Logo O POVO+
Abra espaços dentro de você
Foto de Zenilce Bruno
clique para exibir bio do colunista

Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros

Zenilce Bruno comportamento

Abra espaços dentro de você

Tipo Opinião

Festas. Luzes. Alegria. Troca de presentes. As pessoas já começaram a falar do Natal, o que suscita sempre movimentos na cidade e no interior das pessoas. Exaltam-se afetos, lembranças e consumismos. Campanhas solidárias sugerem que se partilhe o que se tem com aqueles que têm menos, que têm fome de pão, afeto e segurança. Na minha preciosa tarefa de cuidar do outro, penso se há espaço para o Natal.

Sinto uma necessidade de abertura de outros espaços para que de fato o Natal possa acontecer: dos sentimentos, das atitudes, das emoções, das ações. Imagino a revolução fantástica que faremos, se pudermos abrir espaços internos no mais dentro de cada um.

Isso nos possibilitará dar maior expressão à amorosidade, à amizade, aos entrelaces humanos tão dificultados pelo apressado e violento conviver contemporâneo. Em meio do burburinho consumista, o Natal, que significa nascimento, exige que nasçam em nós gestos de abertura. Gestos de olhar em volta, de afagar a realidade que nos cerca, para poder transformá-la.

Começamos a combinar os encontros, as confraternizações de fim de ano. Aproprio-me da expressão "Abra espaços dentro de você", para pensar um Natal de aberturas, que possa oxigenar conversações, atitudes, relações familiares, ações governamentais, os novos rumos do país.

É preciso abrir espaços para uma tolerância maior nas relações, sem o que mantém o estado de hostilidade e violência destrutiva, que tanto tem ferido a dignidade da vida e das pessoas. Um pouco de possível nos acordos humanos torna-se caminho de paz, clarão que permite ver a beleza do mundo.

É preciso abrir espaços para o perdão. A mágoa, a raiva, fazem muito mal, são maléficos à própria pessoa que as retém e aos outros com quem convive.

Perdoar é um gesto muito nobre, exige coragem e beleza interna de quem o faz. A cultura, em suas marcas de tola arrogância, não prestigia o perdoar, gesto tão construtivo do bem-estar humano. Sinto um enorme desejo de felicidade.

É preciso abrir espaços para os sentimentos, e de fato (con)fraternizar, não apenas trocar presentes. Confraternizar é um ato de vontade de ser irmão, de fraternar, de acolher, de ser amigo. O presente que damos deve ser um recado ao outro, uma declaração de afeto por ele. Uma metáfora de bem querer. Sem isso, o Natal torna-se mero consumismo.

É preciso abrir espaços para a paz, tirar o dedo do gatilho da impulsividade e desafiar a própria capacidade de conviver com o outro e com as situações difíceis. Não há vitória sem superação de si mesmo. A vida fica insuportável se não mantivermos o entusiasmo por alguma dimensão construtiva.

É preciso abrir espaços para o bem. Temos apetite para produzir o bem como para produzir o mal, cabe-nos direcioná-los. Há um quê de inesgotável na capacidade humana de promover a dor, a alegria e o bem-estar. A gente é jardineiro quando não pode ser flor. É assim que o bem fica possível. Somos criaturas e não deuses, mas cabe-nos dar feitio ao mundo que queremos para nós, para nossos filhos e para os outros.

O que permanece e dura é apenas aquilo que tem razões para recomeçar. A vida pode e deve continuar sendo uma obra de arte, onde cada um de nós põe o melhor de si mesmo. Se eu fosse Papai Noel diria: Um Natal de abertura para todos! n

 

Foto do Zenilce Bruno

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?