
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
É como um traço (e)terno na finitude que a sexualidade se faz presente na experiência humana, desde o nascimento até sua morte. Uma dimensão da existência que não tem idade, que está presente em todo o viver. A cada etapa do desenvolvimento pessoal, correspondem formas próprias de expressão, porque somos seres em contínua transformação. O próprio corpo não é estático e atua sempre como um processo. O corpo é histórico, é como um arquivo, seja de experiências positivas, de registros que nele se inscrevem pela vida, seja de traumas. Por isso a sexualidade deve ser compreendida na temporalidade, no fazer-se sempre que caracteriza o humano.
A sexualidade da criança revela-se em seu contexto infantil, na experiência de um prazer sem consciência do sentido, mas fazendo um registro profundo de sensações que a memória do corpo não esquece. Isso alicerça uma espécie de certeza de "algo bom", ou de "algo negativo", que se cola à pele e a torna responsiva ou não ao toque, ao afago, à carícia.
Essas impressões primeiras fazem eco na forma como vivemos a sexualidade adulta. Já para o adolescente, a sexualidade é descoberta de grandes sensações e emoções. Uma sexualidade que, acima de tudo, atende aos gritos do corpo que se encontra em plena expansão hormonal. Torna-se exigência biológica de troca, de fusão, de interação com o outro, com quem possa partilhar sensações e emoções. Na adolescência, também o sexo é vivido como afirmação do tornar-se homem e mulher.
O amadurecer pode trazer limitações físicas, mas não deve limitar a qualidade de vida, pois se o espírito for estimulado, florescerá continuamente, refletindo-se na expressividade corporal. A sexualidade humana, em qualquer idade, terá de ser sempre uma invenção do espírito, um desafio à própria finitude. Sem essa dimensão, ela pode perder-se na mesmice, na exigência da performance e não encontra sua vocação maior, ou seja, a descoberta de algo mais, do mais além de nós mesmos. Essa dimensão será possibilitada pelo afeto, caminho que descobrimos de tornar o outro especial.
A sexualidade na terceira idade pode ter uma grife da sabedoria, que não deve deixar-se perturbar por possíveis entraves corporais em seu natural processo de amadurecimento. "Tudo que for flexível e fluente tende a crescer, tudo o que for rígido e bloqueado definha e morre", pensa Tao Te Ching. Se conquistarmos tal flexibilidade, estaremos aptos a viver uma idade madura bonita, com características de sabedoria, serenidade, paz do dever cumprido e alegria de manter-se em alta estima.
À medida que amadurecemos compreendemos que o sexo não é só resposta do corpo, mas também do espírito, da criatividade humana. Somos uma cultura que supervaloriza o desempenho sexual. Uma espécie de sexo triunfal, afirmação mais que encontro. Teremos que compreender, sim, que a relação amorosa e sexual se funda no desempenho, como base, mas sabendo-se que isso não é tudo. É apenas a base. A construção maior da experiência sexual se dará pela inventividade dos parceiros, pela troca de sensações, que será tanto maior, quanto maior for a partilha da vida como um todo. n
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.