educação sexual torna-se emocionalmente custosa, também, aos professores, igualmente pertencentes a esta cultura, que muitas vezes, não se sentem disponíveis, tranquilos e maduros frente à própria sexualidade. Mesmo assim, quase sempre a escola torna-se o espaço mais aberto onde as crianças e adolescentes fazem seus questionamentos. Nos debates sobre a sexualidade, tenho observado que os jovens fazem perguntas que os pais e mesmo os mestres não se atrevem a fazer. São gerações diferentes, sinalizando as relações de fechamento-abertura frente ao discurso do sexo. É função da educação sexual suscitar, estimular a troca e o encontro entre as pessoas, possibilitando as mudanças nas relações sociais.

Uma revisão de padrões machistas e o estabelecimento da igualdade e liberdade para ambos os sexos se torna imprescindível. Fora disso, tudo o que for alterado levará a novas formas de repressão. A possibilidade da partilha amorosa está na igualdade, na relação "eu-tu". Na desigualdade, está a dominação-submissão, a relação "eu-isso". Que não invertemos os termos da relação, a ponto de amarmos as coisas e possuirmos as pessoas. 

 

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